Pular para o conteúdo
Polícia

Com aumento de desaparecidos em MS, delegado alerta: ‘não é preciso esperar 24h’

Primeiro trimestre de 2025 fechou com aumento de 51% nos desaparecimentos. Índice de localização em MS varia entre 70% e 90%, segundo delegado
Lívia Bezerra -
desaparecidos desaparecimentos
(Ilustração Giovana Gabrielle, Midiamax)

O número de pessoas desaparecidas subiu 51% nos primeiros três meses de 2025 em . Conforme os dados da Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública), disponibilizados no SIGO Estatística, foram 121 desaparecimentos no último trimestre.

Somente no mês de março, MS contabilizou 49 pessoas desaparecidas, enquanto fevereiro teve 33 e janeiro registrou 39 desaparecidos. No período correspondente de 2024, foram 80 desaparecimentos formalizados, sendo 31 registros em janeiro, 25 no mês de fevereiro e 24 pessoas desaparecidas no mês de março.

Clique aqui para seguir o Jornal Midiamax no Instagram

O de pessoas é uma ocorrência comum e frequente. Todos os dias, dezenas de famílias vivem esse drama, quando pessoas saem de suas casas e não retornam mais — por inúmeros motivos. São ocorrências que causam transtorno e angústia a muitas famílias em Mato Grosso do Sul.

Muitos casos de desaparecidos surgem primeiro nas redes sociais, antes mesmo da imprensa ter conhecimento. Muitos deles causam comoção, ganham apoio popular e até ajuda nas buscas. Foi assim com Regiane Alves Medeiros Alcunha, Graziela Pinheiro Rubiano, a adolescente Geovana Souza Dias (em ) e Tânia Bonamigo, que sumiram e, mesmo após buscas das autoridades e famílias, não houve desfecho dos casos.

(Ilustração Giovana Gabrielle, Midiamax)

Caminhos da investigação

Em entrevista ao Jornal Midiamax, o delegado Rodolfo Carlos Daltro, que atua na DHPP (Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa), da Polícia Civil, pontuou os caminhos de uma investigação de desaparecidos em Mato Grosso do Sul. E sabe aquela frase de filme que diz para esperar 24h até registrar o ? Não é bem assim.

“Adotou-se uma cultura de que é necessário esperar 24 horas para registrar a ocorrência por desaparecimento, mas isso não procede. Basta a pessoa ter saído da sua rotina para ser noticiado à polícia do caso”, esclareceu.

Segundo Daltro, o primeiro passo para investigar um caso de desaparecido é registrar o boletim de ocorrência na delegacia, independente do tempo decorrido desde o desaparecimento. Na delegacia, deve-se informar dados relevantes da suposta vítima, tais como: nome completo, rotina, locais onde poderia estar e eventual motivo de seu desaparecimento.

Assim, Daltro exemplifica: “Por exemplo, uma pessoa que sai de casa pela manhã e às 18h30 costuma retornar. Se em determinado dia, às 19h ou 20h, alguém liga [para a pessoa] e ela não retorna, já é o caso da família ou desconhecido registrar a ocorrência por desaparecimento”, diz o delegado, considerando que houve a fuga de uma rotina preestabelecida.

Após o registro da ocorrência na delegacia, iniciam as investigações. Entre os fatos que entrarão em investigação, estão: a rotina da vítima, modo de interação com a sociedade, amizade e eventuais vícios.

“Traçamos esse quadro analítico da rotina da pessoa para buscarmos identificar o que saiu da rotina e o que pode ter acarretado esse desaparecimento. Analisamos se o desaparecimento é voluntário e porque essa pessoa se evadiu do convívio familiar. Tratando-se de maior de idade é a DHPP [que investiga]. Já em caso de menores, é a DEPCA (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e Adolescente)”, acrescenta.

Maior parte de desaparecimentos está relacionada ao uso de drogas

Com tantos casos neste primeiro trimestre de 2025 em Mato Grosso do Sul, existiria algum tipo de perfil de pessoas desaparecidas? Ao Jornal Midiamax, Daltro destaca um fator interessante. “Cerca de 60% dos desaparecimentos relacionam-se a vício com drogas e álcool. O percentual é muito alto. Dessas pessoas, cerca de 60% retornam à família após um tempo”, pontua.

Nesse contexto, o delegado da DHPP afirma que em Mato Grosso do Sul o êxito em identificar vítimas desaparecidas supera 50%. O resultado é fruto de uma rotina intensa de investigação.

“Aqui no Estado, o nosso êxito em identificar pessoas desaparecidas é um patamar muito elevado. Varia de 70% a 90% de esclarecimento do desaparecimento, e isso é toda uma rotina de investigação que inclui oficiar para vários órgãos públicos, rodoviárias, aeroportos, analisar vários sistemas de informação para ver se a pessoa acessou. Temos toda uma rotina investigativa para buscar encontrar essa pessoa, como oficiar hospitais, IML de vários estados”, conta Rodolfo Daltro.

Casos inconclusivos

E o que fazer diante de casos inconclusivos? O delegado explica que, sem a identificação do paradeiro da vítima, o inquérito policial segue comunicando MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) e o Poder Judiciário sobre a conclusão da investigação e seu posterior arquivamento. Caso a família informe à polícia sobre localização da vítima, solicita-se o desarquivamento do inquérito para concluir a investigação.

Contudo, o titular da DHPP destaca a importância de comunicar a investigação sobre eventual localização da vítima. Caso a pessoa retorne ao lar e não ocorra comunicação à autoridade policial, a própria vítima pode ser levada para a delegacia em uma eventual blitz ou abordagem.

“Caso a pessoa retorne ao lar, é importante ir à delegacia e para informar o encontro, porque no sistema essa pessoa estará constando como desaparecida. E numa eventual abordagem policial ou blitz, se o policial pedir documentação, fizer uma pesquisa e constar que essa pessoa é desaparecida, há grande possibilidade dela ser encaminhada para a delegacia”, frisa.

Nas fotos, Regiane, Tânia e a adolescente Geovana. (Reprodução: Redes Sociais)

Em MS, desaparecimentos repercutiram e alguns ainda não tiveram solução

Vários registros de desaparecimento tiveram forte apelo popular — muitos, com desfechos felizes, trágicos ou, simplesmente, inconclusivos. Como o caso de Regiane Alves Medeiros Alcunha, então com 22 anos, desaparecida desde o final de 2018, em . Em 13 de dezembro daquele ano, a jovem saiu de casa para fazer uma rescisão de contrato trabalhista e nunca mais voltou.

Na época, a polícia ouviu amigos, familiares, mas até hoje Regiane segue desaparecida. Ela foi vista pela última vez em um ponto de ônibus, no bairro São Jorge da Lagoa, onde morava.

Graziela Pinheiro Rubiano também não foi vista desde abril de 2020. Com forte repercussão na mídia, o caso ocorreu em 6 de abril daquele ano, quando Graziela não compareceu a um compromisso. O fato causou estranheza e as testemunhas, amigas da vítima, acionaram Rômulo Rodrigues Dias, o companheiro da mulher.

Rômulo alegou que Graziela teria ido embora para o Paraná. Acrescentou que a vítima se assumiu homossexual e que foi morar com outra mulher, e que por isso estava sumida. Tais alegações provocaram desconfiança e o caso seguiu à polícia.

Rômulo chegou a ser preso e a responder judicialmente pelo crime de feminicídio e ocultação de cadáver. Contudo, em fevereiro de 2022, durante júri popular, foi absolvido das acusações pelo Conselho de Sentença.

Desaparecimento de adolescente e de trilheira desafiam autoridades

Também com grande repercussão, o desaparecimento de Geovana Souza Dias, então com 16 anos, segue um mistério. Ela desapareceu no dia 8 de julho de 2023 em Taquarussu, a 325 quilômetros de Campo Grande. A jovem saiu de casa por volta das 20h para ir a uma festa na cidade, mas não chegou ao destino e nem retornou para casa.

Na época, a bicicleta e o aparelho celular da adolescente foram encontrados caídos na rua. Eles passaram por perícia, mas não apresentaram nenhuma informação que auxiliasse no caso, conforme explicou o delegado Caio Leonardo Bicalho ao Jornal Midiamax.

Mas é consenso que o sumiço de Tânia Bonamigo — desaparecida em janeiro de 2022, supostamente durante uma trilha na Cachoeira Los Pagos, em São Gabriel do Oeste — é um dos mais emblemáticos em Mato Grosso do Sul. Isso porque, mesmo com forte operação de buscas, nenhum vestígio de Tânia foi encontrado, levando as autoridades a questionarem até mesmo se a trilheira realmente esteve no local onde teria sido vista pela última vez.

Durante as investigações, surgiram especulações sobre sumiço intencional, mas a filha de Tânia negou veementemente que a mãe tenha fugido. Ela ainda criticou os rumores que surgiram nas redes sociais, como a suposição de que Tânia teria fugido para o Chile.

“A única certeza que eu tenho é que minha mãe não fugiu”.

💬 Fale com os jornalistas do Midiamax

Tem alguma denúncia, flagrante, reclamação ou sugestão de pauta para o Jornal Midiamax?

🗣️ Envie direto para nossos jornalistas pelo WhatsApp (67) 99207-4330. O sigilo está garantido na lei.

✅ Clique no nome de qualquer uma das plataformas abaixo para nos encontrar nas redes sociais:
Instagram, Facebook, TikTok, YouTube, WhatsApp, Bluesky e Threads.

💬 Fale com os jornalistas do Midiamax

Tem alguma denúncia, flagrante, reclamação ou sugestão de pauta para o Jornal Midiamax?

🗣️ Envie direto para nossos jornalistas pelo WhatsApp (67) 99207-4330. O sigilo está garantido na lei.

✅ Clique no nome de qualquer uma das plataformas abaixo para nos encontrar nas redes sociais:
Instagram, Facebook, TikTok, YouTube, WhatsApp, Bluesky e Threads.

Compartilhe

Notícias mais buscadas agora

Saiba mais

Homem morre após perder o controle da direção e bater caminhonete em barranco na MS-379

Contagem regressiva: já tem campo-grandense de mala pronta para ver Lady Gaga no Rio

Dia da Anta: para celebrar a data, Incab sorteia tela pintada por anta asiática

Apesar de ‘calmaria’ aparente, mercado de blindados ganha espaço em Campo Grande

Notícias mais lidas agora

Prefeitura decreta situação de emergência na saúde e UPAs serão usadas para internação em Campo Grande

Vacina liberada: Começa neste domingo a vacinação para o público geral em Campo Grande

Acordo da JBS com MPMS pode enterrar ação contra mau cheiro em Campo Grande

Precisa de médico? Confira a escala nas UPAs e CRSs de Campo Grande

Últimas Notícias

Cotidiano

Cada vez mais rara, nota de R$ 200 dificulta troco e gera alerta para falsificação em MS

As notas de R$ 200 correspondem a 2% do dinheiro em espécie espalhado por todo o país, aponta Banco Central

Mundo

Um dia após sepultamento, túmulo de papa Francisco é aberto ao público para visitação

Corpo do pontífice está na Basílica de Santa Maria Maior, em Roma

Emprego e Concurso

Oito vagas: Sonho de ser policial federal atrai concurseiros de MS

Concurso está autorizado e prazo para publicação de edital encerra em agosto

Transparência

MP reforça pedido para Justiça suspender contrato da Sejusp com empresa do SIGO

Ação aponta indícios de direcionamento e superfaturamento na contratação sem licitação da Compnet