Sobrinho de Cezário foi flagrado com maço de dinheiro ao sair de banco e depois dividiu com comparsas na Federação
Umberto Alves Pereira era responsável pelo setor Financeiro do Campeonato Estadual em Mato Grosso do Sul
Thalya Godoy, Thatiana Melo –
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Investigações do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), que levaram à prisão de Francisco Cezário de Oliveira e de outros seis na Operação Cartão Vermelho, na última terça-feira (21), apontam que integrantes do grupo não tinham “pudor” em mostrar o dinheiro desviado na frente do banco logo após o saque.
O Gaeco também cumpriu mandados de busca e apreensão em 14 endereços em Campo Grande, Dourados e Três Lagoas. Eles são acusados de integrar organização criminosa, peculato, lavagem de dinheiro, entre outros.
Cezário, três sobrinhos e outros três foram presos preventivamente por suspeita de desvio de mais de R$ 6 milhões, de setembro de 2018 a fevereiro de 2023, na FFMS (Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul). O dinheiro era proveniente de repasses feitos pelo Governo do Estado e CBF (Confederação Brasileira de Futebol).
As investigações apontaram que parte do esquema consistia na realização de saques em espécie de contas bancárias vinculadas à FFMS de até R$ 5 mil para não levantar suspeitas. Posteriormente, o valor era dividido entre os integrantes da organização criminosa.
Saques
Na decisão que mandou prender o grupo, o juiz da 2ª Vara Criminal de Campo Grande, Eduardo Eugênio Siravegna Júnior, narra alguns detalhes sobre a investigação que expôs o possível esquema de corrupção milionário na federação responsável pelo futebol sul-mato-grossense.
O trabalho de campo de agentes do Gaeco flagrou a rotina do grupo sobre os saques nas contas bancárias da entidade. Em certa ocasião, um integrante foi flagrado com um maço de dinheiro na mão em frente a uma agência bancária logo após o saque.
No dia 25 de outubro de 2022, mesmo mês em que a Federação de Futebol recebeu dois termos de fomento, Umberto Alves Pereira, sobrinho de Cezário e responsável pelo Financeiro do Campeonato Estadual, foi visto saindo da sede da FFMS e dirigindo-se até uma agência de banco em Campo Grande para realizar um saque. Em seguida, ele retorna para a sede na posse de uma mala preta.
No local, aguardavam Aparecido Alves Pereira, Francisco Carlos Pereira, Marco Antônio Tavares (vice-presidente da FFMS), Luiz Eduardo Leão Gonçalves e Rudson Bangarim Barbosa, “supostamente para receberem parte do dinheiro sacado”.
Relatório de movimentação bancária identificou que no mesmo dia dessa reunião houve dois saques de R$ 5 mil da conta da FFMS.
O relatório das investigações apontou que essa prática era frequente. Quase um ano depois, em 10 de outubro de 2023, Umberto Pereira foi visto novamente no mesmo procedimento.
O sobrinho de Cezário foi até uma agência bancária para sacar valores em espécie e “retornando à sede da FFMS para supostamente dividir a quantia com os demais integrantes da organização criminosa”. Foi neste dia que foi possível visualizar um maço de dinheiro nas mãos de Umberto saindo da agência bancária.
Reuniões na casa de Cezário
O trabalho dos investigadores também apontou que Cezário realizava diversas reuniões em casa, “com o fim de supostamente organizar o esquema de desvio de dinheiro da Federação de Futebol”.
Outro ponto é que Francisco Cezário de Oliveira “movimentava maior parte do dinheiro desviado da Federação de Mato Grosso do Sul nas contas de APARECIDO ALVES PEREIRA (‘CIDO’), UMBERTO ALVES PEREIRA (‘BETO’), MARCELO MITSUO EZOE PEREIRA, entre outros”.
Mais de R$ 6 milhões desviados
Conforme informações do Gaeco, o grupo liderado por Francisco Cezário realizava pequenos saques de até R$ 5 mil para não chamar atenção dos órgãos de controle. Com isso, de setembro de 2018 a fevereiro de 2023, foram identificados desvios que superaram os R$ 6 milhões.
Somente durante o cumprimento dos mandados nesta terça-feira foram apreendidos mais de R$ 800 mil, inclusive em notas de dólar. Revólver e munições também foram apreendidos.
Esses valores eram distribuídos entre os integrantes da organização criminosa. O esquema se estendia também a outras empresas que recebiam altas quantias da federação. Assim, parte dos valores era devolvida ‘por fora’ ao grupo.
Além disso, a organização criminosa também possuía um esquema de desvio de diárias dos hotéis pagos pelo Estado de MS em jogos do Campeonato Estadual de Futebol.
Cezário já foi condenado à prisão
O dirigente da FFMS (Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul), Francisco Cezário de Oliveira, preso nesta terça-feira (21) em ação contra desvio de dinheiro na entidade, já havia sido condenado pelo mesmo motivo, em 2010.
Na época, o mandatário foi condenado a pena de quatro anos e cinco meses, em regime semiaberto, por desviar valores na casa dos R$ 56 mil. Ele foi denunciado pelo MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) por supostamente ter transferido recursos da entidade para a conta particular.
Ainda conforme o MPMS, parte do dinheiro teria sido usada em campanha política, quando concorreu e ganhou para prefeito de Rio Negro, cargo eletivo que exerceu de 2001 a 2004.
CPI ‘enterrada’
O deputado estadual Evander Vendramini (PP) chegou a tecer críticas à FFMS e avaliou abrir uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para, segundo ele, abrir a ‘caixa-preta’ do futebol. Foram duas tentativas frustradas para investigar possíveis irregularidades no futebol estadual, em 2019 e 2020.
“Os estádios vazios, clubes sem incentivo e jogadores desmotivados. Nos anos 80, o futebol sul-mato-grossense era destaque e, infelizmente, hoje o retrato é de abandono. A Federação Estadual sempre esteve na mão dos mesmos dirigentes, precisamos urgentemente reorganizá-la para retomar o crescimento e modernizar nossos clubes”, declarou.
Na época, defendeu uma investigação para apurar como os recursos estaduais foram aplicados pela entidade.
Operação Cartão Vermelho
Na operação, equipes do Gaeco cumpriram 7 mandados de prisão preventiva, além de 14 mandados de busca e apreensão em Campo Grande, Dourados e Três Lagoas.
Também conforme o Gaeco, o nome da operação faz alusão ao instrumento utilizado pelos árbitros para expulsar os jogadores que cometem faltas graves durante as partidas de futebol.
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