Após a terceira fase da Operação Tromper, na quarta-feira (3), as defesas de Marcus Vinícius Rossetini de Andrade Costa e Ana Cláudia Alves Flores entraram com pedidos de liberdade. Eles eram chefe de licitações e pregoeira de Sidrolândia, respectivamente, e foram exonerados nesta sexta-feira (5).

As defesas, feitas pelos advogados Marcos Ivan e David Olindo, pediram a revogação das prisões preventivas ou a substituição por medidas cautelares. Para a defesa de Marcus Vinícius, o fato investigado é único e ocorreu há mais de um ano.

Por isso, não configuraria reiteração delitiva. Ainda mais, o advogado aponta que o fato de Ricardo Rocamora ter permanecido foragido por meses não pode justificar a prisão dos outros investigados.

“É cediço por este Magistrado que as condutas devem ser analisadas de maneira individualizada”, diz a defesa, alegando ainda que o acusado não conhece Rocamora.

Já a defesa de Ana Cláudia pede a prisão domiciliar ou a liberdade da investigada. A alegação é de que ela tem um filho de apenas 6 anos e que a prisão pode ser substituída pelo uso de tornozeleira eletrônica.

“Não há motivos e nem haverá motivos para uma fuga ou frustração da conclusão das investigações”, afirma o advogado David Olindo.

Ainda são aguardadas as decisões sobre os pedidos. Ana Cláudia e Marcus já foram encaminhados para os presídios após a operação.

Exonerações

Nesta sexta-feira (5), a prefeita de Sidrolândia Vanda Camilo (PP) publicou no Diário Oficial a exoneração dos quatro servidores alvos da Operação Tromper. A ação foi realizada na quarta-feira (3) e apenas a demissão do secretário Rafael Soares Rodrigues havia sido divulgada.

Assim, nesta sexta-feira foram publicadas também as exonerações do secretário adjunto da Seas (Secretaria de Assistência Social), Paulo Vitor Famea, bem como do chefe de licitações, Marcus Vinícius Rossetini de Andrade Costa, e da pregoeira Ana Cláudia Alves Flores.

Os quatro investigados foram alvos da terceira fase da Operação Tromper, que investiga fraudes em licitações e contratos municipais. Dos quatro, Marcus Vinícius e Ana Cláudia foram presos preventivamente.

Além das exonerações, a prefeita Vanda Camilo publicou decreto para tentar desfazer os contratos com as empresas, agora que são investigadas. Na publicação, ela cita “inúmeros contratos e atas de registro de preços celebrados entre o Município de Sidrolândia e as empresas investigadas”.

Então, determina ao setor de Compras, Licitações e Contratos as medidas para rescindir os contratos com as empresas Do Carmo Comércio Varejista e Serviços (CNPJ 44.770.503.0001-11); Empresa Rocamora Serviços de Escritório (CNPJ 33.609.580/0001-78); Empresa JL Serviços e Comércio (CNPJ 32.996.733/0001-14); Empresa Maxilaine Dias De Oliveira (CNPJ 06.000.098/0001-63); Empresa Heberton Mendonça Da Silva (CNPJ 46.072.552/0001-06); Empresa AR Pavimentação e Sinalização (CNPJ: 28.660.716/0001-34); Empresa CGS Construtora e Serviços (CNPJ: 25.217.122/0001-65) e Empresa FGC Engenharia e Construtora (CNPJ 46.603.862/0001-00).

O decreto entrou em vigor com data de 4 de abril. Esta é a terceira fase da Operação Tromper em menos de um ano, que prende e investiga alvos em Sidrolândia e até em Campo Grande por suspeita de fraudes e corrupção no município do interior.

Desde a operação, a prefeita se manifestou apenas relatando que acompanha o caso. Ligações do Midiamax não foram atendidas nem mensagens respondidas. O espaço segue aberto para manifestação.

Genro comandava organização criminosa

O vereador de Campo Grande Claudinho Serra (PSDB), genro de Vanda Camilo, é apontado como líder da organização criminosa que fraudava licitações e desviava valores de Sidrolândia, usando a emissão de notas fiscais fraudulentas para tentar dissimular os crimes. Isso é o que aponta relatório do Gecoc (Grupo Especial de Combate à Corrupção).

Conforme o procedimento de investigação, as licitações eram fraudadas por meio do então secretário de Fazenda de Sidrolândia, Claudinho Serra. Para isso, integravam o grupo outros servidores do município, além de empresários que eram os vencedores das licitações.

A partir daí, no decorrer da execução dos contratos, eram realizados empenhos visando apenas o desvio de dinheiro. Ou seja, o pagamento feito pelo Município para as empresas, que, na verdade, servia apenas para o bolso dos investigados porque não resultava em serviços para a cidade.

Depois disso eram emitidas as notas fiscais forjadas. “Apurou-se que os valores a título de propina eram repassados conforme a necessidade e/ou exigência de agentes políticos e servidores públicos, sendo a partir de então estipulado pelos empresários a margem de lucro que seria aplicada sobre o valor repassado (propina), em quais contratos púbicos recairiam as cobranças dos valores, bem como quais produtos formalmente licitados constariam nas notas fiscais forjadas”, aponta a investigação.

Em uma das conversas de Ueverton Macedo, empresário também preso na operação, ele fala sobre a necessidade de emitir notas fiscais fraudulentas. Essa necessidade teria surgido a pedido de Claudinho Serra.

Ueverton conversava com Tiago Basso, então servidor de Sidrolândia e responsável pela emissão das notas, enquanto chefe de setor de execuções e fiscalização no município. Em conversa flagrada pelo Gecoc, Ueverton pede uma nota fria relacionada ao setor de obras.

Nesse caso, não seria fornecido qualquer produto, nem mesmo seria executado algum serviço.

Comandava o esquema criminoso

Para o Gecoc, Claudinho Serra figurou como mentor e beneficiário do esquema criminoso, sendo que em uma das conversas Ueverton manda mensagem para Ricardo Rocamora, pedindo que ele enviasse valor para que o advogado Milton Matheus Paiva efetuasse o saque.

Ueverton então afirma que Claudinho era quem resolveria a forma como os empresários seriam ressarcidos, ou seja, de qual forma os valores seriam desviados. Ainda foi narrada possível emissão de notas fiscais com dados forjados, relativos à lavagem de veículos.

Isso teria sido feito conforme solicitação do Secretário Municipal de Educação, Rafael Rodrigues, ao empresário Ricardo Rocamora, nos valores de R$ 40.000,00 e R$ 30.000,00.

Já os assessores parlamentares de Claudinho na Câmara de Campo Grande, Carmo Name Júnior e Heberton Mendonça da Silva, teriam atuado com desvios a partir da empresa do segundo citado, Papo com Ton (CNPJ 46.072.552/0001-06).

Os crimes envolviam a emissão de notas fiscais e pronto pagamento nos contratos de publicidade da Prefeitura de Sidrolândia. “A provável existência dessa organização, dentro da prefeitura, fraudando licitações e beneficiando agentes públicos e privados, gera imenso prejuízo aos cofres públicos, já que, mediante notas fiscais com dados possivelmente forjados, sem efetiva prestação de serviços ou entrega de bens e com preços superfaturados, subtraem a chance de o Município de Sidrolândia investir em serviços públicos efetivamente prestados”, aponta a investigação.

Demais empresas citadas

  • Master Blocos (CNPJ 06.000.098/0001-63),
  • JL Serviços Empresariais e Comércio Alimentício Ltda (CNPJ 45.382.268/0001-73),
  • MP Assessoria e Consultoria e Serviços Ltda (NPJ 05.950.383/0001-82) – que pertence aos pais de Claudinho -,
  • Do Carmo Comercio Varejista e Serviços de Manutenção Ltda (CNPJ 44.770.503/0001-11),
  • GC Obras de Pavimentação Asfáltica (CNPJ 16.907.526/0001-90),
  • AR Pavimentação e Sinalização (CNPJ 28.660.716/0001-34) e
  • CGS Construtora e Serviços  (CNPJ 25.217.122/0001-65)

Presos na operação

A terceira fase da Operação Tromper levou à prisão preventiva de 8 pessoas e ao cumprimento de mandados de busca e apreensão em 28 endereços nesta quarta-feira (3), inclusive na casa do vereador Claudinho Serra (PSDB).

O parlamentar, que foi preso, é acusado de ser o mentor do esquema de fraudes na Prefeitura de Sidrolândia, município a 70 quilômetros de Campo Grande.

Um ex-assessor de Claudinho, Tiago Alves, também foi preso preventivamente. Ex-candidato a vereador de Sidrolândia e empresário, Ueverton Macedo, conhecido como Ueverton Frescura, também foi alvo de prisão.

O suposto esquema de corrupção na Prefeitura de Sidrolândia envolvia uso de empresas de “fachada”, fraude a licitações e desvio de dinheiro público mediante a não prestação do serviço ou não entrega do produto.

Ainda ficou demonstrada a corrupção de servidores públicos municipais para a execução do esquema criminoso.

Cargo no Governo

Troca de mensagens entre os integrantes do grupo criminoso, inclusive, teria apontado preocupação sobre a possível posse de Claudinho Serra em um cargo no Governo de Mato Grosso do Sul.

Em 19 de janeiro de 2023, uma conversa entre Ueverton “Frescura” pede para que Ricardo Rocamora (os dois foram alvos de prisão preventiva nesta quarta-feira) “vá devagar” na emissão de notas fiscais para a Sefat, visto que o titular da pasta, Claudinho Serra, poderia ser empossado no Governo do Estado.

Em resposta, Rocamora teria demonstrado preocupação e concordado com “Frescura” sobre pausar os repasses e afirmado que Serra “não teria fim”. “Ou seja, Cláudio Serra Filho seria voraz em se apropriar ilicitamente de dinheiro público”, diz outro trecho do PIC.