Neste sábado (3) completa-se um ano de que o corpo da jovem Carla Santana Magalhães foi encontrado na esquina da casa dela. Mais do que uma das 39 vítimas de feminicídio durante o ano de 2020, Carla tem uma família que ainda busca por respostas para o crime que assustou Campo Grande. Numa manhã fria de julho, o corpo da estudante de e Urbanismo foi encontrado com sinais de violência doméstica três dias após o desaparecimento.

Evanir Santana Magalhães, de 59 anos, tinha quatro filhos, incluindo Carla, sendo dois homens e duas mulheres. Contudo, mesmo um ano após a partida da caçula, o quarto onde a jovem dormia permanece intacto. “O quarto dela é o ligar que me sinto melhor. Sei que ela não vai voltar, tenho consciência disso, mas é um lugar que me sinto segura”, afirma.

O álbum de foto da filha, junto aos sobrinhos dela, é usado pela mãe para diminuir a saudade. “Tem dias que eu choro, vou para lá [para o quarto] e começo a olhar o álbum de fotos”. Apesar de terem aprendido a lidar com o luto, a família não está recuperada do trauma que foi encontrar Carla na esquina de casa.

“É complicado, porque não é fácil perder uma filha do jeito que eu perdi. Estou tentando ficar em pé e não é todo dia que consigo”, relata Evanir. Junto a Carlos Magalhães, pai de Carla, ela pretende assistir ao julgamento de Marcos André Vilalba, réu confesso pelo assassinato de Carla.

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Evanir, mãe de Carla. (Foto: Henrique Arakaki/ Arquivo)

Espera pelo julgamento

Os dois esperam que o julgamento aconteça ainda no mês de agosto, uma vez que a data definida anteriormente pelo juiz Aluízio Pereira dos Santos, da 2ª Vara do Tribunal do Júri, era 7 de abril deste ano. A defesa entrou com recurso para modificar as qualificadoras do homicídio. Os recursos não foram aceitos em primeiro ou segundo grau, mas a nova data ainda não foi estabelecida.

O pai de Carla, que reside em Porto Murtinho, a 454 km da Capital, afirma que pretende comparecer ao julgamento e se desloca periodicamente para Campo Grande, para prestar apoio à família. “Vou me programar para estar na cidade quando acontecer, quero ver pessoalmente. Fiquei lá [em Campo Grande] mês passado, fico um mês lá, outro aqui, e vou levando”, afirma.

O julgamento é esperado pela família como uma nova força para seguir em frente. “Eu sei que ela não vai voltar, mas pelo menos sei que ele vai ser julgado e condenado”, desabafa Evanir.

Acusado surpreendeu até a polícia

No dia 14 de julho, 11 dias após o corpo de Carla ter sido encontrado na esquina de sua casa, Marcos André teve a prisão preventiva decretada. Atualmente, ele segue cumprindo a pena em regime fechado no Presídio de Trânsito, na Capital, ocupando uma cela no pavilhão para detentos que respondem por crimes sexuais.

De acordo com o delegado Carlos Delano, da DEH (Delegacia Especializada em Homicídios), que conduziu as investigações, Marcos André não era, de início, o principal suspeito pela morte de Carla. Com dificuldades para expressar o motivo de ter cometido os crimes, ele chegou a prestar depoimento às equipes de investigações pelo menos três vezes, ainda durante os exames periciais.

“Nenhum homicídio deixa de ter motivação, sempre tem um relacionamento, mesmo que breve, que é determinante para o executar a vítima. Depois da confirmação dele como autor, ele explicou que ficou realmente chateado por não ter sido cumprimentado pela Carla, e isso foi a semente para o assassinato”, explica Delano.

Ainda segundo o delegado, Marcos André passou a ser o principal suspeito após ser abordado por policiais do BPMChoque (Batalhão de Choque da Polícia Militar), que avistou o homem em atitude suspeita na esquina de sua residência – local onde Carla foi encontrada – como se analisasse o local.

“O Choque abordou ele nas proximidades da casa e lá encontraram marcas de sangue. Na manhã seguinte, fomos até o local e conversamos com ele novamente, foi quando ele confessou ter matado a Carla”, relata.

A princípio, Marcos André, assim como outros vizinhos, foram ouvidos como testemunhas, para contribuírem com possíveis pistas na investigação policial. “Na primeira vez depois de confessar ele não quis falar muito, depois do primeiro exame de corpo de delito ele contou mais um pouco, e na sequência confessou os outros crimes”, finaliza o delegado.

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(Foto: Henrique Arakaki/ Arquivo Midiamax)

Relembre o caso

No dia 30 de junho e 2020, por volta das 19 horas, Carla foi raptada por Marcos na Rua Nova Tiradentes, no Tiradentes, onde ela e o autor moravam. Eles eram vizinhos e a vítima foi imobilizada pelo réu com um ‘mata leão'. Após o golpe aplicado pelo rapaz, Carla desmaiou e foi levada para dentro da residência dele.

Segundo a denúncia, Marcos deu golpes de faca no pescoço de Carla e ainda fez um corte profundo. Após a morte da vítima, o acusado ainda vilipendiou o cadáver, praticando sexo com a vítima morta. Ainda consta nos autos que o crime foi praticado por Marcos sob alegação de que no dia anterior Carla o teria ignorado quando foi cumprimentada por ele.

Após os crimes, Marcos deixou o corpo de Carla escondido embaixo da cama por três dias, até que levou a vítima para uma conveniência, na esquina. Foi no início da manhã daquele dia 3 de julho que parentes de Carla que saíam para trabalhar encontraram a vítima. Com o corte profundo no pescoço e sem as roupas, Carla foi encontrada morta.

Após as investigações, Marcos foi preso por equipes da DEH (Delegacia Especializada de Homicídios) duas semanas após o crime, com apoio do Batalhão de Choque.