Roupas longas, sem amigos e hematomas: saiba como identificar e ajudar vítimas de violência doméstica
Maioria das vítimas de feminicídio em MS não levou caso à polícia por medo ou dependência
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No período de 24 dias — entre 15 de janeiro e 8 de fevereiro — 8 mulheres foram vítimas de feminicídio em Mato Grosso do Sul, duas delas em Campo Grande. Diariamente, mulheres são vítimas da violência doméstica e passam pela situação sem denunciar, mas amigos e familiares podem ajudar caso percebam um primeiro sinal de que a mulher sofre as agressões físicas ou psicológicas.
Apenas uma das 8 vítimas tinha contra o agressor medida protetiva. Muitas vezes, as vítimas não conseguem pedir socorro, por medo ou mesmo dependência dos agressores, mas pessoas próximas podem ajudar caso percebam os sinais de que a vítima sofre com a violência doméstica.
A médica psiquiátrica Danusa Cáspedes Guizzo, professora da Faculdade de Medicina da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), esclarece que as vítimas de violência doméstica podem se afastar dos amigos e familiares, o que já é um sinal a ser percebido. “Ela pode estar com aparência entristecida ou ansiosa”.
Também de acordo com a psiquiatra, a mudança de roupas, como passar a usar roupas mais longas que possam esconder hematomas e outras lesões provocadas pelos companheiros. “Mesmo assim, alguns podem observar repetidamente lesões corporais, que a vítima provavelmente atribuirá a quedas ou outros acidentes domésticos”, pontua.
Como abordar o tema
Mesmo percebendo casos de violência doméstica, as pessoas acabam não sabendo como abordar o assunto ou ajudar as vítimas. Para a psiquiatra Danusa, o ideal é que procure conversar em particular com a vítima, em local seguro e com privacidade. “Dizer que tem observado que ela não está bem e que está disposto a ouvi-la e ajudá-la”.
“Não fazer julgamentos, culpabilizar, repreender. Muitas vezes a vítima não percebe ou nem sequer sabe o conceito de violência física e psicológica”, afirma. Para a médica, é necessário compreender que muitas vezes a vítima desconhece a Lei Maria da Penha ou outras alternativas para a proteção. “Nesses casos um esclarecimento já é muito útil”, diz.
Para amigos e familiares, também é importante se colocar à disposição para ajudar a vítima em qualquer situação de risco.
Por que muitas vítimas não denunciam?
É importante o entendimento de que, se muitas vezes a vítima não denuncia o agressor, é por medo ou alguma dependência. “Dependência financeira e emocional do parceiro; baixa autoestima; preocupação com o bem-estar e sustento dos filhos com a separação; falta de percepção de que está em um relacionamento patológico; medo do agressor que muitas vezes a ameaça de morte caso ela comunique o fato às autoridades competentes, entre outros”, são alguns fatores citados pela psiquiatra Danusa Cáspedes.
Também conforme a médica, muitas vezes o abusador e agressor exerce tamanho controle sobre a vítima que a convence de que ela é a culpada por sofrer a violência doméstica. “Além dos esclarecimentos sobre a lei, encorajamento e apoio para que ela faça a denúncia, nesses casos, é importantíssimo encaminhá-la para um tratamento psicológico e/ou psiquiátrico se necessário”, pontua.
Casa da Mulher e Sala Lilás
Em Campo Grande, vítimas de violência doméstica podem procurar a Casa da Mulher Brasileira, onde fica localizada a Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher). Algumas cidades do interior também contam com delegacias especializadas e outras com as Salas Lilás, para atendimento diferenciado e qualificado às mulheres em situação de violência, bem como atendimento para crianças e adolescentes vítimas.
Na Casa da Mulher Brasileira, as vítimas contam com apoio policial e também psicossocial. Para mulheres vítimas de violência doméstica que corram risco iminente de morte, é oferecido alojamento com abrigo temporário de curta duração. Também são oferecidos serviços de saúde para mulheres em situação de violência.
A quem recorrer?
Além do 180, Central de Atendimento à Mulher que é o canal para denúncia de violência doméstica, ou mesmo 190 para acionar a Polícia Militar, a vítima pode procurar a Deam. Em Campo Grande, fica localizada na Casa da Mulher Brasileira, no Jardim Imá.
Caso a mulher prefira, pode registrar o caso pela internet. É possível pelo site da Delegacia Virtual fazer o registro do boletim de ocorrência. Em Mato Grosso do Sul, o programa Não se Cale traz dados e divulgação sobre o enfrentamento da violência contra a mulher.
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