A defesa de Ademar Almeida Ribas, apontado pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) como um dos motoristas que integravam a quadrilha do ‘frete seguro’ no transporte de drogas de Ponta Porã a Campo Grande, pediu pela liberdade do motorista. A quadrilha tinha policiais civis envolvidos.

De acordo com a defesa, Ademar foi ‘surpreendido’ e quando preso não sabia do que se tratava. “No momento da prisão sequer tinha conhecimento dos fatos imputados, e quando surpreendido pela presença ostensiva dos policiais, no interior de sua residência, não foi informado acerca das acusações, de modo que, alega ter tido conhecimento dos fatos, somente posterior acesso aos autos pela defesa técnica. Ao final postula-se, em caráter liminar, a concessão da liberdade provisória ou, subsidiariamente, a substituição da custódia por medidas menos gravosas.”

Conforme a denúncia do Gaeco, “cada qual a sua maneira, integravam organização criminosa voltada ao tráfico de drogas, estruturalmente ordenada e com divisão de tarefas, contando com uma extensa rede logística de transporte baseada na cidade de Campo Grande/MS, com intuito de escoar a droga de Ponta Porã/MS para outros Estados da Federação (em especial São Paulo). Conforme consta nos autos da presente representação, a participação de cada representado se divide da seguinte maneira: (…) Para trazer a droga de Ponta Porã até Campo Grande, a organização criminosa rotineiramente usava os investigadores de Polícia Civil ANDERSON CÉSAR DOS SANTOS GOMES e HUGO CESAR BENITES, ambos lotados na 1ª Delegacia de Polícia Civil daquela cidade, os quais traziam a cocaína em viatura policial, em ação intitulada no mundo do crime de frete seguro, já que, como regra, não é parada muito menos fiscalizada por outras unidades de segurança pública.”

Quadrilha bem estruturada

O MPMS (Ministério Público Estadual) afirma que a organização era altamente estruturada, com uma rede sofisticada de distribuição. Assim, contava com vários integrantes, entre eles policiais cooptados pela organização. Dessa forma, o grupo usava empresas de transporte para lavar o dinheiro. Enquanto os policiais transportavam a cocaína em viaturas oficiais, já que não seriam paradas nas rodovias.

Frete seguro com viaturas policiais

Hugo César Benites acabou preso durante a deflagração da Operação Snow. Já Anderson César dos Santos Gomes foi preso meses antes flagrado com drogas. Durante uma das viagens dos dois policiais, imagens de câmeras de segurança da casa mostram a viatura entrando na garagem da residência. Em seguida, descarregam fardos pretos onde estava a droga. 

Nas imagens, Valdemar Kerkof aparece ajudando a dupla de policiais a descarregar a viatura. Ele chega a olhar para as câmeras de segurança da casa. O veículo usado pelos policiais pertence a 1ª Delegacia de Ponta Porã. Pelas imagens, os policiais chegam a casa no dia 4 de maio de 2023, e retiram da viatura cerca de 10 caixas com drogas. A residência usada pela quadrilha era alugada para festas e eventos.

Anderson César dos Santos é investigador de 1º classe e recebe cerca de R$ 9 mil de remuneração. Conforme o Gaeco, o policial tem um patrimônio milionário, com uma casa em bairro de luxo em Ponta Porã, avaliada em cerca de R$ 2 milhões. Além de uma caminhonete Amarok avaliada em R$ 160 mil. 

A esposa do policial, que é professora da rede estadual da cidade e recebe cerca de R$ 2 mil, tem um Jeep Compass avaliado em R$ 246 mil. O casal ainda tem uma filha, professora convidada da rede estadual, com dois veículos em seu nome no total de R$ 108 mil. 

No final de 2022, policial foi denunciado pela Polícia Federal por patrimônio incompatível com sua renda. “Têm padrão de vida, a priori, incompatível com a renda lícita por eles recebida”, informando ainda que há “indícios de incompatibilidade dos rendimentos lícitos auferidos pelo policial Anderson”, segundo trecho da denúncia.

Anderson já tinha sido preso em setembro de 2023 com uma carga de cocaína avaliada em R$ 40 milhões. Já o policial Hugo foi alvo de outra investigação, segundo a denúncia do Gaeco: “O envolvimento do Investigador de Polícia Judiciária HUGO CESAR BENITES com o narcotráfico não é nenhuma novidade. Ele já foi alvo de investigação do GAECO/Dourados há alguns anos e atualmente responde ação penal na Comarca de Fátima do Sul pela prática dos crimes previstos no artigo37 da Lei 11.343/2006 e 317, caput, do Código Penal (Ação penal n. 0801842-73.2022.8.12.0010)”.