‘Autorização para predadores sexuais’, diz vítima após absolvição de enfermeiro acusado de estupro
Mãe e vítima vão recorrer ao Conselho Federal de Enfermagem
Mirian Machado –
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“Eu confiei nele como uma pessoa que estava ali para cuidar de mim, não para se satisfazer. Estou extremamente revoltada. O Coren deu autorização para predadores sexuais, carta branca para mulheres ficarem desprotegidas”, disse a vítima de estupro do enfermeiro, de 52 anos, dentro de um dos quartos no Hospital Regional de Mato Grosso do Sul em Campo Grande. O homem foi absolvido durante julgamento no Coren-MS (Conselho Regional de Enfermagem) nesta sexta-feira (16) e o resultado revoltou mãe e filha, vítima do acusado. O crime aconteceu em fevereiro de 2021.
O julgamento ocorreu pela Comissão de Ética do Coren e durante todas as audiências a família da vítima pedia pelo fim do registro do agressor. “Eles alegam que não têm provas suficientes, mas eles sabem o que aconteceu, porém, desde a denúncia, houve uma série de erros, como por exemplo, o hospital trocou ela de quarto e lavou o lençol, tudo isso enquanto eu estava na delegacia fazendo o registro da ocorrência. Eu tenho mensagem e prints disso tudo, mas acontece que minha filha é anônima, não é artista que iria dar ibope pra ele. Uma pessoa é presa, algemada por roubar um pacote de bolacha, que é errado também, mas por estupro não acontece nada”, reclamou revoltada a estudante de Direito Miria Motta, mãe da vítima. “Não tem câmera nem particular, quem dirá no HR que mal tem medicação”.
Desesperada, a vítima conversou com a reportagem por telefone e, extremamente revoltada e abalada com a situação, explicou que se sente impune. “O que mais precisa que aconteça? Na TV passa uma campanha bonita para as mulheres denunciarem violência, mas eu denunciei, qual acolhimento a gente tem? Ouvi até que eu deveria ter filmado. Como se filma um estupro?”, questionou.
A mãe da vítima ainda reclama que exige apenas o que é seu direito. “A Lei é do país, então eu exijo um resposta do país. Não quero vingança, isso eu faria na calada da noite. Quero apenas justiça e que ele seja responsabilizado”, detalhou.
Mãe e filha afirmam ainda que não estão levantando falso contra pessoa inocente. “Estupro é estupro. É um absurdo. É monstruoso. Ele acabou com a vida da minha filha. Acabou com a minha vida. Tudo colabora para que seja um caso esquecido e mais uma de boca fechada, mas não vou me calar e não vou omitir tudo o que acontecer. Estou pagando por uma dor que ninguém merece ter”, diz.
Ainda nesta sexta-feira, Miria vai pedir ajuda na Comissão dos Direitos Humanos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) MS.
Já na ação criminal, está prevista para acontecer audiência de instrução do caso no Fórum, na próxima segunda-feira (19), às 14h.
Sobre o crime
A vítima foi internada no HRMS em 2 de fevereiro de 2021 com sintomas de Covid-19. Dois dias depois, na madrugada do dia 4, às 3 horas, ela foi estuprada pelo enfermeiro após reclamar de problemas para respirar. Consta nos autos do processo que a vítima estava com dores e o enfermeiro teria arrumado o oxigênio. Depois, com um óleo, passou a massagear a mulher e a estuprou. Às 5h30, a vítima relatou o ocorrido para a mãe.
Pouco tempo depois, a mulher foi até a Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher) e registrou boletim de ocorrência por estupro. O hospital também foi acionado sobre o ocorrido.
Assim, no dia 6 de fevereiro, a vítima começou o tratamento psicológico, ainda no hospital. Já no dia 9, foi encaminhada ao Centro de Atendimento à Mulher e também recebeu alta hospitalar.
No dia seguinte, dia 10 de fevereiro de 2021, a vítima foi ouvida na Deam. Lá, confirmou os fatos denunciados e o caso chegou até a Comissão de Direitos Humanos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Seccional de Mato Grosso do Sul. Com isso, foi solicitada providência por parte do Coren.
Estupro foi denunciado e enfermeiro se tornou réu
Ainda naquele mês, no dia 18, a vítima foi até a Deam novamente para acareação. Então, reconheceu o enfermeiro denunciado como autor do estupro.
Em 7 de maio, o inquérito policial foi finalizado e encaminhado ao Ministério Público de Mato Grosso do Sul, que ofereceu a denúncia em 18 de novembro. A denúncia foi recebida e o acusado se tornou réu por estupro de vulnerável.
Relatos de terror
A vítima relatou os momentos de terror que viveu no hospital quando foi abusada pelo enfermeiro. “Tentei me jogar da cama e fazer barulho [para chamar a atenção]. Estávamos no sétimo andar e tinha grade na janela, mas a vontade que tinha era de me jogar de lá, para que ele não continuasse. Tive medo de que subisse em mim. A senhora que estava na cama do lado estava apagada [por isso não ouviu]”, relatou sobre os abusos sofridos.
Alegando que iria passar um óleo pelo corpo dela, sob a justificativa de que iria melhorar a respiração e evitar lesões, o homem a violentou. Primeiro, espalhou a substância pelas costas dela e, em seguida, começou a tocá-la nas partes íntimas.
Mesmo sem forças, ela reagiu e se debateu. Porém, a paciente entrou em colapso, momento em que chegou uma enfermeira ao quarto. A mãe conta que a enfermeira que havia acabado de entrar no quarto, não teria percebido que a paciente tinha sido abusada.
Ela recebeu atendimento e, após ser medicada, conseguiu ligar para a mãe pouco antes do início da manhã do mesmo dia. A mãe relata que foi imediatamente ao Hospital Regional e, no mesmo dia, procurou a polícia para registrar o boletim de ocorrência.
Na época, a paciente foi transferida para outro quarto, em andar diferente do hospital, onde recebeu alta no dia 9 de fevereiro.
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