As escalas de serviço e a pressão interna dos policiais militares são fatores preocupantes para a saúde mental do efetivo. O assunto vem à tona após a Segurança Pública de Mato Grosso do Sul perder dois agentes de carreira em menos de 24 horas, sendo um deles o Capitão do Choque, Leonardo Luis Mense Rodrigues, encontrado morto em casa, em Campo Grande, no último sábado (20).

Em meio ao luto pela morte do PM, os profissionais da segurança pública precisaram enfrentar outra fatalidade na manhã de domingo (21): a morte de um Guarda Civil Metropolitano. Josué Antônio Teodoro foi encontrado sem vida pela esposa em casa.

Além dos problemas pessoais que os agentes sul-mato-grossenses enfrentam, na vida profissional precisam encarar problemas internos da corporação, segundo o Cabo PM Benites, presidente da Aspra MS (Associação dos Praças da Polícia Militar e Corpo de Bombeiros Militar do Mato Grosso do Sul) relata ao Jornal Midiamax

“Escalas de serviço, pressão interna por maior e melhores resultados, isso sem falar do excesso de controle externo, da própria sociedade ou dos órgãos do judiciário que a todo momento questionam as ações e resultados dos trabalhos da Polícia, principalmente”, opina. 

O militar ainda comenta que é difícil determinar o que leva uma pessoa a buscar o resultado que o Estado presenciou no último fim de semana – com a morte de Leonardo Luis e Josué -, mas reforça que o ideal é começar pela valorização dos policiais militares. 

“O que podemos fazer é buscar soluções institucionais, para minimizar os riscos de que novos episódios se repitam. E isso começa pela valorização destes militares. Seja através de bons salários, através da atualização de suas promoções, do reconhecimento do seu trabalho, através da consagração de medalhas de honra”, explica.

Imagem Ilustrativa. (Nathalia Alcântara, Jornal Midiamax)

Outra cobrança é a questão salarial dos militares, pois, conforme ele, o salário inicial de soldado em início de carreira está em 18º nos salários de policiais e bombeiros do Brasil. 

“Isso para um estado considerado o 3° mais seguro do Brasil, um estado que possui a maior faixa de fronteira do Brasil, um estado que combate as maiores redes criminosas de tráfico de drogas e contrabando do país. Somos um estado grande em inúmeros quesitos, precisamos ser também grandes no reconhecimento e valorização do policiais militares e bombeiros militares de nosso Estado”, finaliza o Cabo PM Benites. 

Questionado sobre o número de policiais afastados por problemas psicológicos, o presidente da Aspra MS esclareceu que são dados fornecidos pelo Comando da PMMS (Polícia Militar de Mato Grosso do Sul). Porém, os números não costumam ser divulgados por serem sensíveis. 

O Jornal Midiamax procurou um representante do sindicato dos Guardas Civis Metropolitanos acerca da morte dos agentes de segurança pública, mas não obteve retorno até a publicação da reportagem. O espaço segue aberto para manifestações. 

No Dia do Patrono, segurança pública de MS perdeu dois agentes de carreira 

Na noite de sábado (20), o Capitão do Choque da Polícia Militar, Leonardo Luis Mense Rodrigues, de 35 anos, foi encontrado morto em casa, no bairro Mata do Jacinto. Atualmente, o militar era comandante da Rotac (Rondas Ostensivas Táticas e Ações de Choque) e do setor de relações públicas do Batalhão de Polícia Militar.

Em nota de pesar, o Batalhão lamentou a perda e se solidarizou com a família e amigos. Pelas redes sociais, colegas e amigos prestaram solidariedade. “Um grande irmão de farda. Que Deus conforte a todos”, escreveu um.

Celebrado no domingo, 21 de abril, o Dia do Patrono é uma homenagem a Tiradentes pela atuação de linha de frente da segurança pública. E foi justamente neste dia em que o segundo agente de segurança pública foi encontrado morto na Capital, em menos de 24 horas da morte do Capitão do Choque. 

Josué Antônio Teodoro foi encontrado sem vida pela esposa no início da manhã. O sogro informou no boletim de ocorrência que, por volta das 5h, Josué tinha o costume de soltar os cães pela casa. O idoso ressaltou que o agente estava afastado das atividades após sofrer um acidente e quebrar as costelas.

Saúde mental

Jornal Midiamax já havia publicado um artigo sobre o adoecimento mental de servidores da segurança pública. “A tropa está doente, desmotivada e ninguém faz nada”.

Policiais militares de Campo Grande denunciam que estão sendo vítimas de perseguição por parte de seus superiores, principalmente quando o assunto é ‘saúde mental’.

Onde procurar ajuda?

Em Mato Grosso do Sul, há diversos programas de apoio psicológico em que o cidadão pode procurar ajuda.

GAV (Grupo Amor Vida): presta serviço gratuito de apoio emocional a pessoas em crise através do telefone: 0800 750 5554 (ligação gratuita) ou pelo e-mail precisodeajuda@grupoamorvida.ong.

Coordenadoria de Atendimento Psicossocial da Polícia Civil (exclusivo para agentes e familiares): conta com equipe multidisciplinar de psicologia, serviço social e capelania. Fazem plantão psicológico e encaminhamentos junto aos planos de saúde. Mais informações pelo telefone (67) 99627-6178.

CVV (Centro de Valorização da Vida): oferece apoio emocional e prevenção do suicídio de forma gratuita, todos os dias, pelo telefone 188, e-mail e chat 24 horas todos os dias.

CAPS (Centros de Atenção Psicossocial): De acordo com a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), qualquer pessoa pode ir até a uma unidade, onde será acolhida e passará por uma avaliação do quadro clínico em que será determinado se é necessário um atendimento médico ou psicológico de urgência – o que acontece em caso de crise – ou se poderá ser encaminhado a uma unidade básica para que inicie o protocolo de acompanhamento, por meio de encaminhamento.