CNJ arquiva processo disciplinar contra desembargadores do TJMS investigados pela PF

Desembargadores estão afastados do cargo após operação que investiga venda de sentenças ser deflagrada pela PF

Ouvir Notícia Pausar Notícia
Compartilhar
Desembargador Sideni Soncini Pimentel (Divulgação)

O ministro Mauro Campbell Marques do CNJ (Corregedor Nacional de Justiça) determinou o arquivamento de processo disciplinar contra os desembargadores do TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul), Sideni Soncini Pimentel e Vladimir Abreu da Silva.

Na decisão, publicada na última quinta-feira (28), o ministro avalia a instauração do procedimento disciplinar como “inadmissível”, já que não existem indícios ou fatos que demonstrem as faltas às normas éticas da magistratura. Esse procedimento não tem relação com a Operação Ultima Ratio, que afastou os desembargadores, mas foi aberto após a ação.

A denúncia foi feita por um engenheiro civil, que perdeu imóvel 86% quitado em Campo Grande após processo de reintegração de posse chegar às mãos de Vladimir, no TJMS. Após a deflagração da Operação Ultima Ratio, da PF (Polícia Federal), o engenheiro, que ainda foi condenado a pagar as custas processuais, entrou com a reclamação disciplinar.

Entretanto, ao chegar no CNJ, Campbell decidiu pelo arquivamento da denúncia. Para o ministro, o denunciante não se conformou com a decisão da Justiça e tenta revelar possível erro judicial ao reclamar da conduta dos magistrados.

desembargadores
Desembargador Vladimir Abreu da Silva (Divulgação, TJMS)

Vale ressaltar que Sideni Soncini e Vladimir de Abreu estão afastados desde a deflagração da operação, em 24 de outubro. Soncini havia sido eleito presidente do TJ para o biênio 2025-2026 uma semana antes da operação. Abreu seria o vice.

Por conta das investigações, o atual presidente Sérgio Fernandes Martins e os desembargadores Alexandre Aguiar Bastos e Marcos José de Brito Rodrigues também foram afastados.

“Acrescente-se, ainda, que é inadmissível a instauração de procedimento disciplinar porquanto inexistentes indícios ou fatos que demonstrem que o magistrado tenha descumprido deveres funcionais ou incorrido em desobediência às normas éticas da magistratura”, diz a decisão do CNJ.

O ministro ainda avalia que, caso a conduta dos magistrados revelem imparcialidade, os afastando do julgamento do processo, a questão deve ser tratada na esfera do Poder Judiciário e não no CNJ, que não tem função jurisdicional.

PF deflagrou operação ‘Ultima Ratio’ (Nathália Alcântara, Jornal Midiamax)

Operação Ultima Ratio

A operação ‘Ultima Ratio’ investiga a venda de decisões judiciais, lavagem de dinheiro, extorsão e falsificação de escrituras públicas no Poder Judiciário de Mato Grosso do Sul. Além dos desembargadores citados, o conselheiro do TCE-MS (Tribunal de Contas do Estado de MS), Osmar Jeronymo, também foi afastado do cargo.

Em razão da existência de autoridades com prerrogativa de foro, as ordens de busca e apreensão e afastamentos foram emitidas pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça). O esquema se baseava em decisão judicial que era favorável a representantes envolvidos no esquema, formado por lobistas, advogados e servidores públicos de grande influência. Esse grupo se reunia com os magistrados, muitos deles pais de advogados beneficiados ou até mesmo possuíam relações societárias anteriores.

A ação teve o apoio da Receita Federal e é um desdobramento da operação ‘Mineração de Ouro’, deflagrada em 2021, na qual foram apreendidos materiais com indícios da prática dos referidos crimes. O órgão, inclusive, iniciou a segunda fase da operação, com intuito de identificar o ‘rastro’ do dinheiro.

Advogado executado e lobista com influência em MS são elo com desembargadores

A PF realizou nova operação contra desembargadores do Mato Grosso em investigação sobre venda de sentenças. A ação no estado vizinho tem ligação importante com a Operação ‘Ultima Ratio’, deflagrada em 24 de outubro em MS: as duas ocorrem após extração de dados do advogado executado Roberto Zampieri.

Equipes cumpriram mandados nas casas dos desembargadores do MT, Sebastião de Moraes Filho e João Ferreira Filho. Os dois já estavam afastados desde agosto por decisão do CNJ (Conselho Nacional de Justiça).

Conforme apurado pelo Jornal Midiamax, a operação da semana passada ocorreu após dados extraídos do celular de Zampieri. O advogado foi executado com 10 tiros em frente ao próprio escritório, em dezembro de 2023. A polícia indiciou um fazendeiro como mandante do crime. Ele perdeu processo milionário em que Zampieri atuou como advogado da parte contrária.

Dessa forma, Zampieri é o pontapé inicial das investigações sobre venda de sentenças que ultrapassou os limites estaduais e já alcançou o STJ (Superior Tribunal de Justiça) e tem citações até mesmo no STF (Supremo Tribunal Federal).

Em relação à investigação em MS, o caso pode envolver integrantes do STJ e, por esse motivo, o processo está no Supremo, com relatoria no ministro Cristiano Zanin. No entanto, as informações dão conta de que a ação está travada por lá.

💬 Receba notícias antes de todo mundo

Seja o primeiro a saber de tudo o que acontece nas cidades de Mato Grosso do Sul. São notícias em tempo real com informações detalhadas dos casos policiais, tempo em MS, trânsito, vagas de emprego e concursos, direitos do consumidor. Além disso, você fica por dentro das últimas novidades sobre política, transparência e escândalos.
📢 Participe da nossa comunidade no WhatsApp e acompanhe a cobertura jornalística mais completa e mais rápida de Mato Grosso do Sul.


Conteúdos relacionados