Conselho Indigenista Missionário

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Conselho Indigenista Missionário () em reunião extraordinária nesta segunda-feira (25/4) ouviu quatro depoentes. Foram ouvidos o coordenador do Distrito Sanitário Especial Indígena de Mato Grosso do Sul (Dsei- MS), Lindomar Ferreira, o cacique da Aldeia Ipegue, Ramiro Luiz Mendes, e os indígenas Enedino da Silva e Mauro Paes. Lindomar Ferreira que também conhecido por Lindomar Terena pela comunidade indígena mora na Aldeia Cachoeirinha que fica no município de Miranda e atualmente exerce a função de coordenador do Distrito Sanitário Especial Indígena de Mato Grosso do Sul (Dsei- MS), que admitiu estar no cargo por indicação das lideranças indígenas. Declarou já ter ouvido falar no Cimi, mas que não trabalhou no Cimi e nunca teve nenhum vínculo com o mesmo.

“Acho que nasceu para fazer a defesa dos direitos dos povos indígenas”, disse Lindomar. Lindomar é membro do Conselho terena e quando questionado quem financia o Conselho terena, respondeu que ninguém. “Não é financiado por ninguém, ele é formado pela comunidade indígena. Algumas entidades apóiam. O Cimi já apoiou”, afirmou. “Os acentos principais do Conselho são dos caciques. Caciques que são escolhidos pela comunidade indígena. A criação do Conselho é do próprio povo que decidiu ter uma representação para brigar pelos nossos direitos”, complementou Lindomar. Contou que o seu primeiro contato com o Cimi foi em 2005 e que na época o Cimi Mato Grosso do Sul, estava com outras pessoas, não eram os atuais missionários que estão agora. Já quando questionado qual a atuação do Cimi dentro da comunidade que faz parte falou não saber.

“Não conseguiria te responder isso. Na verdade o Cimi não tem uma atuação direta dentro da comunidade, ele só vai quando nós o convidamos. Quando necessitamos de alguma orientação e solicitamos. E eu discordo que o Cimi incita a invasão porque quem toma a decisão sobre a retomada é a própria comunidade indígena. São decisões exclusivas nossas”, assegurou o depoente. O segundo a ser ouvido na oitiva desta tarde foi o cacique da Aldeia Ipegue, Ramiro Luiz Mendes. A aldeia fica no município de Aquidauana. Ramiro contou que nasceu na aldeia e mora lá ate hoje, explicou também que o mandato de um cacique é de quatro anos e que a escolha é feira pela comunidade indígena e que atualmente são 74 caciques no Mato Grosso do Sul. Ao relatar como ouviu falar e o qual a atuação do Cimi na sua aldeia ele declarou ser uma questão confusa.

“Algumas vezes que o Cimi esteve presente na aldeia ele aparece meio que camuflado, escondido. Não tem feito um comparecimento correto. A atuação do Cimi nas aldeias é muito confusa, às vezes apresentando projetos na comunidade indígena, vezes incentivando, fazendo comentários que determinadas áreas da fazenda seriam de posse da comunidade indígena. Enquanto cacique eu não sou contra a retomada das terras, mas que seja da forma correta. O Cimi sempre se comprometeu em fazer projetos onde ele ia ajudar a custear, mas quero declarar que nada foi feito. Os recursos nunca de fato chegaram para as comunidades indígenas”, denunciou o cacique. “Desconheço qualquer projeto que o Cimi desenvolva dentro da comunidade indígena, mas houve promessas de que seriam realizados cursos de capacitação”, acrescentou o cacique. E declarou ainda que foi feito um documento, na região de Aquidauana e Buriti, não autorizando o conselho falar em nome destas regiões. E ainda ressaltou que não houve consulta para a indicação do Lindomar Ferreira para ser coordenador do Dsei-MS.

“E se houvesse consulta, o Lindomar não seria aprovado. A indicação dele foi política”, informou. Quando questionado se havia divisão entre os terenas respondeu positivamente.“Sim existe. A maioria dos caciques não concorda com a questão do Conselho terena e não participam mais  do Conselho pelo motivo que alguns se beneficiam da desgraça das comunidades indígenas, no sentindo de ganância. O trabalho do Conselho não é benéfico para as comunidades”, avaliou o cacique.

 “Quem decidem que vão entrar nas áreas são os índios. Não aceito é que alguém venha fazer esse tipo de trabalho, tentando dizer, mostrar as vantagens que teríamos caso nos apropriasse do local, oferecendo alimentação, barraco, e assessoria jurídica”, complementou. Já o terceiro depoente foi Enedino da Silva que desde que nasceu mora na Aldeia Bananal, que também fica no município de Aquidauana. Já foi cacique por oito anos e no período de 1997 a 2000 foi vereador em Aquidauana. Disse que entende que o trabalho do Cimi seria dar apoio as comunidades indígenas e falou que no decorrer do tempo que foi cacique viu que há alguns elementos do Cimi se usam para seu benefício. ”Não tem nada de concreto. Não há nenhum trabalho do Cimi nas comunidades indígenas. Fazer coisas para a comunidade não consegui ver. Nenhum projeto chegou na minha comunidade”, falou Enedino em relação ao trabalho do Cimi dentro das comunidades. E declarou no depoimento que não participou do Conselho Terena.

“Não participei do conselho, mas eu sou contra porque o conselho terena veio para beneficiar umas pessoas. Não tem o motivo porque organizar outra organização se já tem o cacique. O Conselho tem participação e é influenciado pelo do Cimi”. E ainda desabafou ‘o Cimi tem que orientar melhor o indígena, dar apoio e não para criar divisões entre os patrícios, isso sim é muito errado”. Para encerrar os trabalhos da tarde da Comissão que investiga o Cimi, quanto a denúncias de incitação de conflitos por terras em Mato Grosso do Sul entre indígenas e proprietários rurais foi ouvido Mauro Paes, da Aldeia Esperança que está localizada no município de Aquidauna. Mauro já foi cacique por três mandatos na aldeia que reside. Mauro assim como os dois depoentes que o antecederam declarou não ser a favor do Conselho Terena.

“O Cimi tem um papel no Conselho que não deveria ter”, declarou. E ainda complementou desconhecer qualquer projeto que o Cimi desenvolva dentro das comunidades indígenas. A Comissão é composta pela presidente deputada Mara Caseiro (PSDB), vice-presidente, deputado Marquinhos Trad (PSD) e o relator deputado Paulo Corrêa (PR). Ainda são membros os deputados Onevan de Matos (PSDB) e Pedro Kemp (PT). A próxima reunião que deve ser a última oitiva está marcada para quarta-feira (27/4), a partir das 14h, no Plenário Deputado Júlio Maia da Casa de Leis. Já o prazo para a entrega do relatório final é 11 de maio.