Internada há seis meses após afogamento, menina de 3 anos pode ter alta do HU

Família aguarda aparelhos para seguir tratamento em casa

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Família aguarda aparelhos para seguir tratamento em casa

A família da menina de 3 anos que no dia 20 de agosto de 2016 sofreu afogamento num açude na zona rural de Dourados, distante 228 quilômetros de Campo Grande, vive agora a expectativa de poder leva-la de volta para casa, no Parque das Nações II. Após ser ressuscitada por socorristas, a criança já está há seis meses internada no HU-UFGD (Hospital Universitário da Universidade Federal da Grande Dourados), onde chegou a ficar 20 dias em coma induzido na UTI (Unidade de Terapia Intensiva).

No dia 31 de janeiro, audiência de conciliação mediada pelo juiz Zaloar Murat Martins de Souza, da Vara da Infância e da Juventude da Comarca, estabeleceu prazo de 40 dias para a Prefeitura de Dourados licitar os equipamentos necessários para a criança poder ter alta e continuar o tratamento na própria residência, ao lado da família.

ALTA MÉDICA

De acordo com o Termo de Audiência ao qual o Jornal Midiamax teve acesso, nessa ocasião, diante da preocupação manifestada pelo secretário municipal de Saúde, Renato Oliveira Garcez Vidigal, sobre os riscos de desinternação da paciente e se a pessoa que iria operar os equipamentos possui a qualificação necessária para tal, o médico Paulo Serra Baruk, responsável pela Unidade de Atenção à Saúde da Criança e do Adolescente do HU-UFGD, afirmou que a criança possui capacidade para ter alta da internação e que sua genitora recebeu toda a capacitação para a operacionalização dos equipamentos.

Também na audiência, o médico informou que o desfibrilador não faz mais parte do rol dos equipamentos a serem fornecidos. Isso porque a lista de aparelhos apresentada na audiência anterior, do dia 26 de janeiro, pela médica Ana Paula Cicci, foi reduzida. Serão necessários aspirador cirúrgico portátil, umidificador, oxímetro de mesa infantil com alarme, nobreak, colchão Bio Air, e ressuscitador manual infantil tipo ambu com chicote para a criança seguir o tratamento em casa.

MILAGRE

Uma tia da menina disse ao Jornal Midiamax que a família vive um misto de alegria e angústia. Enquanto os equipamentos não são disponibilizados, a criança, que completará 4 anos de vida em junho, segue internada e exposta aos riscos de um hospital. “Ela tem estímulos com as mãos, aperta a nossa mão e pisca quando a gente pede. É um milagre, porque ela chegou a ficar 1 hora e 45 minutos sem vida e tinha 78% de chances de morrer”, explica a tia.

Procurada, a assessoria de comunicação do HU-UFGD não confirmou essas evoluções no quadro clínico da paciente e informou que ainda vai inteirar-se desse caso.

Para a família da pequena, no entanto, essa história é repleta de milagres. O primeiro foi o salvamento da criança, que no dia 20 de agosto de 2016 sofreu afogamento num açude no Potreirito, zona rural do município. Familiares a tiraram da água e acionaram o socorro. Daí em diante, o emocionante relato do bombeiro militar Allisson Petrini, moto socorrista do 2º GBM (Grupamento de Bombeiros Militar) que prestou os primeiros socorros à vítima, dá uma boa dimensão do ocorrido.

SOCORRO RÁPIDO

Dois dias após a ocorrência, o militar informou nas redes sociais que soube da ocorrência pelo sistema de rádio da corporação e pediu aos superiores para ajudar no resgate. Petrini partiu na companhia do soldado Marcos Antonio Tomaz em direção ao local do afogamento. No caminho de aproximadamente 25 quilômetros, as duas motocicletas conduzidas pelos bombeiros ultrapassaram a viatura de resgate enviada anteriormente. Nas proximidades da casa em que estava a criança, em meio ao lamaçal, foram guiados por um familiar da vítima até o local onde estava a menina, já desacordada.

“Devido a estrada lamacenta, os MOB´s (Moto Operacional Bombeiro) foram os primeiros a chegar ao local e eu fui o primeiro a ter contato com a vítima, que se encontrava a beira do lago, com certeza retirada por familiares, nesse momento no colo do avô, o clima estava muito tenso, todos chorando desesperados, me lembro de alguém que me pediu para fazer ela respirar novamente, pedi para o avô deixar ela aos meus cuidados, tirei o capacete, as luvas de motoqueiro, Nesse momento eu acionei o cronômetro de um dos meus relógios (eu uso dois, um em cada punho), e comecei a manobra de ressuscitação, realizando massagem cardíaca e respiração boca a boca, a pequena criança estava, gelada, cianótica, pupilas dilatadas, sem pulso, com ausência de movimentos respiratórios e conforme eu ia realizando a massagem muita espuma e conteúdo estomacal saia da boquinha e nariz da mesma, devido a aspiração de liquido, quando se afogou”, narrou Petrini.

LUTA PELA VIDA

“Não desisti, continuei com as massagens e com a respiração boca a boca, na hora lembrei-me dos meus filhos que estão quase na mesma idade que a menina e falei baixinho ‘volta para tio, volta’, em seguida a UR chegou, comecei a revezar a massagem com o 3º SGT BM Joao Olimpio Martins e continuei fazendo a respiração boca a boca, enquanto isso outros integrantes da equipe (SD Adriene Ribas – Drika BM, SD Tomas e SD Janaina) já se preparavam para iniciar o transporte imediato da vítima para a unidade hospitalar, cheguei a cogitar de deixar minha moto na propriedade e voltar junto com a unidade de resgate, porém decidimos ir na frente abrindo o trânsito para facilitar e agilizar a passagem da UR”, prosseguiu o militar.

No caminho até o HV (Hospital da Vida), uma viatura do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) com suporte avançado de socorro interceptou os bombeiros para auxiliar no resgate.

CORAÇÃO VOLTOU

“Já na unidade hospitalar, com o empenho de todos: médicos, enfermeiras, Bombeiros e SAMU, o coração da pequenina voltou a bater e por recompensa dos esforços, nas minhas mãos, olhei para o meu pulso, no cronometro marcavam mais de 45 minutos desde o primeiro contato com a vítima em óbito, da primeira massagem e respiração boca a boca, ela voltou literalmente nas minhas mãos. A equipe toda vibrou de emoção, me emocionei, abracei os companheiros de serviço (confesso que vi algumas lágrimas), lembrei-me dos meus filhos e agradeci a Deus pela profissão maravilhosa que me deu”, celebrou o socorrista em seu relato.

E na porta do Hospital da Vida, pouco antes de a criança ser transferida para o HU, o bombeiro que prestou os primeiros socorros encontrou o pai da menina. “Sorri para ele e dei a notícia que tanto esperava, a pequenina havia voltado a vida, o mesmo levantou rápido, me abraçou, agradeceu, choramos juntos e eu lhe disse: ‘O melhor obrigado do mundo que eu poderia receber hoje, foi sentir na ponta dos meus dedos aquele coraçãozinho batendo novamente’”, revelou.

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