‘O PMDB não derrotou, salvou o governo de um constrangimento na Copa’, diz o líder do partido

“Ideli, nunca fui tão governo quanto na sessão de hoje. Se a gente não faz isso, o resultado seria desastroso. Pergunte ao Chinaglia que ele te conta”. Pelo telefone, Henrique Eduardo Alves, líder do PMDB, tentava explicar à ministra Ideli Salvatti, coordenadora política do Planalto, o que ocorrera no plenário da Câmara. Sócio majoritário do […]

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“Ideli, nunca fui tão governo quanto na sessão de hoje. Se a gente não faz isso, o resultado seria desastroso. Pergunte ao Chinaglia que ele te conta”. Pelo telefone, Henrique Eduardo Alves, líder do PMDB, tentava explicar à ministra Ideli Salvatti, coordenadora política do Planalto, o que ocorrera no plenário da Câmara.

Sócio majoritário do PT na coligação que dá suporte congressual a Dilma Rousseff, o PMDB acabara de engrossar uma obstrução que, juntando governistas e oposicionistas, impedira a votação da estratégica Lei Geral da Copa.

Em conversa com o blog, Henrique reproduziu a essência do que dissera a Ideli. “Hoje, nós não derrotamos, salvamos o governo de uma situação constrangedora relacionada à Copa.” Ele repisou: “Nunca o PMDB foi tão governo quanto hoje.”

Como assim? Segundo Henrique, o governo teria amargado uma derrota caso a sessão prosseguisse. Os deputados derrubariam o artigo que autoriza a venda de bebidas alcoólicas nos jogos da Copa.

A atmosfera estava intoxicada desde a véspera. Mas o Planalto dava de ombros. Queria porque queria arrancar do plenário da Câmara, ainda nesta quarta (22), a aprovação da lei da Copa. Uma maioria suprapartidária condicionava a votação a uma providência prévia.

Exigia-se dos operadores do governo que marcassem a data para a apreciação de outro projeto: o Código Florestal. Sob ordens do Planalto, Arlindo Chinaglia (PT-SP), novo líder do governo na Câmara, remou na contramaré.

Além de refugar o agendamento do Código, desafiou os humores dos amotinados. Chinaglia pediu ao presidente da Câmara, Marco Maia (PT-SP), que levasse as regras da Copa a voto. Assim mesmo, meio na base do vai ou racha. Rachou. A maioria dos partidos pró-Dilma juntou-se às legendas anti-Dilma.

Sentindo-se vitaminado, o deputado ACM Neto, líder do DEM, levou à mesa um requerimento pedindo que o projeto da Copa fosse retirado da pauta de votações. Obteve adesões em penca. A oposição foi a Henrique Alves. Instou-o apoiar o requerimento. “Respondi que não poderia fazer isso”, conta o líder pemedebê.

“Disse: não posso dar a vitória a vocês numa questão dessas”. Henrique correu o condomínio governista. Foi de líder em líder. Percebeu que o tempo fechara. “As nuvens não eram cinzas, eram negras”.

Decidiu agir para converter o furacão em tempestade. “Se votasse a lei da Copa, o sentimento de insatisfação, potencializado pela falta de definição sobre o Código Florestal e outras questões menores, derrubaria a autorização de bebidas nos estádios.” Havia a alternativa de ajudar a oposição a aprovar o seu requerimento, retirando o projeto da pauta. “Seria um vexame igualmente grande para o governo”.

Havia ainda a hipótese de organizar uma fuga estratégica, esvaziando o plenário. Igualmente vexatório. “Tínhamos cerca de 400 deputados presentes”, contabiliza Henrique. “Seríamos obrigados a manter no plenário apenas 50 ou 60. Imagine o vexame!” Foi quando lhe ocorreu aderir à tática da obstrução, que já se alastrava entre os governistas.

Antes de achegar-se ao microfone, Henrique foi a Chinaglia. Informou-o sobre sua decisão de abraçar o mal menor, empurrando o PMDB para dentro do movimento da paralisia. “A obstrução equivale a um pedido de tempo”, diz Henrique, vertendo o parlamentês para o português. Tempo para quê? “Assentada a poeira, serenados os espíritos, desarmados os ânimos vamos tentar negociar o Código Florestal. Acertando isso, limpamos o caminho para transformar uma maioria silenciosa que ameaça a lei da Copa sem querer numa estridente maioria a favor.

O projeto está pronto. Não tem o que discutir. É compromisso do Brasil com a Fifa.” Para tirar o meio ambiente do caminho dos estádios, afirma Henrique, é imperioso marcar a data para a votação do projeto do Código. De preferência em abril. “Não há como fugir disso. Numa Casa de 513 deputados, 400 querem votar. Não adianta dizer que não vota. Não existe milagre. Problemas reais precisam ter soluções realistas.”

O governo sabe que são grandes, muito grandes, enormes as chances de os deputados pintarem com cores menos esverdeadas a versão do Código Florestal aprovada no Senado. Uma versão que suavizou um texto que a Câmara atravessara na traquéia da Dilma no ano passado. Com os votos do PMDB.

Os deputados querem restituir ao Código parte dos agro-artigos que o Senado mastigou. Receosa de passar vexame na conferência Rio+20, em junho, Dilma prefere empurrar a votação com a barriga.

Tudo indica que não conseguirá. Nessa hipótese, não lhe restará senão a alternativa do veto. Melhor negociar, avalia o líder do PMDB. Sob pena de “perder”. Henrique diz que, nessa matéria, não há na Câmara aquela tradicional dicotomia governo versus oposição. Pelas suas contas, os deputados ruralistas somam entre 200 e 220 cabeças. Espraiam-se por todas as legendas.

“Um puxa a adesão de um amigo, outro atrai a simpatia do partido. E, quando vemos, há 400 deputados numa mesma direção. Como impedir que votem? Impossível.” Henrique estima que há consenso em relação a algo como 96% do texto do código. O problema é que os 4% restantes constituem o que um auxiliar de Dilma chamou de “coração verde” da proposta. Esta semana está morta.

A próximo deve ser consumida em negociações. Só na seguinte a Lei da Copa deve retornar ao plenário. “A negociação é difícil, às vezes parece impossível. Mas não há outro caminho. Vamos sentar com os setores ambientais do governo e gastar saliva. Nossa obrigação é tentar”, encerrou Henrique.

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