Indígenas cobram medidas dos Direitos Humanos sobre conflitos com morte em MS

Demarcação das terras está entre os pedidos

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Vitor foi enterrado na fazenda – Foto: Marcos Morandi

Petição em caráter urgente foi encaminhada à Comissão Interamericana de Direitos Humanos por representantes indígenas, que cobram medidas após conflitos registrados em Mato Grosso do Sul. Os confrontos entre indígenas e policiais terminou com a morte de Vitor Fernandes, 42 anos, no último dia 24 de junho em Amambai.

O pedido é assinado por membros da Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), Aty Guasu Guarani Kaiowá e Conectas Direitos Humanos. Foi feito requerimento de medida cautelar, para resguardar a vida e integridade das comunidades indígenas de Mato Grosso do Sul.

No registro, é citado que os conflitos em Amambai e também na região de Naviraí terminaram com um morto, 10 feridos e 3 desaparecidos. Sobre a ocupação em Amambai, é citado “No local existe conflito histórico de disputa territorial entre indígenas e fazendeiros, que tem se agravado pela atual política do presidente Jair Bolsonaro em não demarcar e não proteger as comunidades indígenas”.

Outras mortes em conflitos anteriores foram relembradas na petição. Os pedidos são para que sejam adotadas medidas para proteger a vida e integridade física dos indígenas de MS, também para conclusão da demarcação das terras indígenas, assegurar a investigação célere e completa dos fatos que deram origem à ação policial e também um pronunciamento da Comissão sobre os ocorridos.

Ritual de sepultamento por indígenas dura 7 dias

Indígenas da aldeia Amambai e retomada acompanham ritual
Indígenas da aldeia Amambai e retomada acompanham ritual (Foto: Marcos Morandi)

Com o sepultamento do indígena Vitor Fernandes, os indígenas da retomada Guapo’y Mirim Tujury, em Amambai deram início ao ritual fúnebre. As rezas devem durar 7 dias, segundo a tradição Guarani Kaiowá.

De acordo com informações das lideranças indígenas reunidas em Assembleia Aty Guassu, Vitor morreu em luta pela terra e seu espírito precisa descansar com todas as honras que são destinadas aos guerreiros. “Morreu pelo seu povo e deve ser recebido pelos nossos ancestrais que tanto lutaram pela posse dessa terra”, disse uma professora que acompanha o ritual à reportagem do Midiamax.

Segundo Avá Apyká Rendy, um dos líderes ouvidos pela reportagem do Midiamax no dia do sepultamento, além do elevado significado espiritual para a comunidade, todo o ritual religioso é movido pela luta em defesa da terra. “Ele tombou aqui, neste lugar que consideramos a nossa terra e também dos nossos [ancestrais] e aqui ficaremos em defesa da sua memória e do seu povo”, afirma a liderança indígena.

Questionado sobre as acusações de crimes praticados na aldeia, que chegaram a gerar situação de conflito interno repassado a órgãos estaduais e federais, Rendy alegou: “Nós somos famílias, temos filhos, netos, somos pessoas de paz, somos pessoas do bem. Tanto do outro lado, da mesma forma que vocês são pessoas do bem, nós somos pessoas do bem”.

“Somos Kaiowá, Guarani, legítimos da região desde a existência dessas terras. Quero informar que neste momento, quem nos acusa está mal informado a nosso respeito”, disse Rendy, ressaltado que os indígenas estão em vigília permanente durante esses dias que acontecem o ritual fúnebre.

Conflitos internos na aldeia

Durante o sepultamento do indígena Vitor Fernandes, que reuniu mais de 300 pessoas, as lideranças não pouparam o cacique da Aldeia Amambai, João Gauto. A reportagem apurou que Gauto já trabalhou para o proprietário da Fazenda Bordas da Mata.

Em conversa com lideranças que moram na Aldeia Amambai, a reportagem do Jornal Midiamax apurou que descontentamento contra o cacique é geral. Segundo eles, sua permanência no cargo é considerada ilegítima.

“Sabemos que ele deu todas as informações para os policiais e também para os seguranças privados que estavam na fazenda”, disse uma das fontes. Ainda de acordo com essas mesmas lideranças, passada a comoção do sepultamento de Vitor, serão tomadas as providências necessárias para que ele deixe o comando da aldeia.

“Diante de tudo que aconteceu, se ele não renunciar, nós [tomaremos] as providências que forem necessárias para que ele seja afastado”, disse uma professora que trabalha na aldeia. Gauto assinou e encaminhou pedidos de providências à Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública) e outros órgãos.

Segundo as peças, havia um grupo que estaria causando desordem na aldeia, andando com armas brancas e armas de fogo e querendo invadir as terras em situação de violência.

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