Em evento nacional, pastores da Igreja Presbiteriana estudam ‘o que fazer’ com membros esquerdistas no Brasil

Documento oficial diz que pensamento de esquerda tem ‘nefasta influência’ entre presbiterianos

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Imagem do concílio, que acontece até o dia 31 em Cuiabá

Não é só o vídeo de apresentação da 40ª Reunião do Supremo Concílio da IPB (Igreja Presbiteriana do Brasil), que este ano acontecerá em Cuiabá, no Mato Grosso, que chama atenção neste ano a quem deve comparecer ao evento. Fora a exuberância do Pantanal e das cachoeiras da região, salta aos olhos o documento que já circula nos grupos de WhatsApp que pede a nomeação de uma ‘Comissão especial para elaboração de Carta Pastoral sobre a incompatibilidade da fé Cristã com o Marxismo e derivados’.

Os ‘derivados’ são listados em seguida: “Ideologia de Gênero, Transexualidade, Feminismo, Agenda Abortista”. Isso porque diversas Igrejas Presbiterianas pelo país reclamam, no Concílio, de posicionamentos ‘de esquerda’. A decisão pode afetar as igrejas de todo o país e já preocupa membros em Mato Grosso do Sul.

De acordo com o documento, o Presbitério de Roraima cita ‘nefasta influência do pensamento de esquerda’. O Presbitério Central do Vale do Aço pede consulta sobre ‘membros da IPB adeptos a pensamentos de esquerda’ e Pernambuco pediria posicionamento do Concílio sobre a pós-modernidade.

Todos os assuntos são incluídos como ‘partidos de esquerda’ pela Comissão ‘XI’, que pede a nomeação de seis reverendos e quatro presbíteros em comissão permanente para reafirmar que “o pensamento de esquerda não seja visto como simples teoria humanista, mas como uma Cosmovisão, que abrange todos os nichos da realidade”.

O documento cita casos analisados pela Igreja Presbiteriana em 1954, 1956, 1965 e 1966. À época, a igreja consultou o Concílio sobre membro da igreja considerado comunista sobre estar à frente de uma escola dominical. Ele foi considerado incompatível.

Também foram enviadas consultas sobre o que fazer em caso de se ter um “obreiro comunista” e “oficiais em partido comunista”.

Comissão pede consulta após ser acionada sobre ‘pensamentos de esquerda’ (Reprodução)

Igreja Presbiteriana em MS e o Concílio

Em Campo Grande, o pastor auxiliar Matheus Blaya, da Igreja Presbiteriana, disse que não há um posicionamento local oficial até que o Concílio, que será finalizado no dia 31 de julho, seja concluído. “É um documento oficial, mas que ainda aguarda aprovação no Concílio. Até lá, não podemos nos manifestar sobre esse assunto”, disse.

Questionado se membros que se posicionam politicamente dentro da igreja sofrem algum tipo de represália, Matheus disse que somente o pastor titular poderia falar sobre o assunto, e pessoalmente. No momento, ele está de férias e só poderá receber a reportagem com horário marcado, “muito provavelmente só após o Concílio, no início de agosto”.

Núcleo de evangélicos de esquerda

Mariuza Guimarães é do Núcleo de Evangélicos do PT em Mato Grosso do Sul e disse que o documento não tem a ver com o discurso Cristão. “É um discurso de ódio, que em nada tem a ver com o Cristão, que prega a dignidade humana e a união, independente da sua posição”, explica.

“Jesus não escolhia nas suas ações atender somente a judeus. Pelo contrário, atendia a todas as fés e todos os povos. Quando Ele dividiu cinco pães e dois peixes para mais de 5 mil pessoas, o fez para mostrar que temos que estar em comunhão. Esse discurso da direita foge do que está na Bíblia”,lamenta Mariuza.

Ela explica que o Núcleo existe para que a direita não reduza o Cristianismo e a esquerda. “A direita quer imputar ao Estado as questões que eles consideram morais, sendo que é dever sim do Estado e da sociedade acolher os grupos historicamente excluídos, como negros, gays, pessoas com deficiência, que eram excluídas até de casa, mortas antigamente. Devemos pensar o mundo com amor e não com esse ódio todo”, finaliza.

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