‘Tchau, querido’: Jornalista diz que comemoração e denúncias podem ter motivado agressões de PMs
Ex-comandante rebateu acusações e afirmou que jornalista terá que ‘provar’ que seria o mandante das agressões
Danielle Errobidarte –
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As agressões sofridas por jornalista de Nova Andradina, a 298 quilômetros de Campo Grande, podem ter sido motivadas por denúncias feitas contra supostas irregularidades cometidas por policiais militares. O profissional da imprensa foi abordado pelo grupo de PMs cerca de 20 minutos antes de solenidade de passagem de comando do batalhão responsável pelo município. O jornalista teria comemorado a saída do ex-comandante nas redes sociais.
Em entrevista ao Jornal Midiamax, o jornalista tentou elencar os motivos que fizeram com que ele despertasse a ‘inimizade’ com alguns militares, incluindo o ex-comandante do batalhão. “Toda denúncia que tinha contra a PM achavam que era eu. Teve uma vez que uma leitora disse ter tido a casa arrombada e ligado no 190 diversas vezes, mas nenhuma guarnição atendeu. Ao invés do comandante ir perguntar o porquê o 190 não atendeu, foi às emissoras de rádio e disse que era fake news e chamou a vítima de mentirosa”, afirma.
Outra denúncia, também a pedido de leitores, segundo ele, teria sido a onda de furtos na cidade, enquanto uma “escala particular” havia sido montada para policiais vigiarem uma obra. “Teve furto em uma obra que pertence a um assessor do governo. Ele pediu para a PM dar uma olhada e montaram um ponto-base na construção, onde os PMs ficaram mais de 15 dias, por 20 minutos, ali. Eu filmei os caras parados e ele [o ex-comandante] abriu um processo contra mim e contra outros 15 PMs”, afirma.
O jornalista explica que teve acesso à escala em que os policiais deveriam ficar no local da obra. “Fui acusado de adulterar documento público. Mas eu não adulterei, só tirei a parte que interessava para não expor os outros PMs escalados”, explica.
Quando soube da transferência, o jornalista explica que chegou a postar em sua conta particular de uma rede social, a frase “tchau, querido!” “Não dei nomes, só falei que ia soltar fogos no dia 2 de junho. Se uma pessoa que não gosta de você vai embora, você não pode comemorar? Eu andava nas ruas e era abordado do nada”, afirma.
Informações obtidas pelo Jornal Midiamax também dão conta de que o jornalista teria encomendado fogos em um comércio da cidade, para o dia da passagem de comando. Um vídeo gravado no interior da loja mostra um dos funcionários expondo a “encomenda” de fogos que teria chegado. Na legenda da publicação, feita na rede social do jornalista, ele escreve “muita festa dia 2. Tchau, querido! (sic)”.
O jornalista afirmou que acredita que, apesar do veículo que é editor-chefe não ser o único a publicar as denúncias, pode ter sido alvo por ter grande quantidade de leitura diária. “Uma vez recebemos no jornal vídeo de leitores falando que tinha uma perseguição em Batayporã, que fica a 10 km daqui, e mostrava que a viatura bateu em um poste. Fizeram um boletim de ocorrência contra mim, mas o processo foi arquivado”, explica.
Ainda conforme explicado pelo jornalista, no dia em que as agressões ocorreram, os policiais teriam dito que precisavam levá-lo para a delegacia. “Não sei exatamente para onde queriam me levar, mas eles chegaram falando: ‘Estamos cumprindo ordem você sabe de quem’, mas não tinham mandado de prisão e nem de busca no meu carro”, afirma o jornalista.
“Declarações infundadas”, diz ex-comandante
O Jornal Midiamax também entrevistou o ex-comandante do 8º BPM, Tenente Coronel J. Roberto. Segundo ele, na época em que foram veiculadas as matérias sobre os militares ‘fiscalizando’ obras, já tinha sido emitida uma nota de esclarecimento. “A obra em questão não pertencia a ninguém ligado ao governo e o local já havia sido alvo de crimes pelo menos quatro vezes. As rondas no local foram intensificadas, pois além de ser uma avenida movimentada, havia várias obras naquela região. Vários locais têm essa sistemática, como escolas, bancos, praças e comércios”, afirma.
Já em relação à viatura envolvida na perseguição em Batayporã, o tenente-coronel explicou que teria sido repassado ilegalmente uma foto ao jornal. “O que aconteceu na verdade foi uma publicação de fotos protegidas por lei, com sigilo funcional. O policial foi punido administrativamente pelo fato, e no inquérito absolvido por falta de provas”, explica.
O ex-comandante afirma que o jornalista teria dado declarações falsas. “Em virtude dele ter dado declarações falsas, foi representado junto à Polícia Civil por falso testemunho”, alega.
O militar também afirma que as acusações feitas pela imprensa local “são infundadas”. Sobre os policiais que aparecem no vídeo das agressões terem dito “estamos cumprindo ordem você sabe de quem”, se referindo a ele, o ex-comandante negou.
“Sobre esse fato, cabe a ele provar, tendo em vista que não só o jornal dele, como também outro blogueiro da cidade, têm feito diversas acusações infundadas”, afirma.
Processo na Corregedoria da PMMS
Conforme informado pela assessoria de imprensa da PMMS, foi aberta investigação na Corregedoria para apurar as agressões contra o jornalista. O tenente-coronel J. Roberto havia sido transferido de Nova Andradina para a Casa Militar, do Comando Geral, em Campo Grande, no dia 23 de maio.
Contudo, nesta segunda-feira (5), foi publicada no Diário Oficial do Estado a revogação da ocupação dele no cargo de confiança na Casa Militar. A decisão é assinada pelo Secretário de Estado de Governo e Gestão Estratégica Pedro Caravina, e datada da sexta-feira (2).
Segundo explicado pela assessoria da PM, ele foi transferido provisoriamente para a Ajudância Geral, também no Comando Geral em Campo Grande. “Quando o policial militar é transferido de cidade, ele tem direito a afastamento por trânsito e instalação de 40 dias ao todo. Nesse interim, ele deve ser designado para uma outra função”, diz a nota.
Transferência dos 4 PMs
Os quatro policiais militares envolvidos nas agressões foram transferidos e irão trabalhar em outra cidade, que ficará a critério do comandante da unidade decidir, se ficarão em serviços internos ou nas ruas. Um PAD (Procedimento Administrativo Disciplinar) será instaurado para apurar os fatos. O PAD deve durar 30 dias tendo a possibilidade de ser prorrogado por mais 30 dias.
Confira o vídeo:
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