5 anos depois, Puccinelli vira réu por coagir servidores durante campanha

Matéria do jornal Midiamax revelou escândalo em 2012

Ouvir Notícia Pausar Notícia
Compartilhar

Matéria do jornal Midiamax revelou escândalo em 2012

Foi no dia 21 de agosto de 2012 que o jornal Midiamax noticiou um escândalo que ‘balançou’ a classe política sul-mato-grossense. Gravações as quais o jornal teve acesso mostraram o ex-governador André Puccinelli (PMDB) coagindo servidores públicos estaduais da Secretaria de Estado de Trabalho e Assistência Social (Setass) a votarem no então candidato a prefeito de Campo Grande, Edson Giroto (PR), hoje investigado pela operação Lama Asfáltica.

Cinco anos depois, a Justiça Federal acatou o pedido do MPF-MS (Ministério Público Federal em Mato Grosso do Sul) e agora, o italiano é reu por improbidade administrativa. A informação foi confirmada hoje, pela assessoria de imprensa da Procuradoria da República.

“- Já te chamou e você ficou com falta!

– Fiquei nada…tô aqui”

– Diz que ia ser exonerado quem não veio”

As aspas indicam parte do diálogo que mostra a coerção. A fala é uma das servidoras, que parecia assustada com a possibilidade da companheira de trabalho perder o cargo.

Puccinelli chegou a ser denunciado à Justiça em 2012, mas foi inocentado em novembro de 2013 por decisão do Tribunal Regional Eleitoral, que entendeu não haver provas da coação, apesar de a juíza responsável, Denise Dódero, estranhar o governador estar com uma listagem de servidores, aos quais era perguntado em quem iam votar.

O MPF, no entanto, apresentou novo recurso em 2015 e o parecer da PRE (Procuradoria Regional Eleitoral), entendeu a necessidade de investigar o ex-governador e abriu, novamente, a ‘caixa preta’, que parecia ter sido jogada fora.

Procuradoria da República

A Procuradoria da República pediu R$ 2,4 milhões de multa pela coerção, em ação ingressada pelo Núcleo de Combate à Corrupção (NCC). Além da Setass, outra secretaria, de acordo com o MPF, foi alvo de coerção, a de Desenvolvimento Agrário e Turismo (SEPROTUR).

“A conduta do ex-governador viola os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade, tal como atenta contra os princípios da impessoalidade e moralidade administrativa. O Ministério Público quer que o político seja punido tanto na esfera cível, por improbidade administrativa, quanto na eleitoral”, pediu a procuradoria, em janeiro de 2016.

Na reunião, Puccinelli chamava os servidores nominalmente e conferia seus votos:

Puccinelli – Graziela da Silva Tenório?

Servidora – Giroto e Otávio Trad.

Puccinelli – Você era Edil, agora mudou para Otávio Trad

Funcionário comenta – “Vixe, que lei dura…” (todos riem da “linha dura”). Na próxima chamada, a funcionária se mostra visivelmente constrangida, e dá satisfação ao governador:

Puccinelli  – Cássila Andreá Alves

Servidora – Giroto e Pastora Marta

Puccinelli  – “Fala pra pastora Marta que ela colocou Giroto no microscópico…eu tenho que comprar uma luneta pra enxergar .

Servidora- (preocupada) – “Mas no meu carro tá grande”

Puccinelli  – Se ela não colocar grande no carro dela, eu vou “girotear” a Marta.

Servidora – O meu tá no carro com emblema grande!

Puccinelli – Então fala pra ela que eu disse…“O do Giroto tem que ser daquele fechado no vidro traseiro do carro”. Não tem que dar mole pra vereador!

Puccinelli  – José Carlos Lopes Silva?

Servidor – Edil e Giroto.

Puccinelli  – Nós vamos por pra votar pra Carla aqui, tá bom?

Servidor – Tá bom.

Puccinelli  – Agora mudou, tá bom?

Servidor – Tudo bem.

O teor foi parar nas mãos da Procuradoria, e esta entendeu que o “Vídeo – encaminhado ao MPF para parecer ano passado, já em grau de recurso eleitoral – mostra Puccinelli listando, nominalmente, servidores das Secretarias de Estado e ordenando que os comissionados informassem em quais candidatos votariam para os cargos de prefeito e vereador. O político aparece fazendo anotações e orientando alguns de seus subordinados a manter a intenção de voto em candidatos da coligação por ele apoiada”.

Para os procuradores que investigam o caso, vídeo e áudio são suficientes para constatar a “óbvia coação praticada por André Puccinelli contra comissionados a ele subordinados, em benefício de candidatos apadrinhados e dele mesmo, com quebra da isonomia, da impessoalidade, da legalidade e da moralidade administrativa”.

Se for condenado, André Puccinelli pode ficar 8 anos inelegível.

Conteúdos relacionados