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Polícia

Homem que matou travesti após discussão nega exploração sexual: ‘Sonho com a Aghata’

Autor responde por homicídio qualificado por violência doméstica, no âmbito do feminicídio
Victória Bissaco -
Gabriel Francisco responde pela morte de Aghata - (Foto: Victória Bissaco)

Enfrenta o júri popular nesta quinta-feira (23) Gabriel Francisco Serra Inverso, que responde pela morte de Wellerson de Oliveira Rodrigues, de 22 anos, conhecida como Agatha. O crime ocorreu 15 de dezembro de 2022, após uma discussão, na frente de um posto de combustível na Avenida Marechal Deodoro, no Leblon, entre vítima e autor.

O acusado confirma ser o autor da facada que matou a vítima, mas nega que tenha tido a intenção de assassiná-la. “Nunca tive a intenção, a gente estava realmente muito drogado, muito bêbado. Não sei onde tirei forças”, afirma.

Segundo relato dele aos jurados da 1ª Vara do Tribunal do Júri, ele e a vítima – ao qual ele chama de Wellerson, e não Aghata, e trata como “ele” – viviam um relacionamento conturbado, com agressões de ambas as partes. No dia do crime, diz que brigou com a vítima por causa de programa. “Eu não queria que ‘ele’ fizesse programa, falei que a gente poderia vender balas, jujuba ou até cocada no semáforo, porque eu costumava fazer isso”, afirma.

Na versão dele, Aghata partiu para cima dele com uma faca, já que, segundo Gabriel, ela sempre andava com a arma para ameaçar os clientes que ela roubava. Ele diz, ainda, que conseguiu correr e, já cansado, parou no canteiro da Avenida Manoel da Costa Lima, onde o crime ocorreu.

Ainda, afirma que entraram em luta corporal, onde conseguiu tomar a faca. Então, disse para pararem com aquilo e para ela pegar a faca de volta. Gabriel declara também que Agatha aproveitou um momento de distração dele para ‘meter um surdão’ na cabeça dele. “Foi quando eu perdi a cabeça. Fiquei cego. Não pensei, não medi consequência. Aconteceu”.

Explorava Aghata

A mãe de Aghata – a qual também chama a vítima pelo nome de nascença, e não o social – foi uma das declarantes ouvidas nesta manhã. Ela relatou que “o filho” era uma pessoa muito boa, calma e sem maldade, até conhecer o autor. “Explorava ‘meu filho’ para fazer bancar a vida de usar drogas que ele tinha. Nunca vi ‘meu filho’ usar droga, beber. Sempre me respeitou. Permanecia comigo em casa, até que esse Gabriel conseguiu levar para a rua”, declara.

O réu, por sua vez, nega. “Nos dois somos homossexuais. Nunca obriguei ele a fazer programa. Conheci ele já usando drogas, bebendo e fazendo programa na avenida, assim como eu fazia. O ‘Wellerson’ se vestia assim, igual, só a noite que se vestia de mulher para fazer programa”.

A mãe, ainda, explica que a vítima costumeiramente aparecia com machucados de agressões em casa. “Aparecia em casa com queimaduras, outro dia apareceu com a costela quebrada. A gente lutou, lutou, lutou muito para tirá-lo da rua, mas não conseguiu. Da última vez, peguei ele na rua e ele disse que só queria comida, foi quando eu resolvi interná-lo”, conta.

A mãe não especifica quanto tempo internou a vítima, mas lembra que Aghata chegou a ficar uma semana em casa antes de retornar para as ruas. “Nesse meio tempo, recebeu duas visitas do Gabriel. Na segunda, ele levou uma carta, que eu não peguei e disse para ‘ele’ não pegar também. ‘Meu filho’ disse que não queria mais essa vida, mas depois, foi atrás desse Gabriel”, conta.

Sobre a carta, o réu confirma ter escrito, mas diz que “queria que ‘ele’ fosse para uma clínica, ficasse com a família e também para pedir ajuda para mãe dele me tirar na rua também, porque achei que ela fosse gostar de mim em algum momento”.

O caso

A travesti foi socorrida pelo Corpo de Bombeiros e o estado de saúde era considerado gravíssimo. A vítima foi atingida com uma facada na região da costela, no lado esquerdo do tórax, que perfurou o coração, após uma discussão com o companheiro no canteiro da Avenida Marechal Deodoro.

A vítima não portava documentos pessoais. Ela teve uma parada cardiorrespiratória e foi encaminhada para a Santa Casa, onde morreu horas depois.

Três dias após o crime, em 18 de dezembro de 2022, Gabriel se entregou à Polícia Militar, que o encaminhou até a delegacia de polícia. Ele relembra o caso. “Fui na DEFURV [Delegacia Especializada de Furtos e Roubos de Veículos], depois fui na 6ª [DP], que estava fechada por ser um domingo. Foi aí que eu vi uma blitz na rua e me entreguei”, afirma.

Segundo relato do réu, mesmo passado mais de um ano após o crime, a situação ainda o assola. “Fiquei muito depressivo na cadeia. Eu não queria ter feito isso. O ‘Wellerson’ era meu companheiro, tadinho dele. Às vezes eu sonho com a Agatha. Tenho que fazer acompanhamento psiquiátrico, psicológico, vivo sob efeito de remédios, tanto que a minha psiquiatra a dra. Patrícia me colocou na escola, para eu distrair a cabeça”, afirma.

Já havia esfaqueado por ciúmes

Em setembro de 2019, Gabriel foi preso por esfaquear um homem, de 32 anos, no Bairro Marcos Roberto, em . Na ocasião, a vítima foi levada em estado grave para a Santa Casa.

O autor foi encontrado escondido em uma construção e teria, inicialmente, mentido sobre o crime tentando incriminar outra pessoa. Mas, antes de entrar para o centro cirúrgico, a vítima reconheceu pela foto mostrada pelos policiais o autor.

A testemunha que o autor tentou incriminar disse que o crime teria acontecido por ciúme

*O tratamento da vítima como Agatha foi seguido conforme mencionado pelo juiz titular da 1ª Vara do Tribunal do Júri, Carlos Alberto Garcete

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