A suspensão da delação premiada do ex-chefe de compras de Sidrolândia, Tiago Basso da Silva, permite que o acordo de colaboração continue em vigor para fornecer material para as investigações que apuram esquema de corrupção em Sidrolândia que seria chefiado por Claudinho Serra (PSDB).
Decisão do juiz Bruce Henrique dos Santos Bueno Silva suspendeu por 90 dias o processo da delação. Na prática, a medida mantém a colaboração ‘viva’ para o Gaeco (Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado) tocar as investigações.
No início deste mês, a Operação Tromper chegou à 4ª fase, com inclusão de novos investigados e as prisões de Claudinho Serra (PSDB), seu assessor, Carmo Name Júnior, e o empreiteiro de Campo Grande Cleiton Nonato Correia, da GC Obras.
Conforme o advogado de defesa de Basso, Wellison Muchiutti, o acordo prevê a colaboração do ex-servidor até o fim das investigações. “Enquanto houver investigação, a delação fica vigente para ele [Tiago] fornecer informações. Com a suspensão, há a prorrogação do prazo [de validade], que será reavaliada novamente daqui 90 dias”, informou.
Assim, as investigações do Gaeco ganham ‘fôlego’ para seguir e apurar as responsabilidades de todos os envolvidos no esquema que desviou milhões dos cofres do município de Sidrolândia, a 70 km de Campo Grande. A primeira fase da ação ocorreu há mais de dois anos, ainda sem condenação de nenhum dos investigados.
Além de colaborar com o Gaeco, Basso já devolveu R$ 80 mil, que seria a parte dele da propina.
Por fim, o despacho do magistrado Bruce Henrique dos Santos Bueno Silva diz o seguinte: “Considerando, contudo, a pendência de cumprimento das demais cláusulas pactuadas, determino o encaminhamento dos autos ao arquivo provisório pelo prazo de 90 (noventa) dias, com posterior reavaliação quanto ao adimplemento integral das obrigações assumidas no instrumento de colaboração”.
Delação revelou detalhes da corrupção em Sidrolândia

Basso revelou ao Gaeco detalhes de como funcionava o esquema. Em resumo, uma das informações do delator era de que Claudinho Serra recebia espécie de mesada das empresas que fechavam contrato com a prefeitura de Sidrolândia.
O valor variava de 10% a 20% do valor do contrato.
Assim, Basso detalhou que tinha como função fazer cobranças aos empresários vencedores de licitações milionárias no município de Sidrolândia, a mando de Claudinho.
Além disso, nessa lista de empresários estão alguns réus da Operação Tromper como José Ricardo Rocamora, Luiz Gustavo Justiniano Marcondes e Milton Matheus Paiva Matos. Os pagamentos, na maioria dos casos, ocorriam em dinheiro em espécie.
“O Cláudio Serra cobrava, na época secretário de fazenda, uma porcentagem de 10% das empresas que tinham grandes contratos com o Município, uma porcentagem de 10% de tudo aquilo pago pelo Município. Então ele me fazia levantamentos, igual Ricardo Rocamora, outras empresas. Essa empresa recebeu R$ 30 mil neste mês do município, então você tem que cobrar dela R$ 3 mil neste mês. Dez por cento tem que pagar de comissão para a gente aqui”, afirmou Silva durante a delação.
Ainda de acordo com a delação, Tiago detalha que, mensalmente, emitia cerca de R$ 100 mil em notas frias, ou seja, que não correspondiam ao serviço prestado.
Claudinho Serra tinha ‘tabelinha da propina’
“Tinha uma tabelinha lá que o Claudio me passou uma vez que ele falou ‘Oh, do que eu devo, do que a secretaria de fazenda deve, você vai empenhar 60% para Rocamora, 30% para a Marcondes e 10% para a 3M [empresa do Milton Matheus]’. É para trabalhar com essas três empresas […] o interesse deles era fazer valor, não importava se o papel higiênico seria entregue por R$ 3 porque eles não iam entregar papel higiênico”, pontuou.
Tiago Basso da Silva descreveu como Claudinho Serra — na época secretário de Fazenda, Tributação e Gestão Estratégica — fazia cobranças aos empresários vencedores de licitações milionárias no município de Sidrolândia.
Desta forma, o ex-chefe do setor de licitações explicou que era responsável por ir pessoalmente falar com os diretores das empresas, enquanto as que tinham contratos de maior valor — como para obras de pavimentação — tratavam do assunto no gabinete de Claudinho Serra.
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