Declarações do preso Lucas Matheus Ribeiro de Moraes, investigado pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) depois da deflagração da Operação Bloodworm, em maio de 2023, revelaram que drones seriam alugados por cerca de R$ 16 mil para arremesso de celulares para dentro dos presídios. Esse valor ainda varia conforme o modelo do aparelho, de acordo com o membro do Comando Vermelho.

A operação deflagrada no ano passado mirava a expansão do Comando Vermelho no Estado, com ajuda de advogados e servidores na entrada de celulares em penitenciárias. Lucas está detido na Gameleira II de segurança máxima e é apontado como o 04 do ‘Conselho do 13’ da facção criminosa. 

Uma série de reportagens do Midiamax denunciou a entrada de aparelhos celulares no Presídio Jair Ferreira Carvalho, conhecido como Máxima. Mas, o que se pode notar é que nem a mais nova penitenciária para onde foram enviados membros de facções criminosas está livre da entrada de celulares no complexo. 

Lucas contou em depoimento que celulares e drogas eram arremessados para dentro dos muros da Gameleira II por cerca de R$ 16 mil por voo. No valor não estava incluso o modelo do celular, o que fazia o preço variar. 

Ainda de acordo com o detento, o modus operandi de quem opera o drone e envia os aparelhos em questão seria: amarrar os celulares e drogas ao drone por um longo barbante e os presos ‘pescarem’ o pacote para dentro, através da ventana que fica no fundo da cela.

Ou seja, não importa o tamanho da prisão, todas estariam comprometidas, conforme mostram inúmeras ocorrências policiais que apontam como mentores intelectuais detentos sob responsabilidade da Agepen, como no caso de Lucas Matheus, membro da alta cúpula do Comando Vermelho.

Celulares etiquetados para a entrega em mãos

Informações obtidas pelo Midiamax são de que os celulares são todos etiquetados com o nome do preso, para ser entregues em mãos. No dia 26 deste mês, mais um flagrante de drone tentando arremessar celulares para dentro da Máxima foi visto e impedido por um policial penal que estava em uma das torres.

Assim, o agente conseguiu interceptar o drone que estava com aparelhos celulares entre o pavilhão e a galeria onde deveriam ser entregues.

Além dos constantes flagrantes de celulares, até explosivos são ‘guardados’ pelos bandidos na segurança das cadeias. Na Máxima, por exemplo, celulares seriam alugados por R$ 50 a cada 15 minutos, ou são trocados por pequenos favores dentro, ou fora da cadeia.

“Se eu tô sem condições, tem ‘voz’ que ajuda a gente aí na moral e cede uma ligação em troca de um serviço aqui dentro, ou de um corre que posso pedir para alguém meu lá fora desenrolar”, explica um detento.

Mas, não é só com drones que os bandidos tentam inserir os celulares nas cadeias de Mato Grosso do Sul. Os aparelhos também já foram flagrados dentro de marmitas e até sutiãs de visitas em presídios do Estado.

Um dos flagrantes foi feito no dia 25 deste mês, quando foram localizados no Instituto Penal celulares escondidos dentro de uma vasilha de sobremesa, que seria entregue a um detento.

‘Acre’ morreu após confronto 

No dia 8 deste mês, Gabriel Silva Rodrigues Bastos, de 24 anos, conhecido como ‘Acre’, foi recrutado para ser o piloto de drones para o arremesso de celulares e drogas para dentro do Presídio de Segurança Máxima de Campo Grande.

Porém, ele morreu em confronto com a Polícia Militar depois de denúncias de que vários drones estavam sobrevoando a região. Com ‘Acre’ estavam oito celulares já embalados para serem arremessados e mais quatro que ainda seriam preparados, além de oito porções de maconha. 

O que diz a Agepen sobre a entrada de celulares nos presídios

“Atualmente a Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen), realiza estudos para a contratação de tecnologia/solução para bloqueio de sinal de celular, bem como, de drones em unidades prisionais do Estado de Mato Grosso do Sul. Como medida para evitar o ingresso de celulares e outros itens nos presídios do Estado, a Agepen utiliza atualmente scanners e aumentou o rigor nas revistas. Além disso, estão sendo implantadas telas em pátios de diversas unidades prisionais, entre elas a Penitenciária de Segurança Máxima de Campo Grande. Por fim, a Agepen estuda o contínuo uso de drones para fiscalizar as unidades prisionais, bem como busca tecnologia anti-drones, para sanar a questão do lançamento de equipamentos no interior dos pátios das unidades prisionais.”

Operação Bloodworm

A operação foi deflagrada no dia 5 de março de 2023. Na ação, foi descoberto que agentes policiais penais e advogados estavam a serviço da facção criminosa.

Assim, o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) investigou por cerca de 15 meses e foi possível descobrir investidas tímidas no Estado, para estruturar e expandir a facção em Mato Grosso do Sul.

Ao todo, foram cumpridos 92 mandados de prisão preventiva e 38 mandados de busca e apreensão em Campo Grande, Ponta Porã, Coxim, Dourados, Rio Brilhante, Sonora, São Gabriel do Oeste, Rio Verde de Mato Grosso e Dois Irmãos do Buriti, além do Rio de Janeiro, Goiânia, Brasília, Paulo de Faria, Várzea Grande, Cuiabá, Sinop, Cáceres, Marcelândia, Primavera do Leste, Vila Bela da Santíssima Trindade e Mirassol d’Oeste, no Mato Grosso.

Na investigação, foi identificado que o uso de celulares e as ações de “pombo-correio” feitas por advogados que integravam a facção – os gravatas – permitiam o contato entre os faccionados presos e seus comparsas em liberdade.

A partir disso, eles traçavam o planejamento de crimes como roubos, tráfico de drogas e comércio de armas, que foram reiteradamente praticados e comprovados durante a investigação, cujo proveito serviu para o fortalecimento do Comando Vermelho em Mato Grosso do Sul.