Brasileira quer que filho deixe a Síria para cumprir pena

Brian de Mulder foi condenado a cinco anos de prisão por integrar o grupo terrorista Estado Islâmico

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Brian de Mulder foi condenado a cinco anos de prisão por integrar o grupo terrorista Estado Islâmico

A brasileira Rosana Rodrigues, mãe do jovem Brian de Mulder, condenado pela Justiça belga por associação ao terrorismo, pediu que autoridades o busquem na Síria para que ele cumpra sua pena.

De Mulder, de 21 anos, está na Síria desde janeiro de 2013, onde acredita-se viver com a mulher e o filho. Ele foi condenado à revelia nesta quarta-feira a cinco anos de prisão por integrar um grupo terrorista – o autodenominado ‘Estado Islâmico’ – e ameaça de ataques terroristas na Bélgica.

“O que eu quero é meu filho de volta, que a Justiça belga tire ele da Síria para cumprir essa pena. Mas isso eles não vão fazer”, disse em entrevista à BBC Brasil depois da leitura da sentença.

“Para mim podia ser cinco como 10 anos de prisão. Prefiro meu filho preso aqui que combatendo na Síria”. Ele também terá que pagar uma multa de 2,5 mil euros (cerca de R$ 7,9 mil).

O jovem foi um dos 46 acusados num processo movido contra o antigo grupo extremista Sharia4Belgium. Apenas oito dos acusados estiveram presentes no julgamento, realizado na Antuérpia. Os demais estariam lutando na Síria ou já teriam morrido.

O juiz do caso considerou o grupo uma “organização terrorista” e seu líder, Fouad Belkacem, foi condenado a 12 anos de prisão por recrutar e doutrinar jovens que depois se uniriam ao ‘Estado Islâmico’.

Rosana Rodrigues considerou insuficiente a pena pronunciada contra Belkacem, a quem acusa de ter “destruído a vida” de seu filho e sua família.

“Isso é como um filme que a gente já conhece o final. Irão diminuir os anos (da pena) e (Belkacem) vai acabar solto. Mas eu perdi minha vida”, disse.

O tribunal desconsiderou um pedido de indenização por danos materiais e morais introduzido pelos advogados de Rosana argumentando que, apesar de ter sido influenciado pela organização à qual pertencia, De Mulder viajou à Síria por decisão própria.

Cerca de 350 belgas teriam viajado à Síria e ao Iraque para lutar, disseram autoridades. Segundo elas, 10% dos belgas teriam ligações com o Sharia4Belgium, que pregava a instauração da lei islâmica no país europeu.

Procuradores disseram que Belkacem fez uma “lavagem cerebral” em jovens europeus para convencê-los a lutar no Oriente Médio.

Agências de segurança europeias temem que jihadistas que retornam destes países realizem ataques contra alvos domésticos.

‘Não acredito’, diz pai
De Mulder foi descrito como um jovem de educação católica, jogador de futebol, bom aluno e filho obediente, que nunca teve problemas com drogas ou com a polícia.

Ele se converteu ao islamismo em 2010 após ter sido dispensado pelo time de futebol no qual jogava. Morava com a mãe, o padrasto e a irmã mais nova numa ampla casa antes de viajar à Síria.

O pai do jovem, o belga Stephen De Mulder, disse que o filho saiu sem dizer adeus. “Para mim, ele continua no meu coração. A mesma pessoa”, disse à BBC antes do anúncio da sentença. “Eu não conseguia acreditar (que era ele)”.

Perguntado se acreditava que o filho deveria ser condenado à prisão, ele disse: “Não. Você consegue provar que ele fez alguma coisa errada? Tem fotos disso? Primeiro, você tem que provar isso”.

Outro caso que recebeu destaque no julgamento foi o de Jejoen Bontinck, de 20 anos. O pai dele, Dmitri, viajou à Síria para trazê-lo de volta para casa. A família disse que ele foi “aliciado” pelo grupo Sharia4Belgium e negou que o jovem fosse uma ameaça à segurança.

Antes do julgamento, Dmitri disse a repórteres: “Eu não fui à Síria e tirei meu filho de lá para vê-lo ser jogado numa prisão aqui”.

Segundo ele, o grupo atraiu jovens em momentos conturbados da adolescência – no caso de Jejoen, um romance mal-sucedido.

 

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