Índios relatam ataque em Coronel Sapucaia e criança está desaparecida

Kurussu Ambá é dividida em três acampamentos

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Kurussu Ambá é dividida em três acampamentos

A terra reivindicada como tradicional dos kaiowá e guarani, Kurussu Ambá, na região de Coronel Sapucaia, distante cerca de 420 quilômetros de Campo Grande, foi atacada a tiros durante a noite de terça-feira (12), conforme relataram lideranças indígenas do local. Kurussu Ambá é dividida em três acampamentos, e o terceiro teria sofrido o ataque.

Gilmar, umas da lideranças, contou que os tiros começaram por volta das 21h. Durante o tiroteio, que não atingiu nenhum dos indígenas, as crianças teriam corrido para as matas em volta do território, e uma delas ainda está desaparecida. “O pessoal atirava, eles estava andando tudo a pé, e as crianças esconderam tudo, mãe e pai foi procurar e ainda não encontrou, uma jovem foi machucada na perna, porque correu, e caiu em um buraco”, explicou.

De acordo com ele, os atiradores estavam a pé, e eram “muitos”, mas Gilmar não mensurou um número exato. “Tem muito, eles andavam aqui, no limite, na aldeia. A noite as crianças choravam muito, no momento tava chovendo também, idoso tem idade, não tem jeito de andar, de correr”, contou, preocupado.

Gilmar teria acionado a Funai (Fundação nacional do índio), mas não conseguiu contato. Pela manhã, a coordenadora em exercício da Funai em Ponta Porã, Claudia Pereira informou que conversou com a comunidade. “Então, na verdade eu acabei de falar com ele [Gilmar], só me relatou que teve tiro a noite, não nos comunicamos durante a noite, fizemos ofício solicitando a polícia, pra ter uma ronda, fazendo uma inibição, controle efetivo a gente não consegue fazer”, afirmou.

A polícia federal de Ponta Porã, no entanto, não sabia do ataque. O agende federal Miguel Peterson declarou nessa manhã que “até agora não sabemos de nada”. A coordenadora explicou que a Funai elaborou um documento com o objetivo de pedir maior fluxo da polícia e de forças responsáveis pela proteção aos indígenas, na tentativa de inibir possíveis ataques.

“Vem acontecendo já tem tempo, já tem umas duas semanas que fizemos esse documento, no final de junho, encaminhamos para o Ministério da Justiça, Sejusp [Secretaria do estado de justiça e segurança pública] e para o Ministério Público Federal. Na verdade ainda nem passaram para as polícias ainda, a gente ainda não teve retorno”, explicou Claudia.

 

Crianças em Kurussu Ambá (divulgação)

 

O início de 2016 foi marcado por ataques à Kurussu Ambá. Em janeiro o acampamento 3 foi incendiado e os kaiowá perderam roupas, alimentos e barracos de lona. No mesmo período os indígenas também relataram a presença constante de homens armados no perímetro que cerca os três acampamentos.

A “retomada” de Kurussu Ambá é do ano de 2007. A comunidade fica há cerca de 40 quilômetros do município de Coronel Sapucaia. Outro problema da área, é a contaminação por agrotóxicos. A comunidade relata que as crianças adoecem e muitas vezes chegam a falecer sem socorro médico.

O acampamento 2 já foi considerado de posse plena indígena pelo Supremo Tribunal Federal, mas os estudos antropológicos ainda estão em andamento. Quatro lideranças já foram assassinadas em ataques. Os outros territórios pertencentes ao tekoha, lugar onde se é, ainda tramitam na justiça. O relatório técnico antropológico foi entregue somente em dezembro de 2012, e aguarda aprovação da Funai (Fundação nacional do índio) de Brasília.