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Polícia

Em grupos reservados, DGPC pede que policiais evitem comentar sobre feminicídio de Vanessa

Diretor Geral da Polícia Civil, Lupérsio Lúcio, tenta conter ‘severas críticas’ após áudios apontarem falhas na Deam
Ari Theodoro -
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delegado dgpc
Lupérsio Degerone Lucio assume como novo Delegado -Geral da Polícia Civil em Mato Grosso do Sul em maio de 2024. (Foto: Reprodução, Bruno Rezende)

O delegado-geral da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul, Lupérsio Degerone Lúcio, enviou nesse sábado (15) mensagem em grupos reservados orientando policiais, escrivães e delegados a não comentarem mais o feminicídio da jornalista Vanessa Ricarte.

No último dia 12, ela foi morta com três facadas no coração pelo ex-novo Caio Nascimento, horas após procurar ajuda na Deam (Delegacia de Atendimento a Mulher) de Campo Grande.

Antes de ser morta dentro de casa, a vítima registrou em mensagens que mandou para amigas a péssima experiência que teve na Casa da Mulher Brasileira.

As reclamações de mulheres vítimas de violência sobre o atendimento da Deam não são novidade e já foram denunciadas em reportagem do Jornal Midiamax. Mesmo assim, nada foi feito.

Agora, com as denúncias que Vanessa deixou antes de ser assassinada e a repercussão nacional do crime, a Polícia Civil de MS mergulha em crise institucional comparada ao escândalo de quando um ex-delegado-geral acabou afastado após se envolver em briga de trânsito e atirar contra o carro de uns jovem porque ela mostrou o dedo para ele.

A Polícia Civil de MS também tem enfrentado verdadeira crise institucional com denúncias que implicam servidores da instituição com o crime organizado em Mato Grosso do Sul. Segundo delegados, embora negue, a classe convive com o clima de racha interno.

Neste contexto, o atual chefe da DGPC foi aos grupos pedir para os colegas se calarem para tentar diminuir a exposição.

“Sugerimos a todos os Delegados de Polícia, Investigadores e Escrivães a se unirem nesse propósito, abstendo-se de qualquer tipo de manifestação sobre o feminicídio que vitimou Vanessa Ricarte em sites e plataformas digitais a título de reação ou refutação de críticas e comentários de qualquer ordem”, diz a nota.

Lupérsio ainda classifica como “desnecessária” a discussão entre policiais e críticos da atuação institucional da Polícia Civil. Nem todos concordam.

“Se a instituição se fechar para a sociedade, será o fim. Como carreira de estado, temos obrigação de ouvir as críticas, discutir e melhorar sim”, comentou delegada que lamenta a condução da crise.

“Ao invés de mandar textão em grupinhos, uma liderança tem que corrigir os pontos falhos e não tentar apelar para blindagem. Em tempos atuais não funciona mais assim. Não é só parar de falar que as críticas vão sumir”, crítica a delegada de polícia.

Segundo ela, colegas apontam pontos graves na conduta da instituição que teriam levado à situação de exposição. “Se uma colega sem perfil, furando ou não a fila, acaba numa especializada onde vocação é crucial, temos sim que questionar os critérios do DG. Como ela chegou lá?”, questiona.

A reportagem acionou o delegado-geral e a assessoria da Sejusp e da Polícia Civil sobre o teor da mensagem distribuída em grupos reservados e aguarda retorno.

Confira na íntegra o recado do DGPC

Senhores Diretores de Departamento, Coordenadores, Assessores e Delegados Regionais

Boa noite,

Venho por meio do presente, solicitar os bons préstimos de Vossas Excelências no sentido de encaminhar para conhecimento de nossos Delegados de Polícia, Investigadores de Polícia Judiciária e Escrivães de Polícia Judiciária esta breve reflexão e apelo.

O momento que atravessamos exige de todos nós um olhar atento e comprometido com a nossa missão institucional. O trágico feminicídio que vitimou a jornalista Vanessa Ricarte gerou uma comoção sem precedentes, tanto entre seus pares de profissão quanto na sociedade em geral.

Esse episódio, que culminou na perda irreparável de uma vida inocente, requer uma profunda reflexão sobre nossos procedimentos, métodos e protocolos de atendimento às mulheres vítimas de violência doméstica, de forma a buscarmos o aperfeiçoamento dos serviços e a efetividade da rede de proteção à mulher vítima de violência doméstica.

Ocorre que nesse momento de luto e comoção social, são inúmeros aqueles que se levantam em severas críticas ao atendimento prestado pela Polícia Civil por meio da DEAM, bem como ao protocolo estabelecido e aplicado atualmente pela rede de proteção, solicitando providências dos Governos Federal e Estadual para que fatos dessa natureza não mais ocorram.

Em meio a esse cenário, temos presenciado embates desnecessários entre policiais e críticos da atuação institucional, seja por meio de postagens, comentários ou respostas em plataformas digitais.

Nesse diapasão, faz-se imperativo conclamar a todos para que direcionemos nossos esforços à análise técnica dos fatos e de todas as circunstâncias que o cercam, em busca de soluções efetivas para o aprimoramento dos serviços prestados às mulheres vítimas de violência doméstica. Este não é o momento de embates, mas sim de respeito à dor, ao luto, à indignação pela perda de uma vida e de uma profunda reflexão para o aperfeiçoamento institucional.

Diante desse contexto, nosso compromisso, da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública e do Governo do Estado estão voltados à identificação de pontos de melhoria e aperfeiçoamento, à revisão de protocolos e à implementação de estratégias que fortaleçam a proteção das vítimas, garantindo-lhes maior segurança e efetividade nas medidas adotadas.

Portanto, sugerimos a todos os delegados de polícia, investigadores e escrivães a se unirem nesse propósito, abstendo-se de qualquer tipo de manifestação sobre o feminicídio que vitimou Vanessa Ricarte em sites e plataformas digitais a título de reação ou refutação de críticas e comentários de qualquer ordem, estando certos de que a Administração Superior da Polícia Civil está adotando as medidas necessárias em prol do aperfeiçoamento e fortalecimento da instituição e de suas carreiras nesse momento crítico.

Atenciosamente,
Lupérsio Degerone Lúcio
Delegado-Geral da Polícia Civil

(Texto editado às 7h de 16 de fevereiro de 2025)

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