Após suspeita de uso político do Proinc, vereadores falam em ‘herança maldita’ de Marquinhos

‘Administração do Marquinhos foi muito ruim para os bairros de Campo Grande’, destaca parlamentar

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marquinhos caso
Foto: Marcos Ermínio, Arquivo, Jornal Midiamax

Vereadores de Campo Grande discutiram nesta quinta-feira (30) a suspeita de uso político do Proinc (Programa de Inclusão Social) para abrigar cabos eleitorais na gestão do ex-prefeito de Campo Grande Marquinhos Trad (PSD). Da base da prefeita, o vereador Edu Miranda (Patriota) destacou que a situação da folha é uma ‘herança maldita’ de Trad.

“Isso é uma herança maldita. Tem a arrecadação que a gente recebe no papel, mas não tem esse dinheiro no cofre para atender. Aí aumenta a dívida, porque a prefeita Adriane, quando vice, não sabia disso. Ela não assinava os papéis. E acabou herdando essa herança. Ela está trabalhando para melhorar a situação”, defendeu Miranda.

Luiza Ribeiro (PT) destacou que o programa foi usado eleitoralmente por Marquinhos. “Conseguimos avançar e revelar as coisas. Não é possível que persista. Junto com a folha de pagamento devem vir as informações do Proinc. Especificamos e esperamos que a informação venha completa”, informou.

Zé da Farmácia (Podemos) disse que a administração do ex-prefeito foi ruim, principalmente para os bairros de Campo Grande. “Eu falo tranquilamente, não tenho nada para esconder. Moro no bairro e vivo a realidade. Acredito que a prefeita não tem nada a esconder, apoiamos a investigação. Acredito que se tiver, tem que jogar na banca porque ela não tem que carregar uma cruz que não é dela. O problema do Proinc vem do Marquinhos Trad que inchou a folha de pagamento e faltam recursos agora”, pontuou.

Suspeita de cabos eleitorais

“É o maior esquema de cabos eleitorais que Campo Grande já teve, de 2017 para cá, na gestão do Marquinhos”, afirmou na quarta-feira (29) o vereador Marcos Tabosa (PDT), que analisa a lista do Proinc (Programa de Inclusão Profissional), suspeita de integrar a ‘folha secreta’, enviada à Justiça pela Funsat (Fundação Social do Trabalho) junto com o vereador André Luis (Rede).

Com a lista completa desde 31 de janeiro, os vereadores analisaram e informaram com exclusividade ao Jornal Midiamax que existem ao menos 36 beneficiários no programa desde 2012. “Foi um programa criado para dar assistência de, no máximo, dois anos. Essas pessoas estão há uma década na lista”, diz Tabosa.

Os vereadores querem contratar uma auditoria do próprio bolso para formalizar uma denúncia ao MPMS (Ministério Público do Estado de Mato Grosso do Sul), à polícia e ao TCE-MS (Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso do Sul).

Viagens internacionais

A reportagem teve acesso aos nomes levantados pelos gabinetes. Além dessas pessoas, outras 17 recebem pelo programa. Todas teriam, segundo os vereadores, ‘empresas de capital social elevado em seus nomes ou perfis em redes sociais com diversas viagens, padrão de vida incompatível com pessoas mais humildes, que deveriam fazer jus ao programa’.

“Foi um programa criado para atender pessoas em vulnerabilidade. A justificativa para manter esse pessoal recebendo essa ‘granina extra’ é que eles são cabos eleitorais da gestão do Marquinhos Trad. São pessoas que têm casa, carro, viagens. É um absurdo”, revela Tabosa.

A suspeita levantada pelos vereadores corresponde a práticas de crime eleitoral, que podem ter sido cometidas pelo então prefeito de Campo Grande.

O Proinc é um programa criado para dar assistência a pessoas em vulnerabilidade social. Tanto que são requisitos para a inscrição ter idade igual ou superior a 18 (dezoito) anos até 67 anos; ter inscrição no CadÚnico (Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal); estar em situação de desemprego por período igual ou superior a 01 ano; declarar residência no município de Campo Grande há, pelo menos 01 ano (apresentar comprovante de residência); possuir renda familiar per capita não superior a meio salário mínimo vigente.

Finanças da Prefeitura

Assim, os vereadores suspeitam que o Proinc faça parte da ‘folha secreta’ da Prefeitura. Questionado anteriormente pelo Jornal Midiamax sobre a suspeita de folha secreta, Marquinhos Trad (PSD) negou o pagamento de qualquer tipo aos secretários. O ex-prefeito pede que tudo seja consultado no Portal da Transparência, justamente o alvo de reclamação dos vereadores por falta de dados.

Durante audiência pública de prestação de contas para exposição de Relatório de Gestão Fiscal, o advogado dos sindicatos da Guarda Civil Metropolitana, dos Médicos e dos Profissionais de Enfermagem, Márcio Almeida, questionou a atual secretária municipal de Finanças e Orçamento, Márcia Helena Hokama, sobre a possível existência do que ele denomina de “folha secreta”.

Hokama assumiu a pasta depois que Pedro Pedrossian Neto (PSD), titular das finanças na gestão de Marquinhos Trad, saiu para se candidatar a deputado estadual.

Uma das suspeitas, inclusive, é de que o inchaço nos pagamentos de pessoal na prefeitura de Campo Grande tenha a ver com a campanha do PSD nas últimas eleições de 2022 em Mato Grosso do Sul.

Trad renunciou ao cargo para concorrer ao Governo do Estado, mas acabou em sexto lugar após ser implicado em escândalo de assédio sexual. Ele virou réu por assédio sexual contra 7 mulheres e o caso continua na Justiça.

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