Defesa de idoso que matou garota de programa e feriu amiga em fazenda pede que denúncia seja anulada

Solicitação pede que seja realizada reconstituição do crime, perícia nos celulares das vítimas e autores e oitiva das testemunhas arroladas na denúncia

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Amigas chegando na fazenda por volta das 9h e na imagem ao lado, uma deles luta com autor armado. (Reprodução)

A defesa do idoso que matou a garota de programa Jennifer Gimenes Mongerroti, de 22 anos, e tentou matar a amiga dela no dia 23 de junho, em São Gabriel do Oeste, cidade a 133 km de Campo Grande, pediu à Justiça que a denúncia seja anulada.

Segundo a solicitação, o pedido é porque o inquérito policial não caracterizou adequadamente a suposta intenção do acusado em praticar as condutas. Diz ainda que a investigação foi realizada baseando-se apenas na versão apresentada pela vítima sobrevivente. 

Dessa forma, a defesa solicita que seja realizada a reprodução simulada dos fatos, essencial para elucidar as circunstâncias do crime.

Com a ausência do referido exame, houve total prejuízo à defesa do acusado, vez que a dinâmica dos fatos narrados na denúncia se divergem da verdade real, inclusive quando analisado os depoimentos colhidos na fase do inquérito policial quando analisados com os vídeos produzidos por uma das ofendidas e juntados na ação penal em epígrafe, configurando cerceamento ao direito da ampla defesa, pois a denúncia baseou-se apenas no depoimento da vítima, sem o devido esclarecimento sobre o modo que se deu a execução dos delitos imputados ao réu”.

Além disso, pede ainda que seja realizado exame pericial nos celulares das vítimas e do acusado, a fim de esclarecer o convite das vítimas para irem à fazenda, o relacionamento de uma das vítimas com o acusado, entre outros aspectos.

“A análise dos celulares poderia sanar divergências e contradições, proporcionando provas mais robustas e claras sobre os fatos. É certo que no mundo globalizado de hoje, o aparelho celular se torna uma extensão da pessoa, de forma que o referido instrumento guarda todas as informações, segredos, percursos, conversas”.

Por fim, a defesa do autor ainda requer a oitiva de todas as testemunhas arroladas na denúncia, produção de prova técnico-pericial e todas as demais.

O Ministério Público se manifestou na quarta-feira (10) e ainda solicitou que seja marcada audiência de instrução e julgamento do caso.

Informou que a denúncia é rejeitada quando for manifestamente inepta, faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal, ou faltar justa causa para o exercício da ação penal.

Ante todo exposto, não sendo o caso de rejeição da denúncia e hipótese de absolvição sumária, o MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL, por seu Promotor de Justiça, requer seja designado dia e hora para a realização de audiência de Instrução e Julgamento, intimando-se para tanto as partes interessadas e testemunhas já arroladas

Denúncia

A denúncia foi feita no início de julho. O MP informou que a materialidade foi demonstrada no auto de prisão em flagrante, relatório de investigação, interrogatório do autor, depoimento da vítima sobrevivente, ficha de atendimento médico dela, documento de arma de fogo, boletins de ocorrência da PM e da Polícia Civil, laudo necroscópico entre outros.

O MP solicitou ainda que para audiência de instrução seja arrolada a amiga sobrevivente para depoimento, assim como outras cinco testemunhas, entre o genro do autor, vizinho, dono da arma e uma policial civil.

Jennifer foi morta com tiro na cabeça

Feminicídio e tentativa de feminicídio

Jennifer Gimenes Mongerroti, de 22 anos, foi assassinada a tiros naquela manhã. A amiga dela conseguiu fugir e, mesmo ensanguentada e bastante ferida, se escondeu dentro de um canavial até ser encontrada e socorrida por um vizinho.

As duas haviam ido até a fazenda do idoso que teria prometido R$ 1 mil, sendo dividido R$ 500 para cada pelo programa, mas a real motivação para o crime ainda não foi esclarecida.

Ele acabou preso na madrugada do dia seguinte. Segundo a polícia, o suspeito também teria tentado atrapalhar as investigações, desligando o circuito de câmeras de segurança do local e alterando a cena do crime.

Jennifer foi encontrada morta escondida em meio a mata, ensanguentada com lesão aparente no seio direito. A arma do crime, um revólver Caramuru .22, também foi localizada, assim como 26 munições e uma luneta no guarda-roupas do autor. 

Os pertences da vítima foram dispensados em meio a entulhos atrás da casa, onde havia uma camiseta azul ensanguentada.

Ao vizinho que a salvou, a jovem sobrevivente do atentado contou que já havia feito programa com o autor em outras ocasiões, e que ele sempre ficava ligando e mandando mensagens, pois queria relacionamento sério, mas ela não. Já Jennifer, seria a primeira vez que faria programa com o autor.

O vizinho que salvou a jovem disse na polícia que ela comentou acreditar que o crime pode ter sido premeditado e que não sabe o real motivo.

Ela afirmou ainda que o idoso atirou na cabeça da amiga, depois atirou contra ela e ainda a estrangulou com um fio. A jovem desmaiou e acordou já na mata. Depois, tirou as roupas para não chamar atenção, e o idoso encontrá-la, e se escondeu até ser encontrada pelo vizinho.

Jantou e dormiu após o crime

Quando foi preso, o idoso estava na casa da mãe do genro. Ela explicou para a polícia, que não sabia do crime quando recebeu o autor em sua casa.

Explicou que o idoso chegou a sua fazenda depois das 18h daquele dia dizendo que iria jantar na residência. O marido da mulher acompanhou o idoso até a porteira onde o veículo dele estava e o trouxeram para próximo da casa. Depois dele pediu para jantar e posar na casa. 

A mulher disse que até então não achou nada estranho, pois o idoso é uma pessoa do ciclo familiar e ele também não aparentava estar estranho. 

Disse que notou alguns ferimentos no braço e o questionou. Ele disse que havia brigado com a mulher. A mulher depois o questionou novamente, pois sabia que ele não era casado. 

Ele então se referiu a uma mulher com quem teria uma filha. Ela disse também à polícia que todos da família acreditavam que ele tinha uma filha com uma das vítimas, pois sempre afirmou tal informação em situações anteriores, mas ninguém nunca conheceu a criança, nem a mãe da criança.

A mulher então enviou um áudio para seu filho avisando que o sogro estava na residência, como sempre fazia. 

Ela contou ainda que não fazia ideia do crime e que após relatar a tal briga com a mulher, o idoso disse que não queria mais saber dela. 

Em seguida, o homem jantou e dormiu. Mais tarde uma viatura da Polícia Civil com o genro do idoso chegou na casa.

Câmeras de segurança

Imagens de câmeras de segurança flagraram a ação do idoso. As jovens chegaram à fazenda por volta das 9h16. Elas aparecem seguindo para um imóvel. O suspeito logo atrás de camiseta azul.

As imagens chegaram em cortes. Às 11h12, uma delas segue para a casa ao fundo da imagem, mas às 11h17, volta correndo gritando: “Amiga vamos fugir”. Na sequência, dá para ouvir a voz do suspeito, mas não é possível entender o que ele fala. Logo em seguida começam os gritos.

Segundos depois, 11h18, é possível escutar o primeiro tiro, depois mais dois tiros, seguido dos gritos. “Meu Deus, Meu Deus”.

Nas imagens, uma delas, gritando e desesperada, luta com o idoso e tenta segurar ou tirar a arma dele. No meio da luta, mais um disparo é feito. A todo momento, a jovem grita para ele sair, e soltar ela. 

Eles somem da imagem, mas ainda aparentam lutar. Às 11h21, ainda no canto da imagem, do outro lado do imóvel, o idoso parece golpear a vítima na barriga com alguma coisa e diz: “Você não vai ficar com ele”. A imagem tem mais um corte na edição e mostra o idoso de camiseta branca e chapéu, andando rápido. Já 13h05, ele sai em um carro, de cor branca.

Às 14h17, imagens mostram o autor na fazenda novamente. Ele vai até o imóvel da frente e depois volta para o local onde o crime aconteceu. Às 15h40, ele volta para o primeiro imóvel e senta na varanda. Depois, volta, rodeia os dois imóveis e, às 16h20, sai de carro novamente.

Sobrevivente nega relacionamento e filho com autor

A mulher, de 27 anos, sobrevivente do atentado, fez um relato chocante do crime. A mulher percorreu mais de 20 quilômetros pela mata em um período de mais de três horas para fugir do idoso. 

Ela afirma que não via o idoso havia um ano e que o mesmo encontrou o número de telefone dela e lhe enviou mensagem, fazendo promessas dizendo que gostaria de vê-la, pois estava com saudade.

Com isso, ficou combinado o programa, mas sem relações sexuais, pois ela nega que mantinha relações sexuais com o homem. Contudo, a vítima estava com medo de ir sozinha até a propriedade rural, avisou Jennifer e então convidou para que a amiga fosse junto. 

O medo, segundo a mulher relata no vídeo, era pelo sentimento de possessividade que o idoso tinha com ela, pois falava que a amava, mas ela afirma que nunca o correspondeu. Inicialmente, no dia seguinte ao crime, foi divulgado que uma discussão por pensão alimentícia teria motivado o assassinato, em vista que a mulher teria uma filha com o acusado. Porém, ela nega e ressalta que nunca teve relações sexuais com ele. 

“Isso que estão dizendo que eu tenho uma filha com ele é totalmente mentira. Eu nunca tive uma relação pessoal com ele, era ocasional, isso porque ele pagava para ir lá. E eu não levei só a Jennifer, levei várias pessoas comigo, porque lá tem uma cachoeira, é um ponto turístico”, explica.