Em coletiva, Puccinelli tentou mais uma vez explicar porque o deputado Ary Rigo disse que a Assembléia “devolvia” R$ 2 milhões por mês para André. Ao contrário do que disse à TV na primeira tentativa, o governador se desmentiu e disse que nunca em seu mandato houve sobras no duodécimo repassado para o parlamento.

O governador de Mato Grosso do Sul tentou, mais uma vez, explicar porque o primeiro-secretário da Assembléia Legislativa afirmou em vídeo gravado durante operação da Polícia Federal que “devolvia” R$ 2 milhões por mês para (PMDB). Em coletiva marcada às pressas nesta sexta-feira (24), o peemedebista se desmentiu e jogou o problema para cima do deputado que era aliado até a divulgação da gravação.

Puccinelli leu uma nota de esclarecimento na qual se limita a dizer que “não há repasse ou retorno mensal de recursos feitos a Desembargadores, Procuradores ou ao Governador”. A declaração oficial desmente a primeira tentativa de explicação de André. Procurado pela TV Globo, o governador tinha admitido que houvesse devolução apenas dois dias antes da coletiva de hoje.

“Não é para o André que ele devolvia! Ele devolvia para o Governo do Estado”, disse Puccinelli falando de si mesmo em terceira pessoa para a reportagem, que foi levada ao ar no Jornal da Globo da última quarta-feira (22) em rede nacional.

Hoje a declaração foi o oposto!

“Não houve repasse nem retorno de dinheiro para o executivo. Não houve repasse nem retorno de dinheiro para o Tribunal de Justiça, não houve repasse nem retorno de dinheiro da Assembléia para o Ministério Público”, repetiu Puccinelli pausadamente aos repórteres na coletiva.

“São inverdades, foram palavras levianas, irresponsáveis e inverídicas e infelizes do deputado Ary Rigo. A ele cabe explicar de onde ele inventou essa estória de repasse”, esquivou-se.

Questionado sobre a contradição, o governador respondeu rispidamente: “Nunca houve repasse ou retorno de dinheiro! Não mudei o discurso, é o mesmo!” Mediante a insistência de repórteres que citavam a reportagem veiculada dois dias atrás, Puccinelli limitou as perguntas e em seguida encerrou a entrevista.

O governador anunciou aos repórteres que já teria entregado seu “histórico bancário” para o Ministério Público, e que abriria mão de seu sigilo fiscal no período de 2007 até 2009, mas não informou se sugeriria o mesmo aos assessores próximos que o acompanham desde quando era prefeito de Campo Grande. “Não sei dos demais, sei de mim!”

Justamente durante esse período, ele foi denunciado tanto pelo MPE quanto pelo MPF (Ministério Público Federal) por suposto enriquecimento ilícito. E a investigação só não seguiu adiante porque a Assembleia Legislativa não autorizou.

ALMS segurou investigação por enriquecimento ilícito

O caso está parado no STJ (Superior Tribunal de Justiça) e seguirá adiante assim que Puccinelli deixar o cargo de governador.

A coletiva convocada pelo governador, candidato à reeleição, tem a ver com vídeo exibido no You Tube. Num diálogo gravado por um jornalista, com equipamento da Polícia Federal, o primeiro-secretário da Assembleia Legislativa, o deputado estadual Ary Rigo, do PSDB, disse que a Casa deu R$ 2 milhões a Puccinelli. O vídeo apareceu na internet na terça-feira.

No dia seguinte, Puccinelli disse em entrevista a TV Morena que os R$ 2 milhões citados pelo parlamentar seriam a quantia devolvida pelo Poder Legislativo ao governo do Estado “e não a Puccinelli”. A versão é confusa e note as razões:

1 – De 2007 para cá em nenhum fim de ano, a Assembleia devolveu R$ 2 milhões ao governo estadual.

2 – A única vez que o Poder Legislativo devolveu recurso ao governo ocorreu em dezembro de 2008 e o valor foi esse: R$ 612.802,28.

3 – Na primeira entrevista acerca do vídeo, Puccinelli disse que o que o deputado tratava no diálogo era de devolução, só isso.

4 – Já na coletiva de hoje, o governador disse ter interpelado judicialmente o deputado Rigo, isto é, já discordando da devolução dos R$ 2 milhões.

“… repudio as afirmações levianas, irresponsáveis e inverídicas do deputado Ary Rigo e coloco-me à disposição para colaborar com qualquer averiguação”, escreveu Puccinelli numa nota distribuída na coletiva.

Agora, note o que o governo do Estado repassou a Assembleia Legislativa nos últimos três anos por meio dos duodécimos: em 2007, o Poder Legislativo consumiu R$ 138.035.750,73; no ano seguinte, foram gastos R$ 156.044.290,72 e, no ano passado, a Casa gastou R$ 179.818.208,79. E a previsão de gasto para este ano é de R$ 181 milhões.

Análise curta indica que de 2007 para cá, os repasses para a Assembléia não recuaram, pelo contrário, cresceram uma média de 40%.

E, em nenhum ano aparece a devolução de R$ 2 milhões, como sugere Ary Rigo no vídeo exibido no Youtube, maior rede mundial de compartilhamento de vídeo.

Puccinelli disse ter mandado um documento ao Ministério Publico dizendo que abriria mão do “sigilo fiscal, bancário e financeiro como já havia feito no início de meu mandato em abril de 2007”. O governador não cita que autorizou quebra de 2007 para cá, e, sim, de 1997 até 2007, período que chefiou a prefeitura de Campo Grande por oito anos.

Em dezembro passado, o STF (Superior Tribunal de Justiça), por meio da ministra Nancy Andrighi, mandou um comunicado ao comando da Assembleia Legislativa, perguntando se podia tocar um processo contra Puccinelli, denunciado pelo MPF por enriquecimento ilícito. Contudo, 20 dos 24 parlamentares disseram “não” a proposta da magistrada e o processo está emperrado na corte. Já a mulher de Puccinelli, Bete, vai responder a mesma denúncia na Justiça Estadual.