Escola foi entregue nesta segunda-feira 

Mais uma ação de justiça social foi apresentada à sociedade pelo Poder Judiciário de Mato Grosso do Sul nesta segunda-feira (23). O presidente do Tribunal de Justiça, Des. João Maria Lós, e o juiz da 2ª Vara de Execução Penal de Campo Grande (2ª VEP), Albino Coimbra Neto, entregaram a reforma da Escola Estadual Padre Mário Blandino, realizada por meio do projeto idealizado pelo Poder Judiciário “Pintando Educação com Liberdade”, que utiliza mão de obra de detentos do regime semi-aberto. Com esta reforma da escola, localizada no bairro Aero Rancho, um dos mais populosos da capital, já são três a receber uma reforma completa, que vai proporcionar aos alunos um local mais adequado para o aprendizado. A obra começou no mês de dezembro do ano passado.

No evento, o Des. João Maria Lós ressaltou a forma como o projeto é desenvolvido, aliando trabalho com ressocialização. “O que nós estamos vendo aqui é um trabalho de pequenas parcerias com resultados grandiosos. Aqui não se trata apenas de se fazer a reforma de uma escola, mas um trabalho de ressocialização de quem um dia cometeu um erro e agora tem a oportunidade de vislumbrar novos horizontes e novas possibilidades em sua vida. É uma obra que o Poder Judiciário tem um orgulho enorme de entregar aos estudantes desta escola”.

O governador Reinaldo Azambuja ressaltou a intenção de manter a parceria com o Judiciário, além da economia para os cofres públicos. “Esta é uma parceria fantástica, pois possibilita a ressocialização destes trabalhadores e também já economizou para o Estado mais de R$ 1 milhão. Nós não temos como fazer tantas reformas e este dinheiro economizado vai ser usado na melhoria da educação e da saúde do Estado”.

A reforma entregue à população hoje é resultado do regular funcionamento do regime semiaberto em Campo Grande, disse o juiz Albino Coimbra Neto, titular da 2ª VEP. O magistrado explica que os próprios presos trabalham na obra e todos os custos com materiais são pagos com parte do salário deles e de outros apenados que estão empregados em órgãos públicos, parques e indústrias da cidade. “Esta obra custou R$ 20 mil com salários dos presos trabalhadores, todo o resto foi pago com parte do salário destes presos e de outros. É uma obra de baixo custo que já economizou R$ 1 milhão para o Estado”.

Albino Coimbra ainda disse que projetos como estes possibilitam a mudança da percepção da sociedade sobre os presos. “A comunidade deste bairro vai ter uma reflexão diferente, porque quem reformou e reconstruiu esta escola foram os presos, pessoas que a sociedade condena e por outro lado foram essas mesmas pessoas que reconstruíram todo este patrimônio público que é o ambiente escolar. A maioria destes presos querem pagar suas penas de uma forma adequada, correta. Oferecido oportunidade para o trabalho eles podem resgatar o erro que cometeram”.

Nesta obra de reforma da Escola Estadual Padre Mário Blandino trabalharam 14 reeducandos do Instituto Penal Agroindustrial da Gameleira em Campo Grande, que é referência nacional em ressocialização dos detentos pelo trabalho. Ramão dos Santos Duarte, 46 anos, trabalhou como pedreiro na reforma e se sente orgulhoso de ter participado do projeto. “É uma grande vitória poder sair do presídio para trabalhar. Nós mostramos para a sociedade que a gente foi capaz de fazer esta reforma, mesmo tendo errado no passado”.

A Escola estava há muitos anos sem reforma, disse a diretora Marilene Givarotti Ribas, e com muitos problemas. “Com a reforma dos presos, foi feita a pintura, a adequação do espaço, a reforma elétrica e hidráulica e recebemos um presente que foi a ampliação da horta. Então nós ficamos muito felizes e os alunos vão vir com mais ânimo para a escola”.

O aluno Daniel Bastos, de 18 anos, confirma o que disse a diretora da escola. “Agora vai ter mais condições para estudar, com um ambiente melhor e mais claro e arejado”.

Além da reforma da escola inaugurada hoje, já foram beneficiadas com o Projeto do Poder Judiciário “Pintando Educação com Liberdade” as escolas estaduais Delmira Ramos, no Bairro Copavilla II, e Brasilina Ferraz Mantero, no Jardim Leblon, que já passou por um trabalho de manutenção feito pelos presos, a fim de manter a boa conservação da escola, o que revela, segundo o juiz Albino Coimbra, “uma preocupação não só com reformar mas também transmite uma cultura de conservação do patrimônio público”.