Apavorada e revoltada é como a mulher, de 34 anos, que alega ter sido estuprada por um policial civil, de 37, em Campo Grande, afirma estar se sentido nos últimos dias. O crime teria acontecido na noite de sábado (20) e, nesta segunda-feira (22), após repercussão do caso, o policial teve a arma retida, porém continua exercendo suas funções. A mulher procurou o Jornal Midiamax nesta terça-feira (23).

A mulher conta que, além de ter sido estuprada, também teria sido agredida várias vezes dentro do veículo e ainda ameaçada com a arma de fogo, que, inclusive, ele teria passado pelo rosto e até colocado dentro da boca da vítima, conforme relatado por ela.

Em conversa com a reportagem, a mulher falou sobre a revolta e explicou como o caso aconteceu.

“São marcas que ficaram gravadas para toda vida. Eu não acho justo alguém que deveria cuidar do seu bem-estar, usar da sua profissão para me agredir e fazer o que fez. Eu deveria ser acolhida. Ele continua trabalhando e eu tenho que viver com medo na minha casa”, disse a vítima.

Segundo a mulher, o relacionamento havia iniciado há uma semana. “No começo era maravilhoso. A pessoa dos sonhos, conversava, abraçava, queria estar junto. Depois se transformou. Era agressivo com as palavras”, lembrou.

A mulher relata que percebeu a mudança quando ele não aceitava estar errado. Quando era contrariado ou questionado, a segurava com força pelos braços, que deixavam marcas, afirmou. Quando a mulher mostrava a ele os machucados, ele pedia desculpas, alegando que pelo serviço de policial e por lidar com bandidos tinha que ter a ‘pegada mais forte'.

Dia do crime

Na manhã de sábado (20), combinaram de ir à piscina na casa de um amigo. No local, almoçaram e depois ele pediu para ela chamar uma amiga. O grupo decidiu comprar cerveja e ingeriram, porém, tudo normal, sem discussões.

Por volta das 20h, decidiu ir embora e pelo caminho ainda seguia normal, o casal conversando. Quando chegou perto da casa dele, ele disse que iriam dormir juntos. A mulher negou e pediu para ser deixada em casa.

“Ele parou a caminhonete mais para frente da casa dele e começou a puxar meu cabelo, a me dar soco na cabeça, a me agredir, me xingar. Eu dizia que estava cansada, só queria ir embora dormir. Aí ele começou a bater com a minha cabeça no painel do carro e colocou a arma no colo dele. Depois ele disse que me deixaria em casa”, contou. 

Conforme o relato da vítima, o policial, então, dirigiu seguindo pela Avenida Costa e Silva e, em certo momento, parou o veículo e teria beijado a mulher a força. Em seguida, passou a arrancar a roupa dela. Aos prantos, a mulher disse que ele ficou ainda mais nervoso quando ela negou e disse para ele parar, se não ele ia acabar com a vida dele. 

“Aí ele ficou mais nervoso e perguntou se eu ia acabar com a carreira dele e começou a passar a arma dele no meu rosto. Chegou ao ponto que ele enviou dentro da minha boca e puxou um negócio, que quando ele puxou eu vi que caiu uma bala na caminhonete dele. Aí eu pensei: Agora eu vou morrer”, contou.

Em meio ao desespero, ela tentou se acalmar, dizendo para ele dormir na casa dela e que no dia seguinte eles conversariam, dizendo a todo momento ‘vamos ficar bem'. Ele estaria preocupado caso ela o denunciasse, mas ela para o tranquilizar dizia que não. 

Ao chegar no portão de casa, antes de descer do veículo, a mulher o mandou embora, que queria ficar sozinha em casa, mas ele travou as portas do veículo. “Foi onde começou tudo de novo. Passou a falar que ia me matar porque eu ia denunciar ele. Ele com a arma a todo tempo no colo. Aí eu disse que não e ele então pediu para eu ir para a casa dele. Então, eu disse que tudo bem”.

Eles seguiram, então, e quando estavam próximos do quartel do Corpo de Bombeiros, ela fingiu estar com falta de ar devido às agressões e pediu para ele a levar até os bombeiros, pois estava com muita falta de ar. Ele viu o desespero da mulher e a levou e parou pouco antes dos militares. 

“Ele descuidou, eu abri a porta e saí correndo, pedi para não deixarem ele perto de mim que ele ia me matar. Os bombeiros ficaram do meu lado. Eu vi que eles trouxeram alguns pertences meu. Chegaram os policiais e perguntaram algumas coisas, depois me levaram para o posto de saúde e em seguida para a Deam”, lembrou.

Sobre a ordem do policial ficar com a arma restrita, porém continuar trabalhando é o que mais indigna a vítima. “Como fica a minha segurança? Não vou parar enquanto não ver esse monstro longe da sociedade”, afirmou.

Segundo ela, a polícia apreendeu armas, as usadas pelo policial no sábado e a caminhonete.

Policial não foi afastado do trabalho

Apesar de ter tido o acesso à arma restrito pela Justiça em decisão retificada nesta segunda-feira (22), o policial civil segue trabalhando.

Em nota à imprensa divulgada na tarde esta segunda, a Polícia Civil detalhou que o porte de arma de fogo do policial investigado foi permanentemente suspenso. Até então, ele tinha tido o acesso à arma restrito apenas durante o trabalho.

“Agora, foi determinado que o porte de arma de fogo do policial foi permanentemente suspenso, tanto no ambiente de trabalho como fora dele. A decisão já foi cumprida. Inclusive as medidas protetivas de urgência já estão em vigor”, diz a nota. 

O delegado-geral da Polícia Civil, Roberto Gurgel, disse durante entrevista coletiva que o caso segue em investigação e que mais detalhes não seriam divulgados.

Conforme o do Governo do Estado, o policial civil atua como agente de polícia com remuneração bruta mensal de R$ 9.054,01 mil.