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Polícia

Atendimento de homens dificulta sensação de acolhimento às vítimas, diz psicóloga que atuou na Deam

Psicólogas já registraram BO contra investigadores da Deam
Thatiana Melo -
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Casa da mulher brasileira/ Deam (Ana Laura Menegat, Midiamax)

Uma psicóloga que trabalhou na (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher) contou ao Jornal Midiamax sobre o atendimento recebido pelas mulheres que buscam ajuda na delegacia. Ela relatou a vergonha de muitas vítimas serem atendidas por servidores homens quando registram a ocorrência.

De acordo com a psicóloga, no tempo em que trabalhou na Deam flagrou várias vezes mulheres envergonhadas durante o atendimento. Em um dos casos, a psicóloga revelou que a vítima voltou à delegacia para complementar o BO (Boletim de Ocorrência), já que no dia estava muito nervosa e com vergonha de ser atendida por um homem, e teve o pedido de complementação negado.

A vítima foi até o setor psicossocial dizendo que o agente falou que ela não poderia complementar o boletim de ocorrência. A psicóloga, então, voltou com a mulher na delegacia, onde foi questionado o agente se o protocolo havia mudado.

Homens ‘se protegem’

O agente teria retaliado a psicóloga e se negou a fazer a complementação do BO para a vítima que presenciou toda a situação. “Uma postura toda controversa do acolhimento à mulher, parecendo estar a favor do autor. Como aquela sensação de que os homens se protegem”, disse a psicóloga.

A psicóloga ainda revelou ao Midiamax que, assim como ela, várias colegas que trabalham na Deam já sofreram assédio de agentes da delegacia, e que algumas chegaram a registrar boletim de ocorrência contra os próprios agentes. “O atendimento deveria ser feito por mulheres e não por homens, porque muitas vítimas sentem vergonha de relatar o ocorrido para um homem”, falou.

“Alguns investigadores que fazem o registro do B.O. ali, têm perfil tático, que foi transferido para a Casa da Mulher como forma de punição, então eles tocam o f*”, disse a psicóloga. Ela ainda disse que vítimas de que chegavam à delegacia e viam que era um homem que iria atendê-las ficavam desesperadas.

“Às vezes eu ia lá dentro (delegacia) e pedia se a delegada poderia atender, pois era mulher e o crime era muito delicado”. De acordo com a psicóloga que deixou a Deam, cerca de 80% dos escrivães e investigadores na unidade são homens.

O Jornal Midiamax entrou em contato com a Polícia Civil e Sejusp para saber sobre o quadro de funcionários homens, mas até o momento da publicação da matéria não obtivemos resposta.  

Várias reclamações

Após áudios gravados pela jornalista Vanessa Ricarte virem à tona, escancarando descaso e negligência no atendimento prestado pela Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher) de , diversas mulheres utilizaram suas para também relatar episódios em que foram vítimas de violência institucional na unidade.

Os relatos são angustiantes e carregam as dores de vítimas de um crime cruel que, ao invés de encontrarem conforto e atendimento humanizado, foram tratadas friamente e até culpabilizadas pela violência sofrida.

Em depoimento nas redes sociais, uma mulher compartilhou que quando esteve na Deam foi questionada por um policial “se realmente aquilo [boletim de ocorrência] era preciso”, já que a ficha do agressor era limpa e ela, a vítima, iria sujá-la. O homem nunca foi intimado.

“Desde a primeira reportagem que vi da Vanessa, senti que o caso dela viria para mudar essa realidade nojenta e machista que vivemos. Infelizmente perdemos uma grande mulher, porém, o que nos traz a esperança é saber que sua morte não foi em vão. Por Deus e a orientação que ela tinha, desmascarou não só a polícia, como toda a sociedade que julga e sempre diz que, se quiser, ‘é só largar’, é ‘só denunciar’. A mulher, até depois de morta, se passaria como culpada. É triste e lamentável”, desabafa.

Outro relato traz uma experiência muito similar. Neste caso, o escrivão, sem nenhuma empatia, teria insinuado que a vítima deveria ter feito ou escondido algo do agressor, para ele ter “chegado a esse ponto”. Ela continua seu depoimento afirmando que após registrar o boletim de ocorrência por agressão, sentou em uma cadeira na recepção para beber água e aguardar um carro de aplicativo. Neste momento uma funcionária se aproximou e informou que ela não poderia aguardar ali.

“Olhei para ela com meus olhos cheios de lágrimas e falei que só estava tomando água para me acalmar. Ela falou que eu deveria esperar lá fora. Totalmente despreparada. Me arrependi de ter ido! Os policiais que me levaram [para a Casa da Mulher] disseram que lá iam me amparar, que teria a GCM para me levar para casa. Antes de pedir Uber, perguntei se podiam me levar e disseram em voz de deboche: ‘como vamos carregar todas as mulheres que aparecem aqui?’”, conta.

Este último, traz uma reflexão preocupante. Com tantos relatos sobre o despreparo, desumanização e descaso nos atendimentos, muitas mulheres podem não se sentir seguras em ir denunciar seu agressor. No entanto, a denúncia se faz necessária. Se você é uma vítima e vive em um lar opressor, busque ajuda!

📍 Onde tentar ajuda em MS

Em Campo Grande, a Casa da Mulher Brasileira está localizada na Rua Brasília, s/n, no Jardim Imá, 24 horas por dia, inclusive aos finais de semana.

Além da DEAM, funcionam na Casa da Mulher Brasileira a Defensoria Pública; o Ministério Público; a Vara Judicial de Medidas Protetivas; atendimento social e psicológico; alojamento; espaço de cuidado das crianças – brinquedoteca; Patrulha Maria da Penha; e Guarda Municipal. É possível ligar para 153.

☎️ Existem ainda dois números para contato: 180, que garante o anonimato de quem liga, e o 190. Importante lembrar que a Central de Atendimento à Mulher – 180, é um canal de atendimento telefônico, com foco no acolhimento, na orientação e no encaminhamento para os diversos serviços da rede de enfrentamento à violência contra as mulheres em todo o Brasil, mas não serve para emergências.

As ligações para o número 180 podem ser feitas por telefone móvel ou fixo, particular ou público. O serviço funciona 24 horas por dia, 7 dias por semana, inclusive durante os finais de semana e feriados, já que a violência contra a mulher é um problema sério no Brasil.

Já no Promuse, o número de telefone para ligações e mensagens via WhatsApp é o (67) 99180-0542.

📍 Confira a localização das DAMs, no interior, clicando aqui. Elas estão localizadas nos municípios de Aquidauana, Bataguassu, Corumbá, Coxim, Dourados, Fátima do Sul, Jardim, Naviraí, Nova Andradina, Paranaíba, Ponta Porã e Três Lagoas.

⚠️ Quando a Polícia Civil atua com deszelo, má vontade ou comete erros, é possível denunciar diretamente na Corregedoria da Polícia Civil de MS pelo telefone: (67) 3314-1896 ou no GACEP (Grupo de Atuação Especial de Controle Externo da Atividade Policial), do MPMS, pelos telefones (67) 3316-2836, (67) 3316-2837 e (67) 9321-3931.

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