Uma cena de assustar qualquer um: roupas por todo o canto, remédios espalhados, desordem, bagunça geral. Assim foi encontrada pela polícia a casa onde morava Sophia OCampo, morta aos 2 anos. A menina morreu em janeiro deste ano, após ser espancada e estuprada, e no dia 26 de maio aconteceu a segunda audiência do caso. O Jornal Midiamax teve acesso ao laudo pericial que analisou a casa de Sophia.

Logo na entrada da casa, em específico na varanda, foi observada a bagunça com lixos, objetos espalhados pelo chão e fraldas que estavam em sacos, além de embalagens vazias de latas de cerveja, demonstrando alto consumo de álcool. Na área de serviço, foi notado que recentemente roupas haviam sido lavadas e uma toalha branca chamou a atenção da perícia, já que estava separada das outras roupas estendidas no varal.

Já dentro da casa foi possível notar a desordem. Na sala havia um colchão no chão e sobre ele uma colcha, de cor rosa, onde os peritos encontraram três manchas: uma de cor marrom e outras duas, sendo uma delas de cor avermelhada, sugerindo ser sangue.

Na outra mancha encontrada foi usada luz azulada e com auxílio de óculos de coloração amarela pode-se perceber que se tratava de sêmen. Ainda na sala, foram encontrados vários medicamentos, que iam de tratamento para dores de cabeça, anti-inflamatórios, dores de garganta e prisão de ventre. 

Também na sala foram encontrados dois tubos de lubrificante feminino, sendo um deles aberto e quase no final. Um dos tubos estava em cima de um móvel ao lado do colchão que estava no chão da sala e outro em cima de um móvel onde ficava uma CPU, que foi apreendida para passar pela perícia. 

No quarto havia brinquedos espalhados, um ventilador quebrado e a cama também estava com o estrado quebrado. Uma toalha pendurada na porta do guarda-roupa foi periciada e encontrados vestígios de sêmen. Na cozinha havia louças na pia por lavar e outras limpas, e no banheiro tinha uma banheira, de cor rosa, com água limpa em seu interior. 

Quarto do casal onde estavam vários brinquedos espalhados e sala em desordem (Reprodução)

Segundo a conclusão da perícia, havia objetos e vestígios remetendo à prática sexual na sala e no quarto e um alinho que destoava da desordem na sala e no quarto, além de limpeza recente no banheiro, o que sugere possível tentativa de alteração da cena na residência. 

“Não é possível concluir nesse trabalho a existência de vestígios inequívocos de morte violenta em tal residência, não se descartando o prejuízo ante a falta de preservação do local durante o período entre a prisão dos supostos autores e a chegada da equipe pericial na residência”, disse a perita em laudo.

Após a morte de Sophia ser comunicada, tanto a mãe como a sogra da mulher foram até a residência para buscar objetos.

Luz azulada usada para detectar sêmen na toalha que estava pendurada no quarto (Reprodução)

‘Minha culpa’

O Jornal Midiamax teve acesso com exclusividade ao vídeo da audiência que aconteceu a portas fechadas no Fórum de Campo Grande. No depoimento, que durou cerca de 36 minutos e foi conduzido pelo juiz Carlos Alberto Garcete, a testemunha revela o que aconteceu momentos depois que o padrasto soube da morte de Sophia. Ele foi avisado pela mãe da menina por meio de mensagens de texto.

A testemunha revelou que, no dia em que Sophia morreu, foi até a residência do casal por volta das 15 horas e ficou na varanda junto do padrasto da menina, mas afirmou que não viu a mulher com a menina sair para o posto de saúde. A mãe deixou a casa às 16h46 em carro de motorista de aplicativo. 

Quando a mãe de Sophia mandou uma mensagem para o marido dizendo que a criança havia morrido, o padrasto ficou perturbado e disse a frase: “culpa minha”, conforme o depoimento da testemunha. Em seguida, os dois foram dar uma volta no bairro e fumar um cigarro. O padrasto, então, começou a chorar e segundo a testemunha “não parecia fingimento”.

Ainda segundo a testemunha,  logo após o ‘passeio’ no bairro para fumar, os dois voltaram para a residência, e momentos depois a polícia chegou ao local dizendo que ele iria ser levado para a delegacia, e neste momento, o padrasto não teria esboçado nenhuma reação de surpresa indo com os policiais de forma tranquila. A testemunha relatou que foi para casa após a saída do amigo com os policiais.

Ainda segundo a testemunha, no dia anterior à morte de Sophia, ele foi até a casa para uma festa regada a cocaína, e disse, que era nítido o estado debilitado da menina, “ela estava bem fraquinha”, contou. De acordo com a testemunha, as festas na residência ocorriam pelo menos três vezes na semana e que em uma delas já teria chegado a beijar o padrasto de Sophia na boca. 

Festa regada a cocaína antecedeu morte de Sophia

Durante a audiência, o rapaz foi questionado sobre o que aconteceu no dia e noite de 25 de janeiro, na casa onde morava a menina com a mãe e o padrasto. Em resposta, ele revelou que chegou à residência do casal por volta das 18 horas, já que iriam fazer uma festa. 

Outros dois homens também participaram da festa. Segundo a testemunha, a mãe de Sophia chegou a casa por volta das 19 horas, quando eles resolveram sair para comprar cocaína, nas imediações. As crianças, Sophia e o irmão, ficaram na residência com o padrasto. 

Ainda segundo a testemunha, a mãe da criança foi com ele comprar a cocaína, já que ela iria pagar pela droga. Quando questionado como estava Sophia, o rapaz respondeu que “ela estava molinha”, segundo ele, parecia com a imunidade baixa. Ele ainda falou nunca ter presenciado o padrasto de Sophia espancá-la. 

Foi confirmado por ele que praticamente todos os fins de semana faziam festa com drogas. “Neste dia iríamos comprar a cocaína para ver a potência que ela tinha”, disse na audiência. A testemunha ainda revelou que já havia presenciado brigas entre o casal, com xingamentos e humilhações. 

Sobre pessoas estranhas dormirem na casa e usarem para a prática de atos sexuais, a testemunha contou que ele já teria pernoitado na residência com a namorada algumas vezes e que mantiveram relações sexuais na sala da casa, com as crianças em outro cômodo. 

Já no dia seguinte, morte de Sophia, a testemunha disse que chegou a casa da família por volta das 15 horas e ficou na varanda junto do padrasto da menina, mas afirmou que não viu a mulher sair da residência com a criança para o posto de saúde às 16h46 em carro de motorista de aplicativo. 

“Mas o senhor não estava em frente da casa e não viu a mãe sair com a Sophia?”, foi indagado novamente e ele respondeu que não. “Elas saíram pela janela, então?”, voltou a questionar, mas a testemunha manteve a versão de não ter visto a mãe de Sophia sair com ela para a unidade de saúde, sendo advertida que mentir em juízo é crime. 

Ainda é questionado a ele: “Você não viu uma criança quase morta na casa?” A testemunha respondeu que não e que não sabe quem poderia ter feito mal a Sophia. Ele ainda afirmou não ter visto a mãe da menina mandando mensagens no início da noite dizendo que Sophia havia morrido no posto de saúde. 

Neste dia 2 de junho, Sophia OCampo faria 3 anos, e a festa que teria como tema o fundo do mar não aconteceu. 

Morte de Sophia

Sophia morreu aos 2 anos, na noite do dia 27 de janeiro. Ela foi levada pela mãe a um posto de saúde, onde as médicas que atenderam a menina constataram que ela já estava morta há pelo menos quatro horas. Tanto a mãe como o padrasto de Sophia foram presos e já indiciados pelo crime. 

O casal ainda tentou alterar as provas da morte da menina para enganar a polícia. A prisão preventiva foi decretada no dia 28 de janeiro. Em sua decisão, o magistrado afirmou que: “A prisão preventiva se justifica, ainda, para preservar a prova processual, garantindo sua regular aquisição, conservação e veracidade, imune a qualquer ingerência nefasta do agente. Destaca-se que, conforme noticiado nos autos, a criança somente foi levada para o Pronto Socorro após o período de 4 horas de seu óbito, o que evidencia que os custodiados tentaram alterar os objetos de prova.”

O juiz ainda citou que caso o casal fosse solto, haveria a possibilidade de tentativa de alteração de provas “para dificultar ou desfigurar demais provas”. O casal foi levado para unidades penitenciárias, sendo a mulher para o interior do Estado e o padrasto da menina para a Gameleira de Segurança Máxima. 

A menina passou por vários atendimentos em unidades de saúde, entre eles febres, vômitos, queimaduras e tíbia quebrada. Em menos de 3 meses, a criança foi atendida diversas vezes sem que nenhum relatório fosse repassado sobre os atendimentos a menina.