De Conti acha que a escolha de uma pessoa já ligada a uma estatal e próxima do Palácio do Planalto

A escolha do atual presidente do Banco do Brasil, Aldemir Bendine, para a presidência da Petrobras, em substituição a Graça Foster, pretende resolver de forma emergencial os problemas enfrentados pela companhia para fechar o balanço do último trimestre,  avalia o professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Bruno De Conti.

“Ele não é um nome alinhado ou que tenha experiência na área de petróleo, gás e energia. Fica muito claro que a escolha dele tem um componente emergencial, que dá um jeito na questão do balanço. A experiência que ele tem é do Banco do Brasil”, analisa o professor da Unicamp a respeito da mudança de comando na empresa petrolífera brasileira.

Na última quarta-feira, a Petrobras divulgou – após dois adiamentos – o balanço do último trimestre da companhia. O documento, no entanto, foi publicado sem passar por uma auditoria independente e não trouxe as perdas da empresa em decorrência da corrupção.

“Nesse sentido, é um nome que é funcional para o curto prazo. Não é um nome que vá olhar para o futuro da Petrobras no médio e longo, prazo. Não sei se é uma pessoa que tem cacife para isso. Não é o perfil, pelo menos. Eu acho que a escolha tem mais esse imediatismo de resolver o problema maior e emergencial dos balanços”, diz o professor.

De Conti acha que a escolha de uma pessoa já ligada a uma estatal e próxima do Palácio do Planalto, é positiva, tratando-se de uma empresa pública “Sendo uma empresa pública, me parece razoável que seja uma pessoa alinhada aos projetos do governo [o novo presidente] e me pareceria estranho o contrário”.

“Eu tive medo de que entrasse alguém com perfil que pudesse, eventualmente, em um futuro próximo, tentar mexer no sistema de partilha do Pré-Sal, mudar para concessão, ou que pudesse se esforçar para mudar as regras de conteúdo nacional da Petrobras, que na minha opinião são importantes e que devem ser mantidas”, acrescenta o professor.

Para o professor da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da Universidade de São Paulo (USP), Paulo Roberto Feldmann, os nomes dos escolhidos para a diretoria da companhia não merecem tanta relevância na análise do momento.

“Eu acho que os nomes não são muito importantes. O que importa nesse caso é a vontade da presidenta Dilma de forçar a investigação correta do que aconteceu, e impor medidas para que não venham a ocorrer novamente”, diz Feldman,

Para o professor, a liberdade do novo presidente para poder corrigir os problemas enfrentados pela empresa é o que importa no momento. “Tem que estar claro para todo mundo que a pessoa tem que receber o poder da presidenta para executar as mudanças que tem de ser executadas. São mudanças muito duras e amargas. Só mesmo se houver um respaldo forte da presidente Dilma, ele vai conseguir fazer o que tem de ser feito”, disse.

Sobre o comportamento ruim do mercado diante da escolha dos novos nomes, o professor ressalta que a BM&F Bovespa tem a característica de ser muito especulativa, e não pode ser considerado um bom “termômetro” de avaliação.

“O mercado tem realmente esse estereótipo. O mercado queria que fosse um grande executivo de uma grande multinacional, ou de uma grande empresa privada. Não acho que isso seja necessário. O mercado se frustrou por causa disso. A Bovespa é uma coisa extremamente especulativa. Acho que também não é um bom balizador para se saber se a decisão da presidente foi boa ou ruim”.