Após relato de escala ‘apertada' dos policiais militares de Campo Grande, bombeiros também denunciaram que têm sofrido com o mesmo problema. A escala, que deveria ser de 24 horas de trabalho para 72 horas de descanso, atualmente teria caído para 48 horas de descanso.

No entanto, o que os militares alegam é que novos bombeiros formados estariam em serviço interno, sendo que poderiam aliviar a escala se estivessem nas ruas.

Ao Jornal Midiamax, o relato foi de que os 39 soldados formados desde o dia 28 de março, ou seja, há um mês, ainda estariam fazendo serviços administrativos e limpando a academia, ao invés de já prestarem serviços nas ruas e nos quartéis.

Caso estivessem nas outras atividades, ajudariam, em tese, a aliviar a sobrecarga na escala para os demais integrantes da corporação. “Está puxado. Se viessem para a rua, a escala voltava para 72 horas”, lamentou um militar, que não será identificado.

O relato foi feito um dia após o registro de um estudo protocolado pela Aspra-MS (Associação de Praças da Polícia Militar e Corpo de Bombeiro Militar de Mato Grosso do Sul) junto ao Comando-Geral da Polícia Militar, sobre a escala dos policiais. Conforme o diretor jurídico da associação, sargento Haynan, as também chegaram ao setor.

Com isso, também será feito estudo sobre a escala dos bombeiros militares.

O que diz a corporação

Em resposta, o informou que os militares formados já estão servindo a comunidade, atualmente trabalhando temporariamente nas funções administrativas.

As carreiras militares são regidas por princípios de hierarquia e disciplina, no que tange movimentação e lotação desses profissionais prevalece, além do interesse público fundamentado, a hierarquia entre os integrantes da força”, diz a nota.

Neste sentido, estão em fase de processamento as movimentações de militares hierarquicamente superiores aos recém-formados, as quais impactam a disponibilidade de vagas dos mais modernos. A atual fase de planejamento e movimentações contempla ainda militares que formarão e ascenderão à graduação de 3º Sargento Bombeiro Militar ao final do mês de junho”.

É relatado que as funções desempenhadas, os prazos e princípios aplicados estão de acordo com as previsões legais e normativas.

Escala apertada

O estudo protocolado pela Aspra-MS apresenta diversos pontos negativos da nova escala (12×24 12×48), sendo os principais: o dobro de deslocamentos às unidades, gasto dobrado com combustíveis, maior quantidade de horas extras, troca de serviço noturno desfavorável ao policiamento (em horário de grande fluxo de ocorrências).

No mesmo estudo, consta referência médica sobre os impactos que o ciclo de trabalho da nova escala podem desencadear no indivíduo, devido ao rompimento do ritmo biológico (ciclo circadiano) responsável, entre outras coisas, pela má qualidade do sono o que dispara um perigoso gatilho para o desenvolvimento de uma série de síndromes metabólicas, neurológicas e psicológicas.

O principal destes distúrbios chama-se Síndrome do Trabalhador em Turno. O sintoma mais frequente é um período misto de insônia e sonolência, diminuindo a vivacidade e o desempenho, acarretando assim maiores perigos, chegando a dobrar o risco de acidente fatal no trabalho.

Além do Comando Geral da PMMS, o mesmo estudo foi protocolado junto ao Gabinete dos Deputados Cel Davi e Barbosinha. Uma cópia também foi encaminha ao secretário de Justiça e Segurança Pública, Antônio Carlos Videira.

A Aspra ainda alegou que, desde dezembro de 2021, tenta expediente com o comando, no sentido de retornar a escala de 24 horas, mas ainda não teve retorno. Em última reunião com o comandante geral, teria sido mencionada a possibilidade de se criar uma comissão, com a devida participação das associações, para que o tema escala de serviço fosse estudado, porém até este momento nada foi feito a respeito.

Operação Hefesto

Em julho de 2021 foi deflagrada a Operação Hefesto, do Corpo de Bombeiros, para combate aos incêndios na região do Pantanal. Naquela época, várias denúncias e reclamações foram feitas sobre suposto autoritarismo.

Dois áudios atribuídos a um oficial dos bombeiros, e que também circulavam nas redes, rebatiam as reclamações dos militares. “Senhores, boa tarde. Aos comandantes noticiem seus militares que militar não tem , militar tem licenciamento. Noticiem o que se for necessário cair a escala de 24h/48h a escala vai cair. Se tiver que cair de 24h/24h vai cair. É assim que é nossa profissão. Se não fizeram antes vai ser feito agora.”

No áudio seguinte, o oficial pedia para que o primeiro fosse desconsiderado, pelo equívoco de que o militar tem sim o direito à folga e também o licenciamento.