Três dos 14 acusados de matar Mauro Eder Araújo Pereira, em um tribunal do crime da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), passam por julgamento nesta quarta-feira (21) no Tribunal do Júri em Campo Grande. O tio já havia sido impronunciado por falta de provas, porém a promotoria recorreu da decisão e o Tribunal de Justiça concedeu e ordenou que os réus fossem a júri popular. São Eles Joceli Lima dos Santos, de 29 anos, Luis Alberto de Jesus Ramos, de 29 anos, e Luan Ávila Santana, de 25 anos. O crime teria envolvido ainda 4 adolescentes.

Eles respondem por homicídio, cárcere privado e por serem integrantes de facção criminosa, neste caso o PCC. O trio negou envolvimento tanto na participação do crime, quanto de serem integrantes da facção.

Joceli foi o primeiro a prestar depoimento. Ele contou que era usuário de drogas e que dos 14 envolvidos conhecia apenas Luis Alberto, onde foi na casa comer churrasco e fazer o uso de entorpecentes. Lá ingeriram bebida alcoólica quando apareceu Maycon, Luan e a vítima em um carro, atrás de droga.

“Ele [Fininho] chegou normal, não estava amarrado, conversando normal. Tava de boa”, disse durante julgamento.

Negou que tenha feito foto no local e disse que foi torturado na delegacia. Disse que não faz parte de facção criminosa. “Passei um mês na Máxima, fui chamado, mas não quis. Se eu fosse disciplina não teria uma vida ‘normal’ hoje porque não pode sair”, explicou, detalhando que trabalha em uma lavanderia hospitalar, é casado e tem 3 filhos menores.

Luis Alberto, conhecido como “Beto”, disse que conhecia Joceli de morar na mesma região e que na época do crime estava fazendo um churrasco em sua casa, onde havia 6 amigos, incluindo Joceli. Depois chegou a vítima com Luan, que estava armado e mais um rapaz, que não se recorda o nome. O trio chegou de carro e usaram drogas. Contou que não os conhecia, mas que Joceli conhecia um deles e o convidou para entrar. “A vítima estava andando normal, falando normal, não estava amarrada ou reprimida. Ele conversou bastante, não estava sequestrado. Depois de usarem drogas e bebida foram embora”, explicou

Confessou que tiraram muitas fotos, mas negou que estivesse armado, apenas Luan. “Não me declaro culpado. Só fiquei sabendo da morte do Fininho depois que vi na reportagem na TV”, concluiu.

Já Luan Ávila, que já foi condenado por outro homicídio e atualmente está preso, disse que não conhecia ninguém. Ele detalhou que morava no Bairro Mario Covas e que trabalhava na região do Nova Lima como servente de pedreiro. Na época dos fatos, era usuário de drogas e no intervalo do serviço, no horário de almoço foi até o local usar drogas.

“Eu fiquei meia hora porque estava no horário de almoço. Cheguei sozinho e a pé”, explicou. Quando questionado sobre o depoimento dos outros réus que dizem que ele teria chegado com a vítima, Luan explicou que a vítima chegou logo em seguia e que coincidiu a entrada dos dois juntos na casa.

“Tinha arma, pinga, droga. Eu já estava meio doidão, tiramos várias fotos, mas eu não estava armado, porque já tinha perdido a arma quando fui preso por porte ilegal”, contou, lembrando que a vítima estava no local livre e que nenhuma porta estava fechada ou trancada.

Disse ainda que trabalhou a semana toda e só depois ficou sabendo da morte de “Fininho”. Ele deixou claro que foi torturado para confessar o assassinato e que na época até a corregedoria foi envolvida, mas que para que as agressões cessassem, ele assinou o registro onde consta que teve participação.

“Mostraram minha foto e eu falei que realmente tirei a foto, mas eu estava doidão e nem percebi que os outros taparam o rosto. Eu não escondi, porque não achei necessário, era só uma foto”, explicou justificando uma foto onde aparece ao lado da vítima e mais um rapaz.

“Um investigador me ligou perguntando se eu era o Luan, expliquei que sim aí ele marcou um encontro em um posto de gasolina e lá me prenderam. Me levaram em uma estrada vicinal perto do autódromo me bateram, fizeram tortura psicológica e física para eu confessar, mas não confessei. Não me deixaram explicar. Como a Máxima é presídio do PCC e eu já tinha ficado preso lá, eles me relacionaram à facção, mas não faço parte de nenhuma facção”, disse.

Este é o terceiro e último julgamento deste caso, segundo o juiz Aluizio Pereira dos Santos.

Além dos três, foram impronunciados Israel Rodrigues Lopes, Glaucia Maria Padim Piacentini Alves, Cristhian Thomas Vieira. Já Carlos Henrique de Oliveira Arguelho foi absolvido durante julgamento onde também foi julgado André Abner Correa de Arruda, este condenado a 19 anos de prisão.

Luan Laftan da Silva Queiroz foi condenado a 21 anos de prisão. Diego Alcunha Medina foi condenado a 22 anos e Miguel Angelo Sanches Benites a 6 anos de reclusão.

Em junho de 2019, Leonardo Caio dos Santos Costa, o ‘Corumbá‘, foi a julgamento pelo crime, negando participar do assassinato. Ele foi absolvido.

Claudimon Moreira da Silva foi condenado a 19 anos de prisão.

Denúncia e execução

Conforme a denúncia, Fininho foi sequestrado no dia 29 de maio de 2017 por membros do PCC, facção a qual ele pertenceria. Ele teria sido mantido em pelo menos cinco locais diferentes, em cárcere privado, durante seis dias. Neste período, Fininho foi interrogado e torturado pelos acusados, por supostamente trair a facção.

No dia 3 de junho, ele foi levado a um lugar nas proximidades do Clube Atlântico, nas margens da BR-262, onde foi executado após ser julgado e condenado pelo ‘Tribunal do Crime’. Leonardo é apontado como um dos envolvidos e que teria participado diretamente. Ele teria sido um dos que levou Fininho até o local da execução.

A execução de Fininho foi filmada e a irmã da vítima a reconheceu quando assistiu ao vídeo. O corpo do homem foi encontrado posteriormente e só foi constatado que era ele após conclusão dos exames, aproximadamente três meses depois.