A recente debandada de filiados do MDB para outros partidos que estão diretamente no poder ou possuem forte aliança com estes ainda parece ser uma ‘ferida aberta’ para as lideranças emedebistas em Mato Grosso do Sul. Neste domingo (15), as críticas a quem saiu do partido foram reforçadas durante a convenção da sigla.

Ex-chefe do Executivo campo-grandense e estadual, André Puccinelli passou o bastão do comando do partido para o ex-presidente da Assembleia Legislativa, Junior Mochi, e também aproveitou para fazer críticas aos que saíram do partido. Recentemente, ele revelou ter ficado magoado com alguns nomes que trocaram de sigla.

“Partido tem que ser igual time de futebol. A gente veste a camisa e não larga mais. A gente troca tudo, marido, esposa, emprego, partido, mas não muda de time. Por que será que isso acontece? O mesmo temos que fazer com o partido. Dizem que somos poucos hoje, mas não podem esquecer que somos fortes”, aponta o ex-governador.

André prosseguiu sua fala e adotou, a partir daí, um tom mais crítico. “Aqui estão os matuzalênicos como eu e o Moka, e os jovens como o Mochi, Renato Câmara e Simone Tebet. Quando dizem que temos poucos vereadores, é por que nós não compramos vereadores nem compramos a consciência de prefeitos que se vendem por asfalto”.

Por fim, o ex-governador frisou que não vai “deixar de ser amigo” de ninguém que se foi do partido, porém, é preciso esquecer essas pessoas “em termos de partido”. Antes de André, a senadora Simone Tebet e o ex-ministro Carlos Marun comentaram o assunto.

“Meu coração é MDB. Sou e vou morrer emedebista. Se dizem estamos pequenos hoje, em 1982 eramos menores ainda e enfrentamos tudo”, destaca a senadora, que revelou ainda ter recebido proposta para se lançar à presidência do Senado em consenso para vencer a disputa, porém ela desistiu pois uma das condições era trocar de partido.

Emedebistas revelam 'ferida aberta' em críticas a ex-integrantes do partido
Ex-ministro Marun é o mais enfático nas críticas (Henrique Arakaki, Midiamax)

Já Marun foi mais áspero em suas declarações. “Tem gente saindo? Azar o deles. Não vai demorar muito para bater em nossa porta pedindo para voltar”, cravou o ex-ministro em discurso, que voltou a repetir as críticas em conversa com a reportagem.

“A tentação da traição é um dos desvios de personalidade mais presentes no ser humano. A gente lamenta os que nos deixaram e bola para frente”, comenta. Em outra ocasião, ele já havia emitido carta afirmando que cortaria relações com os “desertores”.

Momento delicado

A debandada de filiados do MDB ocorreu após a derrota nas eleições de 2018, a qual estava programada a candidatura de André Puccinelli, maior líder da legenda, ao Governo do Estado. Porém, ele foi preso na véspera da convenção que findaria seu nome.

O caso gerou prejuízos políticos ao partido e momentâneo enfraquecimento. Porém, para alguns, como o prefeito de Costa Rica e coordenador da campanha de Mochi, Waldeli dos Santos Rosa, o momento foi de ruptura e de “declaração de independência”.

Marun, mais enfático, reclama que houve uma intervenção indevida naquele pleito e que o “candidato que liderava as pesquisas” foi retirado de forma ilegal e violenta das eleições. “O eleitor foi usurpado do direito em votar no André, que é o que queria fazer. Um episódio triste na história política do Estado”.

Além disso, ele indica que o ressurgimento do partido parte de adotar uma postura de bom senso em meio a uma disputa polarizada na política atual, fugindo dos extremos. “Entendemos que o caminho, o futuro do Brasil, acontece mais pelo centro”, argumenta Marun, que em seguida completa a fala à reportagem.

“Isso aconteceu na Ditadura também. Enquanto uns apoiavam o regime, outros enfrentavam na luta armada, e o MDB optou por enfrentá-la pela via política, uma atitude de bom senso”, conclui Marun, que ficou nacionalmente conhecido por sua defesa à gestão do também emedebista, mas de São Paulo, Michel Temer, na presidência do país.