Relatório divulgado pelo Centro de Investigação

Falhas humanas, aliadas às más condições climáticas, foram responsáveis pelo acidente que matou Eduardo Campos e outras seis pessoas que estavam com ele no avião que caiu em uma área residencial de Santos, no litoral paulista, em agosto de 2014.

É o que consta no relatório divulgado pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), órgão da Força Aérea Brasileira (FAB), nesta terça-feira (19), em coletiva de imprensa em Brasília. A conclusão foi elaborada por 18 especialistas, baseados na análise do conteúdo das caixas-pretas da aeronave e em vídeos obtidos durante a investigação.

Os familiares das vítimas foram os primeiros a terem acesso ao documento, no início da tarde. Além de Campos, morreram no acidente o assessor de imprensa do então candidato à presidência pelo PSB, Carlos Percol; o assessor Pedro Valladares Neto; o cinegrafista Marcelo Lyra; o fotógrafo Alexandre Severo; o piloto Marcos Martins; e o copiloto Geraldo M. P. da Cunha. 

De acordo com o documento, gravações de voz do piloto Martins evidenciam que ele estava cansado no voo que se acidentou. “Pela primeira vez no Brasil, foi usado um sistema para verificar a voz do piloto e foi percebido fadiga e sonolência”, explicou o Tenente-Coronel Raul de Souza, durante a apresentação do relatório.

O Cenipa afirma que, na semana anterior ao acidente, entre os dias 1º e 5 de agosto, tanto piloto quanto co-piloto feriram a Lei do Aeronauta ao não descansarem por um período de 12 horas entre um voo e outro, o que pode ter ocorrido novamente na manhã do acidente. A aeronave se chocou com o solo a 694,5 km/h.

Também colaborou para a tragédia o que é chamado na aviação de “desorientação espacial”, fenômeno caracterizado por ilusões que pilotos têm durante o voo – como direção, altura, entre outros –, responsável por mais de 10% dos acidentes aéreos, segundo levantamentos.

As condições metereológicas, a possível alteração das habilidades física e mental do piloto – pelo fato de transportarem uma personalidade pública –, variações na velocidade e a alternância do voo visual para o voo por instrumentos foram alguns dos fatores responsáveis pela desorientação.

“Em algum momento, a tripulação perdeu o controle da aeronave enquanto voava em condições de voo por instrumento”, argumentou o tenente-coronel. “[A pessoa não sabe se] olha para fora ou para dentro, se volta para instrumentos, se está subindo ou descendo.”

A aeronave chegou a tentar pousar em uma pista de aeroporto, que estava molhada, mas os pilotos não conseguiram estabilizá-la e arremetaram, o que pode ser explicado pela desorientação espacial.

Outro problema apontado pela investigação são documentos que mostram que o co-piloto Geraldo M. P. da Cunha não tinha treinamento para pilotar o Cessna 560XL, procedimento obrigatório. Isso impediu que ele assumisse o comando da aeronave diante do cansaço de Martins, que ainda teria reclamado da postura profissional de Cunha semanas antes da tragédia.

Tragédia na política

O acidente ocorreu na manhã de uma quinta-feira, 13 de agosto, em data em que Campos cumpriria agenda de campanha na cidade litorânea, com compromissos ao longo de todo o dia. Na ocasião, o político despontava como forte nome na disputa presidencial, na qual aparecia, ao lado de sua então vice Marina Silva, como uma terceira via aos eleitores em um pleito com Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) como principais candidatos.

Chovia muito no momento do acidente. De acordo com testemunhas, uma bola de fogo se formou em torno do avião antes de sua queda, no quintal de uma casa abandonada no bairro do Boqueirão, na região leste de Santos. No total, dez pessoas que estavam em solo ficaram feridas. A investigação descartou a hipótese de fogo na aeronave, voo de cabeça para baixo e colisão em voo como motivos para a tragédia.

Campos morreu exatamente na mesma semana em que completou 49 anos. Dias antes, pesquisa elaborada pelo Ibope mostrava o candidato do PSB com 9% das intenções de voto – bem atrás de Dilma, então com 38%, e de Aécio, com 23%.

Sua morte levou o cenário eleitoral a esquentar, com Marina assumindo a candidatura e, na sequência, chegando à segunda posição nas pesquisas, de acordo com o mesmo instituto, com 21% dos votos. Na reta final, no entanto, o tucano recuperou o eleitorado e acabou indo ao segundo turno contra a petista, com um total de 33,5% dos votos.