Presos da Lava Jato tinham celular e comida diferenciada na sede da PF

Depoimentos revelam mordomia para envolvidos no esquema da Petrobras

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Depoimentos revelam mordomia para envolvidos no esquema da Petrobras

O Supremo Tribunal Federal liberou os depoimentos de dois delatores do esquema de corrupção na Petrobras: o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef. Além dos nomes, há informações que o repasse de propina para o Partido Progressista chega a R$ 4 milhões por mês.

Os depoimentos revelam ainda as mordomias na cadeia para os presos da Operação Lava Jato. No depoimento do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa ele contou que a comida diferenciada na prisão da Polícia Federal em Curitiba era financiada pelo doleiro Alberto Youssef, que mantinha dinheiro em espécie dentro da cadeia.

Enfim os depoimentos foram liberados e trazem detalhes curiosos: o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa relatou à Justiça fatos da época que esteve preso na Polícia Federal de Curitiba.

Ele contou que viu um celular na cela três da carceragem, ocupada pelo doleiro Alberto Youssef, quem teria providenciado o telefone. Admite que ele, Costa, chegou a usar o aparelho duas vezes para falar com família. A refeição também era diferenciada: contou que certa vez a comida entregue foi costela. Quem pagava a conta? Youssef, o único que possuía dinheiro em espécie dentro da custódia.

Os depoimentos trazem também detalhes anteriores às prisões, quando a propina corria solta. O doleiro Youssef conta que disponibilizava valores para o PP, Partido Progressista. Ele diz que o partido tinha que arrecadar entre R$ 3 a R$ 4 milhões por mês. Esses pagamentos, afirma, tinham por objetivo influenciar os parlamentares nas decisões políticas que eram tomadas na votação de projetos de lei que fossem de interesse do Poder Executivo.

Youssef conta ainda que havia entrega de dinheiro em locais variados: hotéis, escritórios e até no apartamento funcional da Câmara, em Brasília, onde houve o pagamento de R$ 1,620 milhão para o ex-deputado petista André Vargas, que teve o mandato cassado no ano passado.

A Polícia Federal começa a receber nesta terça (10) os primeiros pedidos de diligências relacionados aos 25 inquéritos abertos contra políticos. O primeiro a chegar deve ser o da ex-governadora do maranhão Roseana Sarney. A maioria inclui depoimentos dos suspeitos e de testemunhas. No caso dos parlamentares, eles podem escolher dia, hora e local que vão falar. As equipes da polícia nos estados já foram reforçadas.

Também há uma expectativa em relação aos pedidos de abertura de inquérito contra governadores, que terão que ser feitos pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Nesses casos, a responsabilidade é do Superior Tribunal de Justiça, o STJ, e os depoimentos liberados levantam a suspeita de participação do governador do Acre, o petista Tião Vianna. Segundo o ex-diretor da Petrobras, ele recebeu R$ 300 mil para a campanha ao Senado, em 2010.

Paulo Roberto Costa conta que, no mesmo ano, ajudou a captar dinheiro pra outra campanha: do então governador do Rio, Sérgio Cabral, que tinha como vice Luiz Fernando Pezão, o atual governador, que se defendeu. “Eu tenho tranquilidade de que não recebi nenhum recurso, não tive ajuda de campanha. Não pedi e não tive conversa nenhuma nem com o doutor Paulo Roberto nem com ninguém da Petrobras para pedir ajuda de campanha”, disse Pezão.

Mas Costa deu detalhes: disse que se reuniu com Cabral, Pezão e Regis Fishner, na época chefe da Casa Civil, para tratar da ajuda financeira. Foram R$ 30 milhões para o caixa dois. O maior pagador foi o consórcio formado por OAS, Odebrecht e UTC: deu R$ 15 milhões.

O ex-governador do Rio Sérgio Cabral disse que a afirmação de Paulo Roberto Costa é mentirosa e que a reunião entre eles jamais aconteceu. Cabral disse ainda que nunca pediu apoio de Paulo Roberto Costa à reeleição e que todas as prestações foram aprovadas pelas autoridades competentes.

O ex-secretário Regis Fischner disse que nunca participou de reunião com Paulo Roberto Costa e representantes de empreiteiras para arrecadação de campanha. E que vai tomar as medidas cabíveis contra o que ele chamou de mentiras de Paulo Roberto Costa.

O governador do Acre, Tião Viana, afirmou que a doação na campanha de 2010 foi legal e aprovada pela Justiça Eleitoral.

A UTC não se manifestou. A OAS e a Odebrecht negam as alegações. A Odebrecht afirmou ainda que não fez qualquer pagamento ou depósito em conta de qualquer executivo ou ex-executivo da Petrobras.

Os investigados do PP – Partido Progressista –  negam participação no esquema.

O ex-deputado André Vargas não atendeu as ligações.

O Palácio do Planalto não quis se manifestar.

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lula