Nesta terça-feira (26), está sendo realizado o julgamento de quatro homens, acusados de matar Hugo Pereira dos Santos, no dia 16 de junho de 2017, quando ele tinha 45 anos. Na época do crime, o corpo da vítima foi encontrado às margens da BR 262, no da rodovia, em Campo Grande. 

Os réus são Alex Maklin Gonzaga, Anderson Vicente Chagas, Israel Rodrigues Lopes e Edi Carlos Pereira da Silva. Apenas Edi Carlos Pereira da Silva, que é cadeirante, conta com defesa de dois advogados, os demais têm defesa da Defensoria Pública.

A acusação do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) defende que ‘combinados entre si', os quatro mataram Hugo, por volta de 11h40 da manhã de uma sexta-feira. Alega ainda que o grupo, que responde por homicídio doloso, invadiu a casa da vítima, no Paulo Coelho Machado, e matou a vítima a tiros.

A primeira pessoa ouvida, como informante, foi o filho de Hugo, hoje com 18 anos. Com 11 anos na época, ele relatou que os acusados entraram na casa, colocaram o pai numa cadeira e começaram a fazer xingamentos. “Fui na porta e vi que um deles estava armado. Xingavam e ofendiam ele, depois pegaram meu pai e colocaram dentro de um carro (Pálio de cor verde). Antes de sair, meu pai me pediu desculpas pelo que ele tinha feito, mas não sei o que seria”.

A Promotoria Pública perguntou se ele tinha certeza que os acusados eram os mesmos que estavam ali no Tribunal hoje? E o rapaz respondeu que sim. Disse ainda que, entre os acusados, estava um homem que andava com muletas.

Foi perguntado ao rapaz se ele confirmaria a informação de que chegaram gritando: “cadê você, neguinho safado, talarico”? – alguém que mantém relação com mulher casada com um amigo ou conhecido. O rapaz respondeu que não sabia. Então, a acusação perguntou se ele sabia qual seria a razão da morte do pai, ele disse que não sabia também. O filho de Hugo foi questionado também se o jovem sabe a diferença entre revólver e pistola, que responder que sim.

O filho da vítima disse que o pai era usuário de drogas, mas desconhece dívidas de entorpecentes ou se teria furtado objetos. Disse que poderia haver uma quinta pessoa acusada de participar do assassinato do pai, mas que não se recorda bem. E falou que não sabia se o pai tinha ou não relacionamento com uma mulher casada. O jovem ainda relatou que, na quinta-feira passada (21), outras pessoas, num Uno de cor branca, o abordaram e fizeram ameaças a ele, dizendo para ele modificar o depoimento de hoje (26).

Várias testemunhas

Quatro testemunhas foram ouvidas. Entre elas, um homem que era líder da comunidade “Só por Deus”, na região sul da capital. Foi mostrada pela Defesa do réu Édi Carlos uma lista com assinaturas das pessoas que participaram de uma reunião exatamente no dia do crime. A reunião, de acordo com a ata, foi realizada entre 9 e meia às 11h40 da manhã do dia do crime. O Promotor questionou: “há uma assinatura quando começa e outra quando termina essa reunião? Se eram 45 pessoas na reunião, como o senhor pode garantir que todos permaneceram durante toda a reunião?”

A testemunha respondeu: “a gente ficava cuidando, porque tem que ficar lá na reunião. A gente tem que apresentar lista pra (Agência Municipal de Habitação). Quando tinha reunião, se a gente não fosse, a gente não ganhava terreno. E graças a Deus, depois a gente ganhou”.

Fala de um dos acusados

O primeiro réu foi Edi Carlos, que negou participação na morte de Hugo. Falou que nunca teve problemas com ele e que não conhece os outros três acusados. Disse ainda que quem mandou matar Hugo foi um homem conhecido como “Edinho”, que estava preso e que já foi morto também. “Porque ele (Hugo) quebrou uma ‘biqueira' … Edinho, na prisão, mandou dar um pau neles. E outro dia ele (Hugo) voltou lá e roubou a loja do Edinho e Edinho mandou catar eles”. 

Édi Carlos, o primeiro a ser ouvido no Popular. (Foto: Ari Theodoro, Midiamax)

O réu falou que nunca revelou isso antes porque tinha receio, porque Edinho já era matador e ele já estava numa cadeira de rodas. Relatou que Hugo saía com a mulher de outro homem, conhecido dele e do Hugo. Na ata da reunião, realizada no mesmo dia do assassinato, o encontro consta na lista que terminou às 11h40 da manhã e o crime teria ocorrido às 11h45. “Acabou a reunião e já fui pra casa, peguei uma carona. O réu disse que é analfabeto, que a única coisa que sabe escrever é o nome dele e que assinatura dele está lá, que teria participado da reunião.

O Promotor (José Arturo Iunes Bobadilha Garcia) leu a ficha criminal de Edi Carlos e disse que ele tinha dois homicídios e não um, em 2019 e outro em 2005. “O senhor tem quatro condenações, no total 25 anos de condenação”. O réu respondeu: “Eu falo um homicídio porque fui eu mesmo que fiz, o outro não”. O Promotor rebate: “já conheço a versão de todos os acusados, de que são inocentes. Mas eu prefiro a decisão do Poder Judiciário, o que consta nos laudos”. E o acusado ainda rebateu: “Mas e vocês não erram?”

O Promotor continuou: “temos testemunha presencial, filho da vítima. Ele disse que, lá em 2017 (dia do crime) dentre as pessoas estava uma que usava muletas. Nesta data, o senhor usava muletas?” Edi Carlos respondeu que sim, mas negou que tinha uma pistola, arma que teria sido usada no assassinato.