A propaganda eleitoral começa, oficialmente, em 16 de agosto e os candidatos terão menos de dois meses para colocar o nome em evidência e conquistar o eleitorado. Esta matéria mostra possibilidades de marketing nas campanhas deste ano e encerra a série sobre as despesas e apostas nas corridas eleitorais em .

O Midiamax já mostrou que uma campanha para prefeito em Campo Grande, por exemplo, pode ultrapassar facilmente mais que R$ 1 milhão, e que na última campanha os candidatos preferiram investir na boa e velha propaganda e em pessoal – como os cabos eleitorais. 

A pandemia de Covid-19 reservou algumas particularidades na corrida eleitoral de 2020, como menos atividades de rua e investimento maior em mídias sociais. 

Contudo, como será o pleito deste ano? O Midiamax ouviu especialistas em campanhas partidárias para entender o que pode funcionar ou deve ser deixado de lado neste ano. 

Internet mudou a forma de fazer política?

Mesmo com o avanço da internet e maiores possibilidades de conquistar o eleitorado no Tik Tok, Instagram, lives, etc., a campanha presencial deve continuar firme e forte. Nada deve substituir o aperto de mão e a conversa cara a cara. 

Conforme explica a consultora política, Kelly Lescano Batistote, a internet não mudou a forma de fazer política, mas adicionou uma modalidade. Vale lembrar que os maiores investimentos em propaganda foram para meios como rádios e TV. Impulsionamento de conteúdos também apareceu, mas com menor participação. 

“Afinal de contas, o que adianta a Internet, sem conteúdo, sem trabalho, sem apoiadores? De nada resolveria. Ou seja, no meu entendimento ela é uma ferramenta secundária. Eu acredito que a ferramenta presencial ainda seja mais eficaz”, defende.

Força das campanhas presenciais

O cientista político e professor da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Daniel Miranda, também reforça a caminhada conjunta das duas modalidades. “As estratégias tradicionais têm muito peso ainda [cabo eleitoral, adesivagem, rádio/TV, etc.]. Mas, é claro, o emprego focalizado do impulsionamento nas redes sociais têm cada vez mais importância, principalmente para consolidar o que é veiculado nas demais mídias”, explica. 

Já a jornalista e professora de marketing político, Hellen Quida, acredita que os candidatos passaram a ter a oportunidade de ter os próprios espaços no mundo digital. O desafio é unir as experiências off-line de uma forma estratégica ao universo on-line.

Confira: Com leis mais rígidas, custo por voto para ser eleito prefeito em Campo Grande caiu de R$ 11,26 para R$ 6,29 em 16 anos

A profissional no ramo político há 24 anos acredita que as mídias sociais, por exemplo, podem ser usadas para que o político mantenha um relacionamento constante com os eleitores, independente do período eleitoral e romper com o ciclo de falar com as pessoas, apenas para pedir votos em ano de eleição.

“Ao estreitar essa convivência frequente, em períodos como a pré-campanha, por exemplo, o político consegue estabelecer conexões mais positivas com os eleitores e ter caminhos abertos para o pedido de voto na campanha oficial, que começa em agosto”, aponta. 

O que não dá mais certo?

As especialistas em campanhas eleitorais também apostam no que não deve funcionar ou cair em desuso em 2024. Entre elas, estão os grupos de WhatsApp que não dão o mesmo retorno como anos atrás. “Penso que essa é uma alteração relevante, que hoje não dá mais o retorno como antigamente”, acredita Kelly Batistote 

Já Hellen Quida acredita que os adesivos com os nomes dos candidatos são fracos em chamar a atenção e conquistar o eleitorado, já que não contam quem é aquela pessoa e nem criam conexão. 

Campanhas presenciais não perdem espaço para a internet. (Robert Owen-Wahl por Pixabay, Jornal Midiamax)

“O que oferece retorno ao político, tanto em mandato, ou em disputa eleitoral é construir uma narrativa que conquiste o eleitor. Essa narrativa precisa ter os interesses da população e mostrar que o político conhece, domina essas demandas e conhece as soluções […] aquele que seguir impondo suas ideias, sem pensar no bem-estar das pessoas, postar conteúdos que interessam a ele, político, e não à população, está fadado ao fracasso”, defende.

Na visão de Kelly, uma boa aposta seria procurar uma equipe de coordenação preparada e que não seja somente uma indicação. 

“O coordenador ou consultor da campanha, precisa migrar, caminhar em todos os setores. A campanha eleitoral precisa ser tratada de forma profissional, com gestão, organização, planejamento e execução”, explica. 

Apostas para 2024?

Técnicas como a pesquisa porta a porta, visita aos bairros, reuniões com lideranças para ouvir os moradores, podem se tornar matéria-prima para conteúdos atrativos e cativantes nas redes sociais.

Hellen Quida alerta que os eleitores ficaram mais exigentes sobre a escolha dos candidatos, que precisam se esforçar para conquistar cada voto. 

“Para chegar ao coração desse eleitor, os pré-candidatos precisam agora na pré-campanha aproveitar o tempo, com estratégia para se apresentar às pessoas e antes de fazer suas propostas, e dizer que é candidato, ouvir o que elas querem e pensam sobre a cidade. E a partir dessas respostas, se posicionar como alguém que possa ajudá-las a melhorar o lugar onde vivem”, aconselha. 

Por outro lado, Kelly Batistote aposta que o WhatsApp será a ferramenta do momento e alerta para o uso de inteligência artificial, como nas deep fakes, em que são forjados áudios e vídeos de uma pessoa com a ajuda da tecnologia. 

“Infelizmente, é uma modalidade muito utilizada ainda, uma pena mesmo com as ressalvas, regras e rigores da lei”, lamenta. 

Bom orçamento garante vitória?

Cifras milionárias nem sempre serão sinônimo de vitória nas campanhas eleitorais. Levantamento do Midiamax mostrou que o custo por voto dos candidatos nas eleições passadas variaram de R$ 0,09 a pouco mais de R$ 280. Alguns postulantes com os menores orçamentos alcançaram boas colocações na corrida eleitoral. 

Entretanto, o cientista político Daniel Miranda alerta que campanhas com pouca estrutura sofrem mais para ganhar o pleito. O docente aponta que bom orçamento não é sinônimo de vitória, mas geralmente baixo orçamento é sinônimo de derrota. 

“Sem estrutura, sem produção profissional de vídeos/materiais de campanha, sem profissionalismo no uso das redes sociais para impulsionar a propaganda, etc., é muito difícil chegar de modo sólido aos eleitores. E tudo isso não é barato. Então, gastar muito dinheiro não garante apoio, mas não gastar torna a vitória mais difícil”, diz. 

Dicas para os iniciantes

Em toda campanha eleitoral há os velhos nomes da política, mas também diversos novatos que querem iniciar a carreira política. 

Para quem já é veterano, Kelly Batistote aconselha a mostrar o início, meio e fim do cumprimento das promessas feitas na campanha anterior. As eleições são a prova se o candidato fez ou não um bom trabalho em quatro anos. “Acredito ser essa a grande sacada para os corredores da reeleição”, diz. 

Já Hellen Quida orienta que os novatos e veteranos precisam pesquisar. É necessário estudar a história da cidade, buscar informações em sites como IBGE, TSE, TRE, visitar os bairros e ouvir as pessoas.

Além disso, conhecimentos sobre a lei eleitoral brasileira, ideologias partidárias, marketing e administração também farão a diferença na hora de contar os votos no dia 6 de outubro

“Ao conversar com a população, conhecendo suas dores, dificuldades, sonhos e necessidades, o político se abre para deixar de pensar em si mesmo e trabalhar pelas pessoas. Tendo isso em mente e levando esse posicionamento para as mídias digitais, tanto o jovem político, como o veterano vão ter a capacidade de construir narrativas produtivas que conquistem os eleitores”, aposta.

Confira as outras matérias da série:

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