Pílula ‘funciona’ mesmo depois de mulher deixá-la

Na década de 1950, o endocrinologista Gregory Pincus e o ginecologista John Rock iniciaram testes com um medicamento que revolucionou a forma como a mulher se relaciona com a própria sexualidade: a pílula anticoncepcional. Inicialmente, a ideia era apenas impedir a gravidez.

Mas estudos conduzidos nos anos seguinte revelaram mais sobre os efeitos da substância: além de aliada da independência feminina, o remédio que chegou ao mercado em 1960 trouxe benefícios extras à saúde, como o alívio dos sintomas do ovário policístico.

Um dos mais recentes trabalhos nesse diz que a pílula também protege contra o câncer de endométrio até mesmo depois que as mulheres deixam de usá-la. Especialistas, porém, ressaltam que a ingestão dela, com efeitos negativos também comprovados, demanda orientação médica.

A recente descoberta, detalhada na última edição da revista The Lancet Oncology e resultado de uma colaboração internacional de pesquisadores, é uma notícia especialmente boa para mulheres que fazem — ou estão prestes a fazer — parte da população idosa: raro em jovens, o câncer endometrial se torna frequente à medida que a idade avança.

Para investigar a associação entre a ingestão de contraceptivos orais e o risco para a doença, os autores reuniram e analisaram 36 estudos epidemiológicos, totalizando dados de 27.276 casos de câncer endometrial. A idade média das mulheres estudadas foi de 63 anos.

Os pesquisadores notaram que, quanto maior o tempo de uso de anticoncepcionais orais, maior a redução no risco de câncer de endométrio. Para se ter uma ideia, cinco anos de ingestão estão associados à redução de um quarto nas chances de a mulher desenvolver a neoplasia. E mais: o efeito protetor persiste por mais de 30 anos após a medicação ser interrompida.

“O forte efeito protetor dos contraceptivos orais contra o câncer de endométrio e que persiste por décadas após a interrupção da pílula indica que as mulheres que o usaram na faixa dos 20 anos ou até mais jovens continuam a se beneficiar em seus 50 anos ou mais, quando a doença se torna mais comum”, observa Valerie Beral, principal autora do estudo e docente da Universidade de Oxford, no Reino Unido.