Dois anos se passaram depois do acidente que feriu e deixou sequelas na designer de moda Nathalia Ortega Gugel, de 30 anos, no Bairro Santa Fé, região central de Campo Grande. Ela falou, pela primeira vez, daquele 8 de junho de 2023, com exclusividade ao Jornal Midiamax.
Nathalia e o marido, o administrador Antonio Lunardi, de 53 anos, receberam a reportagem na casa da família, no Bairro Vilas Boas. Hoje, a designer convive com dores e limitações do acidente, que impressionou pelas imagens.
O acidente foi provocado pelo médico João Pedro Miranda da Silva Jorge, de 31 anos. Ele está preso desde fevereiro de 2025, cumprindo a pena de seis anos de prisão por outro acidente que causou e levou à morte da advogada Carolina Albuquerque, de 24 anos, em novembro de 2017.
A designer se recorda com detalhes do dia do acidente e lamenta que o médico e a família dele pouco fizeram para ajudar durante o tratamento, que até hoje prossegue.
‘Lembro de tudo, não apaguei nem desmaiei’, detalha vítima de acidente
Nathalia diz lembrar de tudo que houve naquela noite do acidente. Ela seguia em seu carro pela Avenida Arquiteto Rubens Gil de Camillo e, ao tentar seguir para a Rua Paulo Coelho Machado, foi surpreendida pela caminhonete conduzida em alta velocidade pelo médico.
“Eu só vi o clarão. Não vi a caminhonete dele vindo. Ele estava já em alta velocidade, então eu não vi. Eu só vi o clarão e senti a batida”, rememora.
Com a força da colisão, os veículos foram parar no canteiro central da Avenida Afonso Pena. Logo depois, uma testemunha prestou os primeiros socorros à Nathalia.
O médico ainda tentou conversar com a designer, mas foi impedido por outra testemunha. Nathalia se recorda do forte odor de álcool do autor.
“Ele veio na janela do carro, bem fedendo o álcool. E falando: ‘Calma, meu amor; calma, meu amor’. Em seguida, veio um rapaz e falou para ele: ‘Sai daqui, sai daqui, você está bêbado’”, conta.

Foi a própria designer que ligou para o então noivo e o atual marido para avisar sobre o acidente. Antonio conta que, ao receber a ligação, acreditou que a batida não fosse tão grave, mas acabou se assustando com a cena que viu.
“Ela me ligou e falou que deram uma batida. Cheguei lá e vi aquela cena de batida de rodovia. Todo destruído o carro, arrancou rodas, arrancou tudo. A cena foi assustadora. Eu achei que ela tinha quebrado tudo”, diz o administrador.
Primeiros meses foram difíceis para família
Nathalia foi socorrida e internada na Santa Casa, recebendo alta no dia seguinte. A partir dali, começou a jornada da recuperação, que envolveu toda a família.
Foram 33 dias em que a designer ficou acamada. Além disso, ela usou cadeira de rodas nesse período. A cunhada fisioterapeuta, o sogro médico e a amiga enfermeira foram fundamentais nesses primeiros dias de recuperação.
Depois disso, ela passou a caminhar com andador e depois com muletas canadenses, que têm apoio nos pulsos. Nathalia só conseguiu caminhar sem apoio em dezembro de 2023.
“Relembrar tudo isso me traz uma tristeza e também um agradecimento, né? Porque Deus me livrou de morrer mesmo”, diz a designer. “Se ela tivesse com outro carro, tinha morrido”, complementa Antonio.
Nathalia convive com lesão permanente após acidente
O hematoma em uma das pernas da designer se tornou uma lesão de Morel-Lavallée, que acontece quando a pele se separa do tecido subcutâneo. Além dela, Nathalia convive com dores, que hoje estão mais controladas.
“Hoje tenho uma deformidade aqui na minha perna. Então já consultei com cirurgião plástico. Já voltei ao ortopedista, não pode fazer nada. O risco é muito alto”, comentou.

O ortopedista que a acompanha apontou que a lesão é um dano estético permanente. “Ele falou: ‘você vai ter que conviver com isso’. Mas o que incomoda é a dor. Quando vai chover, dor no osso. Quando fica frio, quando vai chover, eu não acreditava antes”, afirma Nathalia.
Antes uma corredora de rua apaixonada pelo esporte, ela teve que abandonar a prática. “Mudou a rotina de alguém que era muito ativa. Eu participava de corrida. Então, essa minha vida de esporte parou”, lamenta.
No trabalho, uma concessionária de motocicletas, ela só pôde retornar oito meses depois, e a designer não consegue mais carregar caixas nem empurrar as motos.
“Eu trabalho com estoque, subo e desço. Por exemplo, eu não pego mais caixas, tenho que chamar alguém para me ajudar. Agacho sozinha, mas não consigo pegar alguma coisa do chão”, diz ela.
Por outro lado, ela se tornou uma motorista muito mais consciente, apesar do medo. “O acidente me fez prestar mais atenção nas coisas ainda. Então eu cuido mais, me tornei mais atenta”, afirma.
Processo se aproxima do fim
A ação penal do MPMS ainda aguarda julgamento, mas já há decisão por uma indenização. “O Ministério Público pediu R$ 200 mil de indenização, e o juiz concedeu R$ 100 mil. Agora, recorrendo, não sei o que vai virar para frente”, resume o administrador.
A família tentou acordo com o autor, mas não chegaram a um consenso. Nathalia lamenta o comportamento reincidente de João Pedro.
“A sensação é de que ele é uma pessoa que não tem coração, não tem humanidade. Então fica a revolta, porque não vem nem perguntar se eu morri, se eu tava bem, se eu precisava de algum auxílio”, ponderou.
“Eu sei que, pela misericórdia de Deus, eu não morri e fiquei com essa lesão. A gente entregou tudo na mão de Deus e está esperando e vivendo a nossa vida”, conclui a designer.

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