Primeira reunião do grupo foi adiada para esta quarta-feira
Um ‘conjunto probatório limitado’ pode dar vida curta à recém-criada CPI da Enersul na Assembleia Legislativa. Entre parlamentar que emprega ex-diretor da empresa e colegas minimizando elementos que motivaram a abertura da investigação, a primeira reunião do grupo foi adiada para esta quarta-feira (8).
Nesta terça (7), o deputado estadual Beto Pereira (PDT), cotado para ser o relator da CPI, voltou a minimizar o fato de ter um ex-diretor da Enersul lotado em seu gabinete. “Não vejo nenhum impedimento, ele deixou bem claro que foi mandado embora e tem processo na Justiça Trabalhista contra a empresa. Meu trabalho será pautado pela isenção, sem nenhum tipo de pressão política”, disse o pedetista.
Valter José Bortoletto, ex-diretor de relacionamento com o Poder Público da Enersul – desde o ano passado controlado pela Energisa –, trabalha para o deputado. Ao refutar eventuais comprometimentos à investigação, Pereira diz, também, que até o momento não há subsídios para o trabalho da CPI, e questiona o fato de um “relatório de um ano atrás” estar embasando denúncias.
Segundo o pedetista, um dos objetivos da CPI será levantar documentação que evidencie suposto esquema de corrupção na empresa. Segundo o deputado Marquinhos Trad (PMDB), proponente da investigação, auditoria da PWC (Pricewaterhouse Coopers) identificou desvios de R$ 700 milhões na concessionária, além de uma suposta lista de beneficiários de uma espécie mensalão.
Por outro lado, o resultado prático pode ser para o bolso do consumidor. Caso seja provado que a Enersul tenha maquiado números para obter reajustes na tarifa, será solicitado à Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) a revisão tarifária, segundo entendimento do parlamentar.
O mesmo tom de discurso é adotado por Paulo Corrêa (PR), apontado como presidente da CPI. “É muito legal que ela tenha sido funcionário, vai ter mais detalhes para fornecer”, diz o deputado sobre a ligação entre um ex-diretor e o colega pedetista.
Caso seja eleito presidente da comissão, diz Corrêa, tudo será colocado “às claras”. “Até agora, só vi 24 das 200 páginas do relatório”, comenta ele, também questionando o fato de o documento ser apresentado um ano depois de ter sido elaborado: “parece que tem um monte de interesse envolvido”.
Paulo Corrêa garantiu que não vai trabalhar com uma “CPI da suposição, mas de ação”. “Se desmandos influenciaram a tarifa, vamos pedir a devolução do dinheiro, caso contrário vamos encaminhar o caso ao MPF (Ministério Público Federal) e instâncias competentes para investigarem”, conclui.
Também na visão do parlamentar do PR, o “conjunto probatório é limitado”. “Tudo precisa ser investigado”, finaliza, garantindo não haver menção a políticos na suposta lista de eventuais beneficiários do esquema denunciado.
Pedro Kemp (PT), outro membro da CPI, diz que espera autonomia do grupo para avaliar estas questões. “Não podemos condenar ninguém previamente”, pondera o petista.
A primeira reunião da CPI foi cancelada por solicitação de Marquinhos, que está em Brasília (DF). O encontro, remarcado para a manhã de quarta-feira (8), deve definir quem será o presidente da CPI que, por sua vez, indica o relator.