A Polícia Federal não encontrou apenas um fuzil de uso restrito na casa de Loester Trutis (PSL-MS), em 12 de novembro do ano passado, que resultou no flagrante contra o deputado. Além do armamento, os agentes apreenderam R$ 72,5 mil em dinheiro.

O inquérito no STF (Supremo Tribunal Federal) que investiga o suposto atentado contra Loester Trutis, em fevereiro de 2020, ganhou um quarto volume, de 150 páginas. O tomo traz o saldo da Operação Tracker, que cumpriu mandados de busca e apreensão contra o deputado, bem como os laudos periciais das armas, munições e celulares recolhidos.

Os policiais encontraram o dinheiro dentro de uma mala e nos bolsos de um paletó, no guarda-roupas do quarto de Trutis, em sua casa na Vila Carlota, em . Na pasta de couro marrom haviam R$ 57.950,00. Os outros R$ 14.550,00 estavam distribuídos em dois maços nos bolsos do casaco.

Os agentes não encontraram evidências de ilegalidades e devolveram o dinheiro ao parlamentar. Trutis pediu a restituição no mesmo dia da apreensão, por meio de uma carta escrita a próprio punho por seu na época.

Fuzil, Loester Trutis
Fuzil de uso restrito achado na casa de Trutis foi periciado pela PF (Foto: Reprodução)

Além da arma que motivou o flagrante – um fuzil T4 calibre 556 mm, da marca Taurus, equipado com lanterna, mira optrônica, cinco carregadores e bandoleira de três pontos, avaliado em R$ 10 mil -, os policiais acharam uma pistola calibre 9 mm, com carregador e 14 munições, e um revólver calibre .357, com dez munições, na mesa da sala do deputado. Também acabaram recolhidos um pote em formato de caveira, com diversas munições, e um celular de Trutis.

Outros três imóveis ligados a Trutis foram alvos de busca e apreensão em novembro. Os agentes não encontraram nada na antiga lanchonete Trutis Bacon Bar, no Jardim São Bento, tampouco em uma residência no Bairro Vilas Boas, desabitada.

Nada foi apreendido também no apartamento funcional, localizado na Asa Sul de Brasília (DF), onde os policiais se depararam com um cofre aberto, vazio, e com uma faca de campanha “bem característica do estilo de vida ostentado pelo investigado nas redes sociais”, descreveu a PF.

Fuzil de Loester Trutis e outros materiais apreendidos foram periciados

Mais armas e celulares foram apreendidos pela polícia em endereços dos demais alvos da Operação Tracker. Os agentes recolheram dois aparelhos e uma sacola com estojos de munições deflagradas na casa de Ciro Nogueira Fidelis. O assessor parlamentar estaria com Trutis no momento do suposto atentado.

As munições foram levadas à perícia. Segundo laudo, as munições deflagradas apreendidas com Fidelis não foram disparadas pela mesma arma que disparou os projéteis encontrados na estrada vicinal em que o Toyota Corolla de Trutis ficou parado na manhã do ataque. As munições achadas naquela estrada teriam saído de uma pistola 9 mm da marca Glock, não localizada pela polícia.

Outras duas espingardas calibre 22 foram apreendidas em fazendas de Jovani Batista da Silva, ligado ao chamado “Movimento Conservador de ”. Centenas de munições, calibres 22 e .38, também foram confiscadas nas propriedades, além de um celular.

Na casa do irmão de Trutis, Alberto Carlos Gomes de Souza, os policiais encontraram uma pistola Taurus calibre 9 mm, guardada em uma maleta na suíte. Como o registro da arma não foi apresentado e o calibre é “compatível com os fatos investigados”, os agentes apreenderam a pistola, bem como um celular.

Laudos e tecnologia vão de encontro à versão de Trutis

As investigações da Polícia Federal acerca do suposto atentado de fevereiro de 2020 se voltaram contra o próprio parlamentar a partir de trabalhos periciais. Laudos balísticos, de exame de local e informações de georreferenciamento entraram em rota de colisão com o que alegava o deputado e seu assessor.

Assim, a PF concluiu que o atentado foi simulado por Trutis, de olho em dividendos políticos e eleitorais. O parlamentar é um entusiasta voraz da flexibilização do Estatuto do Desarmamento.

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Polícia Federal concluiu que Toyota Corolla onde estava Loester Trutis não foi seguido (Foto: Reprodução/Facebook)
Deputado federal Loester Trutis.
Deputado federal Loester Trutis (PSL) na tribuna da Câmara (Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados)

A polícia identificou que ele sequer foi seguido no dia do suposto ataque a tiros. Além disso, a descrição dada pelo deputado federal sobre o veículo supostamente envolvido no atentado atentado contra ele levou os investigadores a uma caminhonete “antiga e deteriorada, que certamente não teria condições mecânicas razoáveis para ser utilizada em um atentado em face de alguém que estava embarcado em um potente Toyota Corolla”, conforme descreve o inquérito.

Com base no trabalho da PF, a ministra Rosa Weber deferiu os pedidos para busca e apreensão contra Trutis, seu irmão, Fidelis e Jovani Batista da Silva. Para a magistrada do STF, as provas obtidas no âmbito da investigação podem implicar Loester Trutis nos crimes de de fogo de uso permitido, disparo de arma de fogo, dano e comunicação falsa de crime.

STF barrou tentativas de trancar investigações

Em dezembro passado, a defesa de Trutis ingressou com dois habeas corpus idênticos em pleno recesso judiciário, a fim de trancar as investigações contra ele. No primeiro, o presidente do STF, Luiz Fux, não viu urgência em decidir e mandou de volta o processo para seu relator, ministro Dias Toffoli. No segundo, negou o pedido liminar.

Antes entusiasta da Polícia Federal, Trutis partiu para o ataque contra o trabalho da instituição a fim de se defender das acusações de ter armado o atentado. Sua defesa já classificou o inquérito como “frágil” e sugeriu que os investigadores manobraram a apuração para forjar sua culpa.