Peça-chave nas investigações que apuram a corrupção na Agepen e a influência de advogados supostamente ligados ao PCC (Primeiro Comando da Capital) no sistema prisional de , um dos alvos na Operação Courrier teria ‘assinado a sentença de morte', conforme temem colegas do preso.

O profissional se tornou pivô do escândalo, revelando esquemas de corrupção na Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário) com pagamento de propina para trocar presos de pavilhões, por exemplo.

Além disso, ele também ‘entregou' como funcionaria a ‘Sintonia dos Gravatas', como é chamado o grupo de advogados que trabalhariam para a facção criminal.

Assim, na análise de colegas, o advogado que continua detido, sob custódia em Mato Grosso do Sul, teria se tornado alvo para um atentado tanto por vingança, por parte do PCC, como para queima de arquivo por parte de servidores de diversos órgãos públicos de MS implicados na apuração.

Em conversas entre duas advogadas que supostamente fazem parte do grupo dos ‘gravatas', elas falam sobre o depoimento do colega na DEH (Delegacia Especializada de Homicídios) que cita o suposto esquema de corrupção na Agepen.

A defesa do advogado minimiza a preocupação das colegas. Segundo o advogado Flávio Oliveira de Moraes, que defende o suposto alvo, disse ao Jornal Midiamax, que nada de concreto foi relatado pelo cliente. “Ele está calmo e tranquilo”, diz Flávio com relação à postura do cliente sobre as acusações.

A defesa ainda disse que não entrou com pedido de revogação da prisão decretada no último dia 25 de março, já que espera que seja distribuída para a vara competente.

Pesquisa no Sigo após pressão na PCMS ser relatada em depoimento

O advogado mesmo procurou a delegacia após ser descoberto que tinha pesquisado o nome do titular da especializada por três vezes, logo depois de o delegado participar de uma audiência, onde relatava ‘pressões' após fazer parte da Força-Tarefa da Omertà.

Na audiência, o delegado da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul chega a afirmar que teria sofrido uma transferência após uma das abordagens que realizou contra suposto membro de organização criminal ter desagradado a cúpula da instituição policial.

Em uma das conversas, uma das advogadas revela que recebeu do servidor que havia fornecido as senhas para o advogado o depoimento em que o colega dizia que elas faziam parte do grupo ‘Sintonia dos Gravatas', além de entregar o alto comando que liderava em Mato Grosso do Sul.

“O cara decretou a morte dele……., procurando a polícia para entregar o PCC, Comando”. Em resposta, uma das advogadas disse que ficou em choque ao saber do conteúdo do depoimento do advogado, que foi descrito por ela como ‘guri doido'

Ainda nas conversas entre as advogadas, elas falam que o colega entregou Marcola, e toda a estrutura que implicaria complexo esquema de corrupção na Agepen e que acabou em deflagração de operações contra a facção criminosa.

O depoimento do advogado teria durado cerca de 33 minutos, e do servidor teria sido feito em 15 minutos. Ainda em investigações, foi descoberto o suposto esquema com propinas pagas para que detentos mudassem de cela, nos presídios. 

Corrupção na Agepen: propina para favorecer presos do ‘partido'

R$ 1,5 mil para trocar de pavilhão e R$ 6 mil para fraudar a ficha do detento. Esses são os preços cobrados pelos policiais penais pelos ‘serviços' ilegais, de acordo com o interno do presídio. Ele pedia ao advogado para mudar de cela e chegou a apontar qual policial penal recebia a propina.

Um dos agentes citados em vários trechos da investigação não teve a prisão preventiva decretada. Já outro está preso desde o dia da operação. “Cobrou 5k para levar um cara pro Penal”, disse o interno em uma mensagem, esclarecendo que a propina foi paga pelo detento, para garantir a transferência.

Sobre as denúncias feitas pelo advogado em relação à corrupção na Agepen, foi enviada nota ao Jornal Midiamax, que diz “a Agepen, por meio de sua Corregedoria-Geral, oficiou o GAECO no dia 29 de março, solicitando informações a respeito da operação e aguarda os encaminhamentos”.

‘Conversas soltas', diz defesa

Sobre as conversas rastreadas durante a investigação, a defesa alegou que não existem provas robustas contra o advogado peça-chave da operação e que seriam apenas conversas soltas. “Quem tem de provar se ele (advogado) está ou não envolvido é o MP (Ministério Público)”, disse. 

Esquema de execução de promotores x apoio bélico

O advogado peça-chave ainda teria entregado esquemas de planos de execução de autoridades em Mato Grosso do Sul, sendo que, entre elas, estava um dos promotores do Gaeco. ‘Barão da Cocaína', preso durante a deflagração da Operação Nevada, teria oferecido material bélico, com aporte de 159 armas, escondidas em uma fazenda para a execução dos homicídios e resgate de presos fora de Mato Grosso do Sul, com a captação de ‘material humano', em São Paulo, e Paraguai. 

Servidores ligados ao PCC

A operação do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) cumpriu mandados contra os advogados, um servidor do Poder Judiciário — ex-chefe de Cartório —, servidor da Defensoria Pública e também o policial penal. Outras pessoas também foram alvos em , Dourados, e Jaraguari.

Operação Courrier

A ação, denominada Courrier — correspondência —, cumpriu ao todo 38 mandados judiciais. Conforme o Gaeco, a operação mira o núcleo ‘Sintonia dos Gravatas', célula em que advogados usam de suas funções para transmitir recados aos faccionados presos, daí o nome da operação.

Ainda de acordo com o Gaeco, o grupo criminoso estaria articulando atentados contra a vida de agentes públicos, entre eles promotor do Gaeco e um juiz de Direito de Campo Grande. Um advogado foi preso no condomínio Acqua Verano, na Avenida Rachid Neder. Ele é defensor de um dos suspeitos de envolvimento na morte do garagista Carlos Reis Medeiros, conhecido como ‘Alma', que desapareceu no dia 30 de novembro de 2021.

Já na rua Sebastião Lima, na residência onde mora um casal, policiais cumpriram dois mandados, sendo um de busca e apreensão e um de prisão. Garras, Batalhão de Choque, Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) e Gisp (Gerência de Inteligência do Sistema Penitenciário) também atuam na operação.