‘Brutalidade incomum’: mesmo após morte, Priscila teve corpo espancado e queimado com marido
Quando presa, Grasiele disse que foi contratada por R$ 5 mil para fazer ‘serviço’
Thatiana Melo –
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‘Brutalidade incomum, sofrimento desnecessário’: assim foi descrita pelo MPMS (Ministério Público Estadual) a morte do casal Priscila Gonçalves Alves e Pedro Vilha Alta, que foram esquartejados e queimados, em agosto de 2021.
Pelo crime, três pessoas foram presas e um adolescente apreendido, no dia 15 de fevereiro deste ano, em Ribas do Rio Pardo. Grasiele Felix Ferreira foi presa junto de Ana Carla Pereira de Oliveira e Alexandre de Oliveira Gimenes, conhecido como ‘Acreano’. A denúncia do MP foi feita no dia 15 de março deste ano, para que todos passem pelo tribunal do júri pelos homicídios, tortura e ocultação de cadáver.
Quando presa em Ribas do Rio Pardo, no primeiro momento em depoimento gravado pelo delegado Carlos Delano, da DEH (Delegacia de Repressão aos Crimes de Homicídios), Grasiele negou ter participado do crime e disse que não sabia como o casal tinha sido assassinado, e que apenas sabia que seu namorado ‘Acreano’ estava envolvido. Ainda chegou a dizer que só foi embora de Campo Grande após o crime após ser ameaçada por Alexandre, que afirmava que mataria seu filho caso ela não fosse embora com ele.
Mas, já na Capital em um segundo depoimento, na DEH, revelou como se deram os fatos, dizendo que ajudou Ana Carla na morte de Priscila e que ‘Acreano’ foi quem matou Pedro. Os dois teriam sido contratados pelo valor de R$ 5 mil para fazer o ‘serviço’ para Ana Carla e seu marido, o adolescente de 17 anos, depois do casal ter a casa invadida várias vezes por Pedro e Priscila que furtavam seus objetos para trocar por drogas. Grasiele relatou que Ana Carla ficou por três semanas insistindo para que ela fizesse o ‘serviço’, mas ela sempre recusava. Ana chegou a dizer que o ‘dinheirinho’ ajudaria ela a ‘levantar’ seu barraco.
Foi armada uma ‘casinha’ para as vítimas que foram atraídas até a residência de ‘Acreano’ no dia do crime. Já na casa, Grasiele e Ana Carla ficaram com Priscila que teve os braços segurados por Grasiele e foi agredida por Ana, que depois passou um fio em volta de seu pescoço e passou a asfixiá-la até a sua morte. Mesmo depois de morta, Priscila teve o corpo espancado com tapas e socos, enquanto Ana dizia, “isso é para você aprender a não roubar”.
Já Pedro foi levado para fora da casa por ‘Acreano’, que momentos depois voltou com o rosto sujo de sangue. Enquanto o casal era assassinado, vizinhos, no dia seguinte, relataram barulhos de fogos e gritaria durante a madrugada. Os corpos foram levados do local em uma motocicleta, já que Alexandre não conseguiu nenhum carro emprestado para fazer o transporte. Eles já estavam com partes dos corpos esquartejados colocadas em sacos pretos e depois foram desovadas às margens da BR-163.
‘Brutalidade incomum’
Na denúncia, o MPMS relata a ‘brutalidade incomum’ dos autores do crime contra as vítimas, submetidas a um sofrimento desnecessário durante a tortura e morte. É relatado que houve práticas de ações violentas que antecederam a morte com esquartejamento e carbonização dos corpos.
Investigações
Durante as investigações feitas pela DEH, os últimos passos de Pedro foram traçados com base na tornozeleira eletrônica que ele usava encontrada queimada no local. Na área de invasão, onde moravam, foram encontrados resquícios da fogueira onde os corpos foram queimados. Na época, duas pessoas chegaram a ser presas, mãe e filho, após ameaças enviadas por eles ao celular das vítimas. Eles também tiveram a casa roubada por Pedro e Priscila. Entretanto, foram soltos, já que não tinham envolvimento no crime.
Quando preso, ‘Acreano’ negou participação nos assassinatos em depoimento e disse que havia fugido para Ribas do Rio Pardo por estar em ‘quebra’ do sistema prisional. Mas, a sua participação nos homicídios acabou comprovada pela polícia, assim como do casal Ana Carla e do adolescente.
Desaparecimento e ‘micro-ondas’
O casal desapareceu por volta das 2 horas da madrugada do dia 15 de agosto, quando saiu de casa jogando as chaves por debaixo da porta. No registro da ocorrência por desaparecimento, familiares informaram que eles eram dependentes químicos e que tinham problemas com traficantes da região, que não gostavam deles, mas que não estariam envolvidos com facção criminosa.
Ainda segundo o registro, o casal não trabalhava e recebia ajuda do governo. Pedro usava tornozeleira eletrônica. Mesmo afirmando que não sabiam de participação dos dois com facções, familiares disseram que eles poderiam ter se envolvido de alguma forma com facções criminosas. O casal deixa duas filhas.
O crime
Na época, o delegado Nilson Friedrich, da 4ª Delegacia de Polícia Civil, que atendeu o local do crime, disse que o modo que os corpos foram encontrados esquartejados, sem cabeças e dispostos em sacos de lixo e espalhados pela região, é o mesmo como operam facções criminosas. Um dos corpos foi encontrado envolto em pneus queimados, em uma execução conhecida como ‘micro-ondas’, quando a pessoa é queimada dessa forma.
Os cortes nos corpos foram feitos com faca, mas nenhuma arma foi encontrada no local. A mão da mulher estava quase intacta, o que facilitou a identificação. Para a polícia, a suspeita é de que o incêndio, que teria começado no dia 15 de agosto, foi criminoso.
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