Dentista famosa que deixou pacientes com boca torta e necrose em Campo Grande é alvo do MP

Indiciada pela polícia por exercício ilegal da profissão e lesão corporal grave, a dentista Iolanda Lídia Negrão também virou alvo do MPMS (Ministério Público de MS). Inquérito Civil vai apurar se a profissional possui habilitação e se “há respeito à saúde, segurança e vida dos consumidores”.

Conforme os autos, inquérito policial aponta que a odontóloga realiza procedimentos estéticos não autorizados pelo CFO (Conselho Federal de Odontologia) e pratica atos privativos de médicos.

Recentemente, Iolanda esteve envolvida em polêmicas que viraram caso de polícia como paciente que teve necrose no nariz após fazer rinoplastia com a profissional e outra ficou com a boca torta após passar por lipo de papada com a famosa dentista, que soma mais de 184 mil seguidores nas redes sociais.

Assim, o promotor de Justiça, Luiz Eduardo Lemos de Almeida, notificou a dentista a apresentar os seguintes documentos: registro profissional com habilitação em harmonização orofacial; conclusão de curso de especialização em harmonização orofacial; qualificação e registro de todos os demais profissionais que atuam na clínica; indicação e descrição detalhada de todos os procedimentos estéticos ofertados e realizados na clínica de Iolanda, informações se há ou não equipamentos para atendimento emergencial em caso de complicações, prontuários de pacientes atendidos durante todo o ano de 2024 e contrato social da empresa.

Então, o promotor pontua que “Há que se averiguar acerca das características de tais serviços prestados e reunir outros elementos, o que é de relevância para a proteção à saúde, segurança e vida dos consumidores“.

A reportagem solicitou posicionamento de Iolanda sobre o novo inquérito, mas não obteve retorno até esta publicação. O espaço segue aberto para manifestação. Em seu perfil, a dentista chegou a afirmar que estaria sofrendo ‘perseguição que atendia a interesses obscuros’.

Sobre os processos, a defesa da dentista já havia emitido nota, confira:

“A Dra. Iolanda possui especialização e é reconhecida pela excelência em seus procedimentos e pela dedicação em oferecer segurança e bem-estar aos seus pacientes. Seus resultados excepcionais são evidenciados pelas inúmeras manifestações de satisfação, apreço e carinho de seus pacientes. 

Esclarecemos que todos os procedimentos realizados pela Dra. Iolanda seguem rigorosamente os padrões éticos e legais, sendo previamente explicado aos pacientes, que conferem seu consentimento por meio de termo devidamente assinado. Ressaltamos que todo procedimento cirúrgico implica riscos inerentes, previamente comunicados, cuja ocorrência independe da conduta do profissional, sendo frequentemente influenciados por fatores individuais e pela adesão do paciente às orientações pós-operatórias. A conduta do paciente no pós-operatório é indispensável para que se tenha o melhor resultado, sendo de responsabilidade do paciente seguir as recomendações do profissional e ter bons hábitos de saúde. A Dra. Iolanda sempre priorizou a saúde e a segurança de seus pacientes, oferecendo um acompanhamento pós-operatório exemplar. Sua clínica é equipada com tecnologia de ponta, tanto para garantir os melhores resultados quanto para tratar eventuais intercorrências com eficiência, possuindo todas as autorizações necessárias para funcionamento. 

No tocante às denúncias em curso, respeitamos o devido processo legal e temos plena confiança de que todos os fatos serão esclarecidos em sua totalidade. Por fim, reafirmamos nosso compromisso com a ética e a transparência, valores que norteiam todas as nossas ações. Estamos à disposição para prestar quaisquer esclarecimentos adicionais e reforçamos nosso compromisso com a excelência no atendimento e cuidado dos pacientes.”. 

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‘Olho no espelho e não me reconheço’, diz vítima

Para o Jornal Midiamax, a mulher contou que procurou a dentista para fazer uma lipo de papada, em setembro de 2022, pagando pelo serviço R$ 10 mil. A mulher contou que no dia do procedimento não tomou anestesia, apenas um remédio, e sentiu dores durante todo o procedimento. 

Após o procedimento, a mulher disse que suas roupas na parte de trás estavam encharcadas de sangue. Ela saiu do consultório toda enfaixada. “Passaram-se os dias, até que, um mês depois, eu estava com os pontos todos infeccionados. Na época, minha única preocupação era parar de sentir dor. A expectativa, que antes era positiva, passou a ser baseada apenas na ideia de que os efeitos desse procedimento, que foi feito por alguém que se apresentou como apta para tal função, não fossem tão nocivos para a minha saúde”, disse a vítima.

A vítima contou que tentou resolver o problema com a dentista, mas a profissional teria dito que a mulher estaria ‘jogando’ a boca para o lado para mostrar que estaria torta. “Fui em um médico que disse que o nervo teria sido lesionado e precisava entrar com medicação para ver se voltava ao normal”, disse a mulher.

A mulher ficou com pontos por um mês ao redor da cabeça causando dores. “Na época, minha boca ficou torta, tive que fazer fisioterapia pra voltar ao normal.Hoje lido com as cicatrizes que ficaram, uso coque para trabalhar e me sinto constrangida com as falhas no meu cabelo, devido aos cortes que ela fez”, fala.

Uma reparação foi feita pela dentista 1 ano depois do procedimento, mas, segundo a vítima, não resolveu seu problema. 

Leia também – Dentista faz rinoplastia, provoca necrose em cliente e acaba procurada pela polícia em Campo Grande

Dentista pediu liberação na Justiça para fazer procedimentos proibidos

A dentista investigada por erros em procedimentos estéticos em várias mulheres pediu liberação na Justiça para fazer os procedimentos proibidos a odontólogos.

A dentista acionou a Justiça contra o CRO-MS e o CFO (Conselho Federal de Odontologia) para que ela seja liberada para realizar os procedimentos, que são proibidos pelo conselho nacional. 

A profissional entrou com ação declaratória com pedido liminar de tutela de urgência. Na ação, os advogados dela alegam que o CFO (Conselho Federal de Odontologia) publicou uma resolução limitando o exercício de suas atividades profissionais e seus colegas de profissão.

CRO-MS emite nota de repúdio

Em nota, o conselho relatou que procedimentos blefaropastia, rinoplastia, otoplastia, lifting não podem ser realizados pela dentista. Ainda segundo a nota, procedimentos cirúrgicos invasivos fora do escopo da odontologia são expressamente proibidos. 

O conselho ainda afirmou que procedimentos irregulares configuram infrações éticas, sujeitas a sanções. Pelo menos duas vítimas da dentista entraram com ações de indenização por danos morais na Justiça contra a dentista.

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