A professora Emy Matheus Santos se manifestou após críticas do deputado estadual João Henrique Catan (PL) sobre recepção de alunos em escola municipal de Campo Grande. “Fui convidada a me fantasias para receber as crianças de forma diferente para o primeiro dia de aula”, afirmou a profissional nesta terça-feira (11).
Durante a sessão ordinária da Alems (Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul), o deputado do PL compartilhou o vídeo com os parlamentares. Questionou as vestimentas da professora e também a aparição de crianças em vídeo compartilhado em rede social.
“Fantasiado de travesti. Essa é a vestimenta para ir na sala de aula dar aula para as crianças? Eu quero saber se isso está no conteúdo de ensino, o que isso contribui para o ensino? Eu quero saber se os pais dessa comunidade escolar gostariam de receber todos os professores vestidos ao contrário. Qual debate ele promoveu para essas crianças de 6 e 7 anos?”, criticou o deputado.
Prática comum
O Jornal Midiamax acionou a Semed (Secretaria Municipal de Educação) sobre o vídeo no fim da manhã desta terça-feira (11). Em nota, a pasta informou que o fato aconteceu na Escola Municipal Irmã Zorzi.
Logo, destacou que está ciente da situação e afirmou que o uso de fantasias é caracterizado como recurso pedagógico. “A Secretaria Municipal de Educação informa que está ciente da situação mencionada”.
“Em tempo, é importante destacar que diversos professores adotam o uso de fantasias e caracterizações como recurso pedagógico, buscando tornar o processo de ensino mais lúdico, dinâmico e envolvente para as crianças, desde que vinculado ao plano de ensino e currículo”.
Por fim, a “Secretaria Municipal de Educação esclarece que, após os levantamentos, abrirá procedimento administrativo para maiores averiguações, com o objetivo de garantir a transparência e a correção dos fatos, se desacordo com as diretrizes curriculares e normas disciplinares”.
Profissional
Emy usou a própria rede social para responder às críticas. “Sou uma profissional, uma educadora, estudei para isso, sou uma mulher trans, sou travesti, essa é minha identidade”, afirmou.
Então, destacou que “arte é arte, foi um dia especial na escola”. Sobre a atividade profissional, afirmou que está dentro da normalidade. “Meu plano de aula está correto, tudo encaminhado com muito cuidado, trabalhando a criatividade e imaginação das crianças”.
Por fim, pontuou que possui documentos retificados para nome feminino. “Tenho meus documentos retificados, tenho diploma, tenho família e sou muito respeitada, porque minha vida é lutar para um mundo melhor e sem preconceito! Espero que a justiça seja feita!”, disse a professora.
Após as críticas do deputado, a professora apagou o vídeo nas redes sociais.
Proibição de celulares foi questionada
O deputado João Henrique Catan (PL) afirmou que a situação seria uma ‘prova’ de como a proibição dos celulares impede os alunos de ‘ajudar a fiscalizar’.
O deputado Rinaldo Modesto (Podemos) disse que conhece a diretora da escola e já havia manifestado mensagem para ela a questionando sobre o episódio. “Isso são casos isolados. É preciso que refutamos qualquer tipo de comportamento que deturpe a formação, principalmente nessa idade das crianças”, defendeu.
O presidente da Casa, Gerson Claro (PP), disse que o assunto merece voltar com as explicações sobre os questionamentos do deputado Catan.
Outro ponto questionado pelo deputado do PL foi o uso e divulgação da imagem das crianças pela professora. Segundo a legislação, é necessária a autorização dos pais ou tutores dos menores. Catan ainda questionou o conteúdo ensinado na aula e em que momento foi autorizado à suposta servidora entrar na sala de aula vestida com o traje.
Por fim, o deputado disse que levaria o tema aos vereadores do Partido Liberal na Câmara Municipal para que assunto seja apurado no âmbito municipal.
Discurso agressivo, apontou deputada
Em resposta, a deputada Gleice Jane (PT) se manifestou dizendo que considerava o discurso de Catan homofóbico e agressivo. “Hoje o crime de homofobia é equiparado ao crime de racismo. Uma mulher transexual tem o direito de ser professora, de ser deputada. A transição de gênero não tem qualquer relação com conotação sexual. Precisamos entender o que é homofobia e educação. E o que a gente viu aqui foi um conteúdo homofóbico e criminoso, que estimula a morte de mulher trans no estado”, pontuou.
*Matéria alterada para atualização do posicionamento da Semed.