Corregedoria vai apurar briga de trânsito com delegado que atirou em avenida de Campo Grande

Delegado registrou um boletim por ameaça e achou que ‘estava sendo perseguido por conta de sua profissão’

Thatiana Melo – 28/03/2023 – 10:01

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(Foto: Renata Portela – Jornal Midiamax)

A Corregedoria da Polícia Civil vai apurar a briga de trânsito que ocorreu neste fim de semana, no Parque dos Poderes, quando o delegado Paulo Sá, lotado na Coordenadoria de Operações, vinculado ao DPE (Departamento de Polícia Especializada), fez disparos contra o pneu do carro de um motorista.

Segundo informações apuradas pela reportagem, “a apuração será feita em procedimento próprio, pela Corregedoria-Geral da Polícia Civil, em toda a extensão dos fatos. Os boletins já foram encaminhados para a Corregedoria.”

A briga aconteceu em frente ao prédio da DGPC, quando os carros seguiam no mesmo sentido, em direção à Avenida Hiroshima, no início da tarde de sábado (25).

Em fevereiro de 2022, o ex-delegado geral Adriano Garcia Geraldo também se envolveu em uma briga de trânsito em que fez disparos contra os pneus de uma motorista de 24 anos.

Versão do motorista que teve os pneus estourados por tiros

O motorista do Fiat Linea informou que ao passar em frente ao prédio da DGPC, notou um carro Peugeot branco o seguindo no mesmo sentido. O condutor do Peugeot, que seria o delegado, estaria com arma em punho, teria feito provocações e efetuado um disparo em direção ao pneu, deixando o local em seguida.

Ele ainda relatou que, ao perceber que havia acertado o pneu, estacionou o carro e ligou para o 190. Posteriormente, foi ordenado pelos responsáveis da PMMS, que atenderam a ocorrência, que fosse colocado o nome do delegado como possível autor dos fatos, e informado que ele iria se apresentar na Depac (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário) Cepol para esclarecer os fatos. O caso foi registrado como disparo de arma de fogo na Depac Centro.

Versão do delegado

O delegado compareceu ao Cepol, logo após o episódio, e registrou um boletim de ocorrência de ameaça. Ele alegou que foi com seu filho até a DGPC de moto e deixou o veículo estacionado no pátio. Em seguida, pegou o Peugeot, que seria uma viatura descaracterizada acautelada por outro delegado, para levar até a sua casa para tirá-la do sol.

No trajeto, enquanto seguia pela Avenida Hiroshima, percebeu que atrás dele vinha um carro escuro forçando a ultrapassagem. Segundo o delegado, o carro chegou a encostar a frente no para-choque traseiro de seu veículo. Em seguida, ao chegar em uma rotatória, teria dado passagem para o motorista, mas ele teria tentado fechá-lo freando mais a frente.

O delegado afirmou ter suspeitado que “poderia ser alguém lhe perseguindo por conta de sua profissão” e, então, sacou a arma, determinou que o filho abaixasse, emparelhou com o carro escuro e efetuou um disparo no pneu direito da frente.

Em seguida, ele alegou ter saído do local “para segurança própria e de seu filho”. Paulo Sá afirmou ter deixado o filho em um local seguro e se dirigido para a delegacia registrar o boletim. Ele ainda disse não saber quem era o motorista do outro carro.

Foi identificado que a arma de fogo utilizada é uma pistola Glock calibre 380, particular.

Outro caso: ex-delegado geral atirou em briga de trânsito

O caso aconteceu no dia 16 de fevereiro de 2022, quando em uma briga também de trânsito o então delegado-geral na época, Adriano Garcia, fez disparos contra o pneu de uma motorista de 24 anos, na Avenida Mato Grosso. Na época, a jovem contou ao Midiamax que o delegado estaria exaltado e falando que a ‘arrancaria’ de dentro do carro, caso ela não descesse. Nervosa, a jovem falou que ligou para a família a amigos, e nesse momento, vários policiais chegaram ao local, quando teria ficado mais tranquila com a presença da força policial identificada.

A jovem ainda disse que teve de procurar atendimento médico por volta das 2 horas da madrugada, e ao passar pelo carro que estava estacionado na avenida, percebeu que suas coisas dentro do veículo estavam reviradas. “Me senti violada, não precisava ter revirado meu carro”, disse a jovem.

Ela falou ainda que não sabia que carros normais tinham sirene. “Eu até achei que era uma ambulância e do nada ele para na minha frente e começa a apontar uma arma para mim, ele não se identificou e começou a atirar”, relatou a estudante, na época.

Boletim de ocorrência

No B.O redigido, a versão registrada admite que tudo começou devido a uma fechada no trânsito. Na versão da ocorrência, foi confirmado que Adriano buzinou e que a motorista de 24 anos mostrou o dedo após levar a buzinada. O histórico afirma que o delegado atirou depois que ela já tinha parado o carro.

Segundo a versão da Polícia Civil, o delegado-geral teria atirado porque achou que a jovem, mesmo com o carro trancado pelo carro dele, estaria “virando o volante para o lado dele e engatando ré”. No entanto, pouco antes, ele mesmo diz que não sabia quantas pessoas poderiam estar no carro porque tinha Insulfilm, ou seja, contraditoriamente, diz que não seria possível ver o interior do veículo.

Durante o atendimento dos disparos feitos pelo delegado-geral, os policiais que atenderam à ocorrência do chefe recolheram a memória de uma câmera que ela tinha no para-brisa do carro, e o celular da jovem. A motorista garante que, nas filmagens, poderia provar que o delegado-geral a perseguiu sem se identificar logo após se irritar em uma desinteligência de trânsito. “Simplesmente mostrei o dedo para ele porque meu carro afogou e ele buzinou. Eu não tenho bola de cristal para saber que ele é delegado”, disse a jovem. 

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