Em 2014, ele foi alvo de outra investigação
Médico cirurgião torácico que há 20 anos atuava na Santa Casa de Campo Grande foi demitido pelo hospital em março deste ano. Ele é alvo de ação civil pública de improbidade administrativa movida pelo MPE-MS (Ministério Público Estadual) após resultados de sindicâncias realizadas pelo próprio hospital. Segundo o MP, o profissional fraudava registros de cirurgias, utilizando até cadáveres, para receber mais.
De acordo com a assessoria de imprensa da Santa Casa, o profissional era autônomo e, portanto, prestava serviço para a unidade. Investigação chegou a ser realizada pela direção do hospital em 2014, mas, na época, não houve provas de que o médico tinha relação com fraudes.
No ano passado, nova sindicância realizada pelo hospital conseguiu comprovar que o médico preenchia registros de procedimentos falsos para que a remuneração fosse maior. Ele chegou a confirmar a conduta à direção da Santa Casa “se não fizer, não ganha dinheiro”.
Após o fim dos procedimentos, no início deste ano, o hospital decidiu retirar o médico do quadro de profissionais da Santa Casa. A demissão foi oficializada em 20 de março de 2017. Todos os detalhes da sindicância foram encaminhados ao MPE, que abriu procedimento e enviou o caso à Justiça.
O Jornal Midiamax não conseguiu contato com o CRM-MS (Conselho Regional de Medicina) para informações sobre possíveis punições que o profissional pode sofrer.
O caso
O cirurgião poderá ter que indenizar a população de Campo Grande em R$ 500 mil por receber do SUS (Sistema Único de Saúde) sem realizar os procedimentos. De acordo com a ação do promotor de Justiça Adriano Lobo Viana de Resende, da 29ª Promotoria de Justiça do Patrimônio Público e as sete testemunhas arroladas, o médico fraudava registros de cirurgias para poder receber.
Em um dos casos, o profissional preencheu quatro registros e colocou junto à ficha médica de um cadáver no necrotério do hospital. A morta era uma vítima de acidente de trânsito de 35 anos que deu entrada à noite no hospital e, após 30 minutos, veio a óbito.
A unidade hospitalar instaurou várias sindicâncias contra o profissional. Em uma delas, o médico chegou a afirmar que faz as inserções indevidas havia mais de 20 anos no Hospital e explica a motivação: “se não fizer, não ganha dinheiro”.
Ele justificou a atitude dizendo também que prestaria assistência aos médicos por telefone nas cirurgias. Também foi apurada nesta sindicância a ausência do profissional em um caso grave, quando quem fez os procedimentos foram apenas os residentes. Neste caso, a paciente morreu. “E a justificativa dada pelo sindicado, como sempre, era que ele tinha orientado por telefone, além do que não havia qualquer relatório ou outro documento comprovando a presença dele na ocasião”.
Nos autos, a Santa Casa de Campo Grande, que identificou as supostas irregularidades em sindicâncias internas, explicou ao Ministério Público que as normas chegaram a ser alteradas, para anexar a ficha de registro de operação junto ao prontuário dos pacientes. Mas, segundo representantes do hospital, mesmo assim o médico continuou ignorando as determinações e colocando junto a documentação as fichas de procedimento que não realizava.
Uma das testemunhas também disse que o médico já até andava com as fichas pré-preenchidas na pasta de trabalho, colocando apenas o nome dos pacientes sempre que encontrava oportunidade para anexar os documentos.