Pivô de delação sobre morte de Marielle, Lessa está preso em Campo Grande desde 2020
Delação envolvendo suspeito preso em Campo Grande desencadeou operação para prender mais um envolvido no crime
Mirian Machado –
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O policial militar reformado Ronnie Lessa, de 51 anos, suspeito no caso do assassinato ex-vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco, e do motorista Anderson Gomes, está preso na Penitenciária Federal de Segurança Máxima de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul, desde dezembro de 2020. Lessa foi citado em delação premiada do ex-PM Élcio de Queiroz, firmada com a Polícia Federal, onde confessa ter participado junto com Ronnie Lessa da execução da ex-vereadora. A informação foi noticiada nesta segunda-feira (24) pelo ministro da Justiça, Flávio Dino.
A delação de Élcio resultou em uma operação nesta segunda-feira (24), no Rio de Janeiro, que prendeu ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, o Suel, que foi expulso pelo Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, em maio do ano passado, após ser condenado por atrapalhar as investigações sobre as mortes de Marielle Franco e Anderson Gomes. A Operação Élpis cumpriu sete mandados de busca e apreensão.
Segundo o ministro, certos detalhes sob os quais pairavam dúvidas ao redor dos assassinatos foram esclarecidos por meio da delação, que trouxe convergência da narrativa de Élcio em relação a outros aspectos de posse da polícia, como a dinâmica do crime envolvendo Queiroz, Roni Lessa e Mawell, assim como de outros participantes.
Lessa é o principal suspeito de assassinar a ex-vereadora e o motorista em março de 2018. Em entrevista à revista Veja, ele contou que o ex-presidente Jair Bolsonaro, que na época era deputado federal, o ajudou em 2009 para que ele recebesse prioridade em um atendimento na ABBR (Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação), mas que mal o conhece.
Ronnie Lessa morava e foi preso no mesmo condomínio em que Jair Bolsonaro morava com a família na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Apesar disso, o suspeito de matar Marielle afirmou à revista que nunca foi próximo do presidente. “É um cara esquisito. Se vi cinco vezes na vida, foi muito. Um dia cumprimenta, outro não, e mesmo assim só com a mãozinha. E nunca vi os filhos dele”, disse para a Veja.
Operação Florida Heat
Ele foi alvo ainda de outras operações como a ‘Florida Heat’ em março de 2022, contra organização criminosa voltada para o tráfico internacional de armas, dos EUA para o Brasil. As investigações, que começaram em 2020, descobriram um grupo responsável pela aquisição de armas de fogo, peças, acessórios e munições nos EUA e, posterior, envio ao Brasil. A internalização do armamento, no Brasil, se dava por meio de rotas marítimas — contêineres — e aéreas — encomenda postal — pelos estados do Amazonas, São Paulo e Santa Catarina e tinham como destino final uma residência em Vila Isabel, no Rio de Janeiro.
Na maioria das vezes, o material era escondido em equipamentos como máquinas de soldas e impressoras, despachados junto a outros itens como telefones, equipamentos eletrônicos, suplementos alimentares, roupas e calçados. Desta residência, as peças eram retiradas pelos integrantes da célula no Rio de Janeiro — responsável pela usinagem e montagem do armamento, com auxílio de impressoras 3D, que posteriormente eram distribuídos para traficantes, milicianos e assassinos de aluguel.
A quadrilha investia o dinheiro adquirido com o tráfico de armas em imóveis residenciais, criptomoedas, ações, veículos e embarcações de luxo. Também foi decretado o sequestro de bens, avaliados em cerca de R$ 10 milhões. Ao longo da investigação, houve apreensão de milhares de armas, peças, acessórios e munições de diversos calibres, tanto no Brasil, quanto nos EUA.
Operação Conexão Miami
Quatro meses depois, em julho, Lessa foi alvo de mais uma operação a ‘Conexão Miami’, quando era investigado por enviar remessas com peças de armas de fogo da Flórida, nos Estados Unidos, para o Rio de Janeiro (RJ). Ele seria responsável por contrabandear peças de armas de fogo dos Estados Unidos para a capital carioca.
Ainda de acordo com a PF, ao menos 10 remessas foram feitas e as peças eram usadas para montagem de armas que abasteceriam criminosos no Rio de Janeiro, especialmente integrantes de grupos de extermínio.
As investigações apontaram ainda que as remessas foram feitas em um período de 20 meses, entre 2017 e 2018, sendo que três delas tinham auxílio da filha do investigado, Mohana Lessa, que mora na Flórida. Ela também foi indiciada no inquérito.
Ronnie também teria importado ilegalmente peças de armas da Nova Zelândia e da Ásia.
Condenação
Em agosto do mesmo ano foi condenado a cinco anos de prisão pelo crime de tráfico de armas pela importação de 16 peças de fuzil em 2017, apreendidas vindo de Hong Kong no Aeroporto Internacional do Galeão. A esposa do ex-policial, Elaine Pereira Figueiredo, foi absolvida do caso.
Segundo o Portal UOL, a defesa de Ronnie chegou a argumentar no processo que se tratava de “freios de boca”, acessórios para diminuir o movimento da arma após disparo.
Execução de Marielle Franco
Marielle Franco e Anderson Gomes foram executados em março de 2018, no Rio de Janeiro, e a investigação nunca foi concluída. O policial militar reformado Ronnie Lessa, acusado de ter feito os disparos que mataram a vereadora e o motorista, e o ex-policial militar Elcio de Queiroz, suspeito de dirigir o carro que perseguiu a política após ela sair de um evento na Lapa, zona central do Rio, foram presos em 2019.
O policial militar reformado, de 51 anos, está preso na Penitenciária Federal de Segurança Máxima de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul, desde dezembro de 2020.
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