O Detran-MS (Departamento Estadual de Trânsito de Mato Grosso do Sul) recuou sobre informações do servidor Thiago Augusto Zanato Sandim. Anteriormente, disse que Thiago respondia procedimento administrativo. Agora, o órgão alegou que o servidor nomeado para chefiar o setor de controle de veículos assinou “apenas um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta)”.
Peça central nas investigações que revelaram esquema de fraudes no órgão, Thiago não responde por processo administrativo disciplinar. É o que garante o Detran-MS na tarde desta quarta-feira (26), um dia após afirmar que o servidor era investigado internamente.
“Com relação ao pedido da nota sobre o processo administrativo acerca de Thiago Augusto Zanato Sandim, esclarecemos que, após verificação interna, não há nenhum Processo Administrativo Disciplinar em desfavor do servidor”, afirmou o Detran-MS em nota ao Midiamax.
TAC
Thiago é assessor direto de Priscila Rezende de Rezende, prima do deputado federal Beto Pereira (PSDB). Ele teve sua senha funcional utilizada pela servidora Yasmin Osório Cabral para retirar restrições de veículos do sistema em esquema.
O esquema levantou mais de R$ 2 milhões ao cobrar propina de proprietários de caminhões barrados pelo 4º eixo.
Conforme inquérito do Dracco (Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado), as investigações começaram após Thiago procurar a Corregedoria do Detran-MS para denunciar que teve senha funcional violada.
Então, o Detran-MS voltou atrás com a informação oficial. Então, destacou que o servidor precisou apenas se comprometer “a ter mais zelo e cuidado”.
“A corregedoria do Detran informa que o servidor assinou apenas um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) comprometendo-se ter mais zelo e cuidado com sua senha de acesso ao sistema”.
Participação do servidor
No primeiro e-mail, o Detran-MS garantiu que apuravam “a responsabilidade funcional” e que a Corregedoria “instaurou, desde o conhecimento dos fatos, procedimento administrativo em desfavor tanto do servidor Thiago Augusto Zanato Sandim”.
Contudo, no novo pronunciamento, o órgão ressaltou que o funcionário público ajudou na investigação, informação que o Jornal Midiamax já havia pontuado na reportagem anterior.
“O Delegado-Corregedor esclarece ainda que a investigação ocorreu em decorrência da denúncia do servidor, que foi fundamental para que todo esquema de fraude fosse descoberto, tanto pela Corregedoria de Trânsito do Detran-MS (COTRA) quanto pelo Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado (DRACCO), que ensejou, inclusive, a ordem de prisão judicial contra o despachante foragido”, disse na nota.
Em depoimento à polícia, ele contou que Yasmin pediu para ele auxiliá-la com um favor pessoal para consultar débito de um veículo de uma amiga.
Então, o servidor aceita utilizar sua função para fazer esse favor pessoal para Yasmin. Logo, diz que acessou o sistema com a senha dele no computador de Yasmin e que ‘deve ter esquecido’ o sistema aberto com o login dele.
Apesar de haver processo em ‘trâmite normal’ na corregedoria, portaria assinada pelo diretor-presidente do Detran-MS, Rudel Espíndola Trindade Júnior, designa Thiago para chefiar o setor, com efeitos a contar a partir de 24 de janeiro.
No entanto, o servidor nomeado ocupará o cargo comissionado em 13 de março. No inquérito policial, Thiago aparece apenas como testemunha.

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Substituto de Priscila Rezende
Assessor direto de Priscila Rezende, Thiago ocupou a diretoria da Dirve em duas ocasiões no ano passado, em virtude das férias da titular. Conforme consta em diário oficial, a primeira no período de 29 de janeiro a 16 de fevereiro e a segunda entre os dias 14 a 23 de outubro.

Conforme vídeo gravado pelo despachante David, o esquema de fraudes no Detran-MS teria a cúpula do PSDB como cabeças. Ele citou envolvimento do ex-prefeito – e ex-adjunto do órgão – Juvenal Assunção, e do deputado federal Beto Pereira, que é primo de Priscila.
Assim, afirmou que Beto teria articulado a nomeação da prima, que ocorreu pouco tempo após uma reunião entre os dois a qual ficou acertado o papel de cada um no esquema.
Segundo David, o papel de Priscila era proteger e garantir que o esquema seguisse sem problemas.

De acordo com David, Priscila seria uma das integrantes do esquema que supostamente teria recebido ‘blindagem’ em todas as investigações sobre as fraudes e corrupção no Detran-MS, pelo fato de ser parente de Beto Pereira.
Na época, a reportagem tentou obter pessoalmente o posicionamento de Priscila sobre a acusação. Na sede do Detran-MS, a equipe encontrou com Priscila. Porém, o diretor-executivo do órgão, João César Mattogrosso, interrompeu rispidamente a abordagem. Em seguida, a assessoria de comunicação pediu para que os dois diretores se retirassem.
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STJ mantém pedido de prisão contra despachante foragido
Há, contra o despachante um mandado de prisão preventiva, aquele que não tem data definida para expirar. Antes, os ex-advogados do foragido tentaram convencer o STJ (Superior Tribunal de Justiça) a revogar o pedido de prisão de David Chita, que negou o recurso. O despachante é tido como foragido desde o dia 12 de junho do ano passado.