Ex-guarda confessa ter guardado armas, mas nega participação na morte de Matheus

Marcelo Rios revela que recebeu R$ 2 mil para guardar armas e que as teria guardado na casa dos Names

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Marcelo Rios durante interrogatório pela morte de Matheus Coutinho em 2019. (Kisie Ainoã, Midiamax)

Marcelo Rios, ex-guarda municipal, acusado de ter contratado os pistoleiros a mando dos Names para matar Paulo Xavier, e que acabou na morte, por engano, do filho de PX, Matheus Coutinho, em abril de 2019, foi o segundo dos três réus a ser interrogado. Ele iniciou o depoimento no Tribunal do Júri, na tarde desta terça-feira (18), por volta das 15h10. Marcelo foi preso com a descoberta da casa das armas dos Names.

Mãe de Matheus, que faz parte da acusação no julgamento dos réus, questionou Rios sobre como combinou para receber as armas, tendo como resposta que teria ocorrido pessoalmente. “Eu te ligo e explico melhor quando acabar essa parte das armas. Essas armas foram passadas para o meu carro dentro do parque Jacques da Luz, na Moreninhas”, disse.

Rios negou que tenha sido intermediário e que teria contratado hacker para encontrar PX. Negou conhecer algum hacker. “Nunca fui intermediário. Eu assumi o crime das armas, mas essa questão de homicídio não tenho nada a ver com isso”, confessou, acrescentando que não sabe quem matou ou quem intermediou o crime contra Matheus.

Sobre o José Moreira Freires, o Zezinho – apontado como pistoleiro que atirou em Matheus -, negou conhecê-lo, apesar de Zezinho também ser GCM (Guarda Civil Metropolitano). “Eu seria um idiota se conhecesse. Eu não conheço, não tenho vínculo. A GCM é dividida em sete setores, eu era da Central e ele da Bandeiras. A escala dele era na escola agrícola, fora da cidade, então, assim, nenhum guarda de dentro da cidade vai conhecer os que estão lotados fora da cidade. Nós não nos conhecíamos”, detalhou.

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Relação com executor

Ainda conforme Rios, Name tinha um terreno em frente ao parque de exposição. Em 2017, ocorreu um estupro no local. Então, no ano seguinte, Jamil ordenou que fizessem um estacionamento no local durante a exposição. Rios e outros guardas ficaram trabalhando no local e, com isso, conheceram Juanil – também apontado como atirador responsável pela morte de Matheus -, que tinha um estacionamento próximo e teria ido até lá.

Depois, passaram a se aproximar de Juanil, que passou a visitar Rios no trabalho dele, no parque Jacques da Luz para tomar tereré.

Em 2019, Juanil disse que iria ficar fora por 20 dias e pediu para que Rios guardasse armas por R$ 2 mil, o que teria sido aceito. “Ele [Juanil] tinha Corsa sedan, era muita arma, as armas foram passadas de um carro para o outro dentro do parque”, revelou em depoimento.

Como tinha a chave da casa dos Names, e precisava ir até lá para mandar o piscineiro limpar, acabou levando as armas, sem a ciência dos donos, afirmou, dizendo ainda que não tinha outro lugar para guardar. Confessou ainda que ficou com as armas por ganância.

Ainda em depoimento, Marcelo disse que ouviu dentro do Presídio Federal que PX havia perdido droga que era da facção. Nesse momento, PX que assiste o julgamento da plateia, levantou a cabeça e riu da acusação contra ele.

Família Name

Rios contou, ainda, que foi indicado por outro guarda para trabalhar na casa da família Name, onde ficou de agosto de 2016 até o dia em que foi preso.

Rios explicou que andava mais com Name filho. “Meu serviço era levar as crianças para a escola e buscar. Em questão de 20 dias, o Jamil perguntou se conhecia alguém do padrão dele para indicar”, explicou, dizendo ainda que pediram que fosse alguém de confiança, pois estariam em contato com os filhos e que pelo poder aquisitivo deles tinha medo de qualquer um chegar perto.

Nisso, Rios indicou Eronaldo, preso por ameaças à Eliane, Antunes e Robert.

Em certo dia, Rios chegou no horário de almoço na casa e Jamilzinho estava lá. Logo percebeu que pai e filho estavam brigados e não havia ordens para levar almoço para os Names. Então, Rios pediu para a cozinheira preparar comida e passou a levar para Jamilzinho, que morava em apartamento próximo ao Shopping Campo Grande, e assim começou a se aproximar de Jamilzinho.

Antecedentes

Marcel já respondeu por homicídio, quando ficou preso por 4 anos. Como guarda, tem uma ameaça em Rio Brilhante, mas afirma que não era ele, já que nunca esteve na cidade. Seria outra pessoa com o mesmo nome e o restante das passagens policiais que tem é relacionado às atividades na Guarda Municipal.

Ao citar um caso em andamento de pornografia infantil, Rios disse que foi o ‘pior pai’ que possa existir. Disse que responde a esse crime por conta de fotos dos filhos no celular, porém justifica. “Perdi a mãe da filha mais velha e a Eliane. Eu vivia uma vida conturbada. A Eliane mandou foto de xixi na cama de uma das crianças, mandou foto das crianças tomando banho com ela e da criança sem roupa por causa do xixi”, explicou que por isso está respondendo por pornografia infantil contra os filhos.

Contou que nunca foi processado por arma de fogo, mas está sendo acusado por causa do dia da morte do Matheus, pois disseram que foi visto ele armado. Ainda sobre passagens, foi absolvido de um caso de corrupção ativa e passiva.

Questionado se abusou dos filhos, Rios disse que dos filhos não. “Meus filhos eu fui o pior pai do mundo, mas com os meus filhos não. Quando chegou esse tipo de acusação eu pensei em até que ponto esse tipo de acusação vai”, disse.

Reencontro com filhos

Preso no Presídio Federal de Mossoró (RN), após quatro anos, Marcelo teve a autorização do juiz Aluízio Pereira para ver os filhos nesta terça-feira (18), após o depoimento da ex-mulher Eliane Benitez.

Eliane relembrou os momentos de terror que viveu com os filhos por quase uma semana quando ficaram alojados na delegacia, depois que Rios foi preso.

Ao receber a notícia de que poderia ver os filhos, Marcelo chorou. O reencontro foi privado, em uma sala fora do plenário do júri.